Refutação Dissertativa ao Vídeo “Desmascarando o Quarto Evangelho” — Parte 1
Introdução
Os vídeos do nosso conhecido blasfemador, picareta e falso profeta Romilson Ferreira, postadas em 2017, apresenta uma série de críticas ao Evangelho de João, buscando desacreditá-lo por meio de supostas contradições e divergências doutrinárias em relação aos outros evangelhos. Esta resposta expande a refutação da própria lógica, abordando de forma específica cada uma das passagens bíblicas mencionadas. Há muito tempo gostaria de ter feito este texto de refutação, mas me faltava tempo e seria necessário dedicar uma hora e meia para assistir aos vídeos do charlatão. No entanto, utilizando ferramentas de transcrição de vídeos, pude ler no meu tempo o que ele apresentou, e aqui estou disposto a abordar, uma a uma, e, claro, refutá-las. Para quem não sabe, além de ser escritor de textos dissertativo-argumentativos como este, sou autor de quatro livros — sendo o primeiro focado em responder objeções céticas às passagens das Escrituras, e o segundo, em responder ponto a ponto cada argumento que essa seita de Yauh levanta. Caso algum texto tenha sido abordado de forma diferente do que está no livro, considere ambos apenas como complemento. Recomendo a leitura dos dois, para que você possa ter material sólido em defesa da fé. Antes, gostaria de mencionar que vou estruturar meu texto em uma única parte, para aqueles que me solicitarem o PDF, mas ele será postado em três partes no Facebook, e no Blog será completo, devido ao limite de caracteres que as plataformas disponibilizam.
1. João 1:35-42 vs. Mateus 16:16-17 — Revelação a Pedro
* Alegação do vídeo: João apresenta André levando Pedro a Jesus e afirmando ser o Messias, enquanto Mateus diz que a revelação foi dada diretamente pelo Pai e por meio do Espírito.
Primeiramente, é importante entender que os evangelhos de João e Mateus têm propósitos e ênfases diferentes, refletindo as diversas facetas da obra de Jesus Cristo. Embora ambas as passagens tratam do reconhecimento da identidade de Jesus como o Messias, elas o fazem em contextos diferentes e em momentos distintos de relacionamento com Pedro. Assim, não há contradição, mas complementação entre os relatos.
Resposta:
Imagine aquele momento inesquecível de um primeiro encontro importante: é assim que o Evangelho de João descreve o início da jornada de Pedro com Jesus. André, cheio de entusiasmo após ouvir e seguir Jesus, não consegue guardar para si aquela descoberta transformadora. Com coração pulsando de alegria, ele corre até seu irmão Pedro e anuncia uma notícia cheia de esperança: “Achamos o Messias!” É como quem descobre um novo sentido para a vida e, imediatamente, quer repartir o achado com quem ama.
Pedro é então conduzido até Jesus, e ali acontece algo marcante: Jesus o olha nos olhos e já vê ali não apenas um pescador comum, mas alguém destinado a algo muito maior. Ele recebe um novo nome: “Cefas” (ou Pedro, “pedra”), sinalizando a missão especial que teria pela frente. Mas, naquele instante, Pedro ainda é principalmente apresentado a alguém fascinante, cujo mistério ele está apenas começando a vislumbrar. É, ao mesmo tempo, um encontro tão humano, familiar e cheio de expectativa: nasce ali uma relação, mas não ainda uma compreensão total da identidade divina de Jesus.
O Reconhecimento Profundo: Mateus 16:16-17
Avançando para um capítulo posterior dessa caminhada, o Evangelho de Mateus mostra Pedro em outro patamar: muito tempo já passou, muitos ensinamentos e milagres já foram vividos ao lado de Jesus. Agora, no contexto de uma conversa íntima, Jesus pergunta: “E vocês, quem dizem que eu sou?” É Pedro quem tem a coragem e a clareza de responder: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!”
