sábado, 19 de abril de 2025

Masturbação e Levíticos 15

   




      No vídeo intitulado "CRENTE e garota de CONTEÚDO ADULTO jogam VERDADE OU DESAFIO", encontramos, de um lado, cristãos, filhos da herança maldita de Constantino, e do outro, as prostitutas virtuais. Em meio às perguntas e respostas, um cristão menciona que, em Levíticos 15, Deus fulminou um dos filhos de Judá, pois "praticava masturbação", e que isso era um pecado, e por isso, ele não faz certa coisa. Mas será mesmo que isso procede? Ou é só mais uma deturpação do falso moralismo cristão?


𝘾𝙤𝙣𝙩𝙚𝙭𝙩𝙤


  O capítulo 15 trata das leis de pureza relacionadas a descargas corporais, tanto para homens quanto para mulheres, e não menciona especificamente a masturbação. O capítulo estabelece regras de pureza ritual para descargas corporais, incluindo fluxos anormais e normais de ambos os sexos. O objetivo é manter a santidade e a pureza do acampamento israelita e prevenir a contaminação do santuário. Essas leis foram dadas a Moisés e Arão para orientar os israelitas em questões de pureza física, simbolizando a pureza espiritual e a separação do pecado.


  Os versos 1-12, trata de descargas anormais em homens, classificando-os como impuros e prescrevendo métodos de purificação.


 Verso 16: "וְאִ֕ישׁ כִּֽי־תֵצֵ֥א מִמֶּ֖נּוּ שִׁכְבַת־זָ֑רַע וְרָחַ֥ץ בַּמַּ֛יִם אֶת־כָּל־בְּשָׂר֖וֹ וְטָמֵ֥א עַד־הָעָֽרֶב׃" (Lev. 15:16 BHS)

Tradução: "E quando um homem tiver uma emissão seminal, lavará todo o seu corpo com água e será impuro até à tarde."


Verso 18: "וְאִשָּׁ֕ה אֲשֶׁ֙ר יִשְׁכַּ֥ב אִ֛ישׁ אֹתָ֖הּ שִׁכְבַת־זָ֑רַע וְרָחֲצ֣וּ בַמַּ֔יִם וְטָמְא֖וּ עַד־הָעָֽרֶב׃" (Lev. 15:18 BHS)

Tradução: "E se um homem tiver relações sexuais com uma mulher e houver uma emissão de sêmen, ambos se lavarão com água e serão impuros até à tarde."


   Levítico 15:16-18 aborda emissões normais de sêmen, tanto em contextos de masturbação quanto de relações sexuais. O texto não classifica essas práticas como pecaminosas, mas estabelece que a emissão resulta em impureza ritual temporária, exigindo lavagem e um período de impureza até o pôr do sol.

   Os primeiros versículos lidam com descargas anormais e doenças, como secreções contínuas, que resultam em impureza até que a condição cesse e sejam realizados os rituais de purificação.

   A menção à emissão de sêmen (verso 16) pode ser interpretada como incluindo masturbação, mas a ênfase está na impureza ritual e não no ato ser pecaminoso. A ideia de que Deus fulminou alguém por masturbação não está presente em Levítico 15. A punição mencionada no vídeo é uma interpretação errônea ou uma extrapolação de outras passagens bíblicas (como a história de Onã em Gênesis 38, que é um contexto diferente e tem a ver com a desobediência a um mandamento específico, não com a masturbação em si).


𝙈𝙤𝙧𝙖𝙡 𝙤𝙪 𝙧𝙞𝙩𝙪𝙖𝙡?


  Um ponto crucial a se entender, é que a ênfase está na transmissão de contágio de uma pessoa para outra. A contaminação pode ocorrer de diversas maneiras, como sentar-se em objetos contaminados ou ter contato direto. Isso reforça a ideia de que a impureza mencionada em Levítico 15 está mais associada à contaminação ritual do que a um pecado moral.

   "Impuro" não é sinônimo de "pecaminoso". As leis de pureza têm mais a ver com o que é permitido em termos de ritual e prática religiosa do que com julgamentos morais sobre os atos em si. A reprodução e as funções corporais associadas são vistas como parte da boa criação original, apesar dos danos causados pela queda de Adão.


   A análise dos termos hebraicos utilizados em Levítico 15 também é esclarecedora. O termo "basar" (בָּשָׂר), traduzido como "corpo" ou "carne", é usado eufemisticamente para se referir aos órgãos genitais masculinos e femininos. Isso demonstra que as leis de pureza são específicas para descargas genitais, mas não condenam moralmente a masturbação.


