quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Israel e Palestina: Origem, Sionismo e Conflito

 Israel e Palestina: Origem, Sionismo e Conflito




A formação da terra atualmente chamada Israel é resultado de uma longa e complexa história, marcada por transformações políticas, influências externas, invenções ideológicas e disputas territoriais que remontam à Antiguidade e chegam até os conflitos contemporâneos.


Antigamente, a região que hoje compreende Israel era conhecida por nomes variados – Canaã, depois Judeia, Palestina – e sempre foi habitada por diferentes povos. O território era integrado por populações indígenas, com múltiplas identidades étnicas e religiosas, e esteve, ao longo de séculos, sob o controle de egípcios, babilônios, persas, gregos, romanos e outros. Não existia essa delimitação contemporânea chamada “terra de Israel” como uma unidade política ou pátria nacional. O nome “Terra de Israel”, tal como é compreendido atualmente, foi sendo inventado e propagado ao longo dos séculos por necessidade de construção de uma identidade nacional, e não como reflexo de uma continuidade histórica real.


Os textos antigos, como a Bíblia, são frequentemente utilizados para criar uma narrativa de direito histórico ao território. No entanto, diversas pesquisas históricas e arqueológicas apontam que a ideia de uma posse contínua, ou mesmo de uma conexão ininterrupta do povo que passou a ser chamado judeu com aquele solo, é uma construção posterior. O próprio conceito de “povo judeu” como um grupo étnico e nacional foi gradualmente estabelecido, principalmente após exílios e dispersões causadas por potências estrangeiras. Muitos dos relatos bíblicos sobre conquistas e expulsões de povos locais não encontram respaldo histórico ou arqueológico. Além disso, grande parte dos judeus da Antiguidade desenvolveu suas vidas em outros centros, como Babilônia e Egito, e a migração para a “Terra Santa” foi um fenômeno pequeno diante da vasta diáspora judaica.


Ao longo da Idade Média e do período moderno, a Terra passou a ser ainda mais plural, abrigando judeus, cristãos e muçulmanos, além de outros grupos. A maior parte desses habitantes não aspirava a retornar à terra de seus ancestrais; aliás, o próprio conceito de pátria nacional só ganhou força na Europa a partir do século XVIII, com o advento dos nacionalismos modernos.


O cenário mudou drasticamente com o surgimento do movimento sionista no final do século XIX. Inspirados pelos ventos do nacionalismo europeu e diante do recrudescimento de perseguições antissemitas, os sionistas — um grupo inicialmente pequeno, mas muito articulado — passaram a idealizar o retorno à terra bíblica para fundar um Estado judaico. Esse projeto encontrou resistência das populações locais, que haviam vivido ali por muitos séculos, mas acabou ganhando força especialmente após a Primeira e Segunda Guerras Mundiais e com apoio internacional, culminando na Partilha da Palestina aprovada pela ONU em 1947.


O Estado de Israel foi oficialmente estabelecido em 1948, após intensas pressões políticas e lobby internacional, movimentados em grande parte pelos sionistas, em um processo marcado por expulsões de populações palestinas, guerras com países vizinhos e a negação do direito à autodeterminação dos povos que já habitavam a região. Os palestinos viram sua terra transformada, em parte, em um novo Estado sem que tivessem voz nesse processo. Inicialmente, havia um acordo de dois Estados: um judeu e outro árabe-palestino, mas apenas o primeiro saiu do papel; os palestinos, apesar de terem habitado e cultivado a terra durante milênios, ainda aguardam pelo reconhecimento pleno de seu Estado.


Durante as décadas seguintes, Israel foi expandindo seu território, mediante guerras e ocupações. A cidade de Jerusalém – tida como capital espiritual pelas três grandes religiões abraâmicas – deveria ser uma cidade internacional, conforme as resoluções originais da ONU, mas foi progressivamente anexada por Israel. Enquanto isso, o espírito original de convivência, registrado inclusive por quem viveu na região nas décadas anteriores, deu lugar ao aprofundamento dos conflitos. Buscavam-se soluções políticas que envolvessem convívio e respeito mútuo, mas as ações de grupos nacionalistas radicais — incluindo setores sionistas — foram tornando quase inalcançável o cenário de cooperação que um dia existiu.


Ao longo de todo esse percurso, a narrativa religiosa e o apelo ao direito divino do território foram utilizados, muitas vezes, como justificativa política – não como representação fiel da história da região. Movimentos religiosos cristãos e grupos fundamentalistas passaram a apoiar incondicionalmente o Estado de Israel, ignorando as próprias mensagens universais e críticas de figuras como Jesus, que deslegitimava qualquer sacralização exclusiva daquele solo e deslocava o eixo da fé para todas as pessoas e lugares.


Hoje, a maior parte dos judeus do mundo não reside em Israel nem manifesta desejo de fazê-lo. O modelo de apropriação territorial, fundado em mitos e tradições reinterpretadas, acabou servindo não só para legitimar a presença nacional de Israel, mas para marginalizar a população palestina e gerar um regime de segregação. As fronteiras atuais de Israel são resultado de uma combinação de interesses geopolíticos modernos, negociações diplomáticas, pressões religiosas e, sobretudo, do movimento sionista, com consequências humanitárias profundas para toda a população local.


A compreensão crítica dessa história exige olhar para além dos mitos consolidados, enxergando a terra como espaço habitado historicamente por múltiplos povos. Só assim é possível compreender as raízes do conflito e buscar soluções que respeitem a dignidade de todos que nela vivem, sem idolatrar mitos construídos em detrimento de direitos humanos e convivência pacífica.

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