Resposta ao vídeo : “(refutando o Sono da alma )Mateus 10:28!”
O apresentador argumenta que "ψυχή" (psuchē) deve ser traduzido exclusivamente como "alma imortal", baseando-se na flexibilidade semântica da palavra. No entanto, é crucial observar que "ψυχή" também pode ser traduzido como "vida" ou "pessoa", dependendo do contexto.
Além disso, a palavra "ψυχή" é usada em diversos contextos bíblicos para se referir à totalidade do ser humano, incluindo aspectos físicos e espirituais. Por exemplo, em Mateus 16:25, "ψυχή" é traduzido como "vida", indicando que a palavra pode abranger o conceito de vida humana em sua totalidade, não necessariamente implicando em uma alma imortal separada do corpo.
“Ora, como pode-se matar o corpo e ainda restar a vida física?”
Essa pergunta parte de uma suposição dualista incorreta. O ser humano é uma unidade indivisível de corpo e vida (nefesh/psuchē), não uma alma separada que sobrevive ao corpo. Quando Jesus diz "não podem matar a alma (ψυχή)", Ele não está dizendo que a alma é uma entidade imortal, mas está contrastando o poder limitado dos homens (que só podem tirar a vida presente, física) com o poder divino de destruir completamente o ser humano (vida + corpo) na geena, ou seja, numa morte final, eterna e irreversível (aniquilação).
“Restar a vida física” não é o que o texto diz. A "vida" ou "alma" (psuchē) aqui significa a totalidade da existência que Deus pode preservar ou destruir no juízo. Ou seja, a vida futura, não uma alma imortal sobrevivente da morte. O contraste é entre morte temporária (a que homens podem causar) e morte final/segunda morte (a que Deus pode causar).
“Como pode destruir ambos na geena, se corpo e alma (vida) são a mesma realidade na concepção teológica dos que defendem o sono da alma?”
Essa pergunta parte de uma confusão conceitual e um equívoco sobre a visão holista. De fato, como defensores do holismo bíblico, não dizemos que "corpo" e "alma" são a mesma coisa, mas sim que o ser humano é uma unidade psicofísica — ou seja, a “alma” é o resultado da união entre corpo + fôlego de vida (Gênesis 2:7).
Portanto, quando Jesus diz que Deus pode destruir “alma e corpo na geena” (Mateus 10:28), Ele está afirmando que Deus tem o poder de aniquilar totalmente a pessoa humana, em sua totalidade: física e existencial. Isso não exige uma separação substancial entre alma e corpo, mas apenas reconhece que a destruição final é completa, não parcial.
Em palavras mais simples: "Não temam os que podem matar vocês fisicamente. Temam Aquele que pode acabar com sua existência completa e definitiva no juízo."
Jesus usa uma linguagem dual ("corpo e alma") para ressaltar a totalidade do ser humano, mas isso não implica dualismo ontológico (alma separada e imortal), apenas reforça a soberania divina sobre toda a vida, inclusive no pós-ressurreição.
“Como pode o morto continuar respirando, não é mesmo?”
Exatamente, não pode. E isso confirma a visão mortalista do texto! O autor do vídeo tenta ironizar, mas acaba reforçando a base escriturística do sono da alma: quando o corpo morre, a respiração (ruach/pnoē) cessa, e o ser humano deixa de existir conscientemente (cf. Eclesiastes 9:5, 10; Salmo 146:4).
O erro do argumento dele é pressupor que a “alma” continua respirando — o que nem o texto grego nem a tradição hebraica apoiam. Em Gênesis 2:7, o “fôlego de vida” entra no corpo e forma o “ser vivente” (nefesh chayah). A vida é uma condição que depende da união entre corpo e fôlego de Deus, e não algo que existe por si só. Quando esse fôlego sai, o ser morre por completo.
O apresentador sugere que a distinção entre "σῶμα" (soma) e "ψυχή" (psuchē) implica em uma separação entre corpo e alma. No entanto, essa interpretação pode ser questionada à luz de outras passagens bíblicas que indicam uma visão holística do ser humano.
Por exemplo, em Mateus 10:28, Jesus fala sobre o corpo e a alma, mas isso não implica necessariamente em uma separação entre eles. A ênfase está na autoridade de Deus sobre ambos, e não na natureza imortal da alma.
“Mas como ele (Deus) pode destruir na geena o corpo e a vida (ou alma), se segundo o sono da alma, só o corpo vai para a geena?”
Essa objeção baseia-se em um espantalho da doutrina do sono da alma. O que Jesus ensina em Mateus 10:28 é que Deus pode aniquilar completamente o ser humano, corpo e vida, no julgamento final. Não há aqui uma defesa do tormento eterno nem da imortalidade da alma.
Na morte o ser humano deixa de existir em qualquer forma consciente, e na ressurreição, Deus trará de volta à existência os ímpios para juízo, e os destruirá definitivamente na geena (cf. Malaquias 4:1–3; Mateus 10:28; Apocalipse 20:14–15). A destruição é total, final, e envolve o ser completo — corpo e “alma” (vida).
Ou seja, Jesus está dizendo: "Temam Aquele que tem poder para aniquilar a existência completa do ser humano — não só matando fisicamente como os homens podem fazer, mas removendo a vida de forma irreversível no juízo final."
O autor do vídeo interpreta “ψυχή” com pressupostos platônicos (dualistas), ignorando o uso hebraico e veterotestamentário de "nephesh" e "ruach", que formam a base conceitual da antropologia bíblica.
A separação entre corpo e alma não é bíblica — é uma influência grega sobre o pensamento cristão posterior. A Escritura afirma que o ser humano é uma alma vivente, não que tem uma.
A “alma” não é uma substância separada do corpo, mas a vida do ser completo.
Deus destruir “alma e corpo” na geena significa que ninguém pode escapar ao juízo, nem física nem existencialmente.
O texto não contradiz o sono da alma, mas o reforça, pois mostra que a única destruição verdadeira é a que Deus realiza, e ela é total, final e envolve a aniquilação completa da existência.
Mateus 10:28 é uma advertência sobre o juízo final, não uma descrição da imortalidade da alma. A palavra “destruir” (apolesai) em grego carrega a ideia de aniquilação, não de sofrimento eterno.
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