𝙄𝙢𝙥𝙡𝙞𝙘𝙖𝙘̧𝙤̃𝙚𝙨 𝙥𝙖𝙧𝙖 𝙤𝙨 𝙙𝙞𝙖𝙨 𝙖𝙩𝙪𝙖𝙞𝙨


  Além do mais, se considerássemos Levítico 15 necessário nos dias atuais, as implicações seriam vastas e impactariam várias áreas da vida cotidiana. Se os cristãos de hoje decidissem seguir o capítulo inteiro de Levítico 15 à risca, várias práticas e comportamentos precisariam ser ajustados para se alinharem às regras de pureza descritas.

   Após qualquer contato com descargas corporais, os cristãos teriam que lavar suas roupas e tomar banho, garantindo que permanecessem impuros até o pôr do sol. Isso incluiria situações como emissões de sêmen, menstruação e outras descargas. Nunca fiquei sabendo que um casal cristão depois do sexo permaneceram impuros até o pôr do sol.

   Pessoas consideradas impuras precisariam se isolar temporariamente para evitar a contaminação de outras pessoas e objetos. Isso resultaria em períodos regulares de afastamento de atividades sociais e religiosas. Os cristãos, por um acaso, se isolam temporariamente? 

   O pior disso, seria que as pessoas poderiam experimentar sentimentos de vergonha ou culpa devido à impureza temporária. Seria crucial fornecer apoio emocional e espiritual para ajudar os indivíduos a entenderem que a impureza ritual não está ligada ao caráter moral. E o que vemos nas denominações religiosas até hoje é exatamente o contrário.


𝘾𝙤𝙣𝙛𝙪𝙨𝙖̃𝙤 𝙘𝙤𝙢 𝙂𝙚̂𝙣𝙚𝙨𝙞𝙨 𝟯𝟴?


A passagem mais frequentemente mencionada em discussões sobre a questão da masturbação é Gênesis 38:1-10, a história de Onã. Talvez o cristão do vídeo confundiu Levíticos 15 com este texto. 


  Na história de Onã, ele é instruído por seu pai, Judá, a cumprir a lei do levirato, casando-se com Tamar, a viúva de seu irmão Er, para gerar descendência em nome do irmão falecido. Onã, no entanto, praticava coito interrompido, derramando o sêmen no chão para evitar dar filhos a seu irmão. Sua ação foi vista como egoísta e desobediente, o que desagradou ao Senhor, resultando em sua morte.

  A condenação de Onã está relacionada à sua recusa em cumprir a obrigação familiar e social de gerar descendência para seu irmão, e não especificamente ao ato físico de derramar o sêmen no chão. Portanto, a história de Onã é mais sobre responsabilidade e desobediência do que sobre masturbação em si.

  A prática de Onã não era simplesmente uma questão de coito interrompido; tratava-se de desobedecer a uma obrigação familiar e social importante na cultura hebraica. Ele recusou-se a cumprir seu dever de irmão levirato, o que foi visto como um ato de egoísmo e desonra, e foi considerado perverso aos olhos de Deus.

  A reação inicial de Judá em ordenar a execução de Tamar por fornicação reflete os padrões morais e legais da época. No entanto, quando Judá reconhece os itens que deu a Tamar, admite que ela é mais justa do que ele, pois falhou em cumprir sua promessa de dar Selá a ela.

  Esta passagem destaca a importância das leis de levirato na preservação da linhagem familiar e a responsabilidade que os irmãos tinham em manter a continuidade da família. Também revela as complexidades morais e sociais envolvidas nas práticas familiares da época.

  Em resumo, a história de Judá e Tamar não trata de masturbação, mas sim de responsabilidade familiar, justiça e as consequências de ações egoístas. Onã foi punido não pelo ato físico em si, mas por sua recusa em cumprir sua obrigação de levirato e pelo egoísmo demonstrado.


𝘾𝙤𝙣𝙘𝙡𝙪𝙨𝙖̃𝙤


Em suma, Levítico 15 não apoia a alegação de que Deus fulminou alguém por masturbação. O capítulo aborda a manutenção da pureza ritual e não a condenação moral de práticas como a masturbação. A interpretação do cristão no vídeo é uma deturpação do verdadeiro propósito das escrituras.

  A alegação de que Deus fulminou alguém por masturbação é uma interpretação equivocada e descontextualizada das escrituras. A história de Onã, frequentemente citada nesses debates, na verdade trata da recusa de Onã em cumprir a lei do levirato, um ato de desobediência e egoísmo que resultou em sua morte. Onã foi punido por não cumprir sua responsabilidade familiar e social, e não especificamente por qualquer prática sexual.

  Portanto, Levítico 15 deve ser entendido como um conjunto de leis destinadas a regular a pureza ritual e a higiene, sem condenar práticas específicas como a masturbação. A interpretação correta das Escrituras exige um exame cuidadoso do contexto e das intenções originais do texto, evitando julgamentos morais baseados em leituras descontextualizadas.

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