Mas há algo ainda mais profundo aqui. Jesus revela que essa declaração não veio do raciocínio ou da experiência humana, mas foi um presente direto do Pai: “não foi carne e sangue quem te revelou, mas meu Pai que está nos céus.” Aqui Pedro se torna, de fato, alguém que vê Jesus, não apenas com os olhos, mas com o coração, um reconhecimento espiritual que só a ação divina poderia gerar. O pescador impulsivo entende, pela graça, quem é aquele que está diante dele: o Messias, o Filho do Deus vivo.
Caminho Humano, Revelação Divina
Esses dois momentos, tão diferentes em natureza, na verdade compõem juntos a jornada de transformação de Pedro, uma trajetória que mistura experiências vividas, relações que amadurecem aos poucos, e aquele toque especial da revelação divina no tempo certo.
* O início foi histórico, terreno, relacional: André apresenta Pedro a Jesus, e ali começa o seu caminho como seguidor, sem ainda entender plenamente quem era aquele homem.
* A maturidade espiritual chegou depois: só ao longo da convivência, da escuta, da amizade e da ação transformadora de Deus, Pedro recebe em seu interior a certeza espiritual sobre Jesus.
Não há contradição, há crescimento.
Não existe conflito real entre o que relatam João e Mateus. O único conflito é o da mente de Romilson. Juntos, eles nos lembram que muitas vezes conhecemos alguém ou alguma verdade primeiro de forma histórica e relacional, para então, mais adiante, experimentarmos sua profundidade só possível graças ao agir secreto de Deus dentro de nós.
Pedro foi apresentado a Jesus, sim. Mas Pedro também precisou de um momento especial de revelação para entender com o coração quem era Aquele que mudaria para sempre sua vida e de tantos outros. E, como Pedro, todos nós também vivemos processos: primeiro, um encontro; depois, uma descoberta mais profunda que só Deus pode dar.
Reconciliação entre os Relatos
Não há, portanto, qualquer contradição entre os relatos de João e Mateus. Ambos se complementam ao apresentar momentos distintos na jornada de Pedro com Jesus:
1. João 1:35-42: O relato de João foca no chamado inicial e na introdução histórica de Pedro ao Messias. André apresenta Pedro a Jesus, marcando o início do relacionamento de Pedro com O Cristo. Essa passagem não descreve uma revelação plena da identidade de Jesus, mas um momento de encontro físico e histórico.
2. Mateus 16:16-17: A passagem de Mateus, por sua vez, descreve o reconhecimento espiritual profundo de Pedro, quando ele, iluminado pelo Pai, entende quem Jesus verdadeiramente é. Neste momento, Pedro vai além da experiência inicial e afirma, com clareza espiritual, que Jesus é o Cristo e o Filho de Deus. Esse reconhecimento não foi algo adquirido por mera observação ou aprendizado humano, mas por meio de uma revelação divina.
Portanto, é totalmente plausível que Pedro tenha sido apresentado a Jesus inicialmente por André, mas só mais tarde, ao longo da caminhada com Cristo, teve sua compreensão espiritual da identidade de Jesus iluminada pelo Pai. Este reconhecimento é o que caracteriza o momento de Mateus 16:16-17, onde Pedro, de forma inspirada, confessa a identidade messiânica e divina de Jesus, algo que vai muito além do simples encontro inicial em João.
2. João 1:32-34 vs. Marcos 1:10 e Lucas 7:20 — João Batista viu o Espírito?
* Alegação: João diz que João Batista viu o Espírito descendo sobre Jesus, enquanto Marcos foca apenas na experiência de Jesus e Lucas mostra João Batista com dúvidas posteriores.
Resposta:
Em João 1:32-34, João Batista VIU e TESTEMUNHOU. No quarto evangelho, o foco está na função de João Batista como TESTEMUNHA. Ele mesmo declara:
“Vi o Espírito descer do céu como uma pomba e permanecer sobre ele. Eu não o conhecia, mas aquele que me enviou a batizar em água me disse: Aquele sobre quem vires descer o Espírito... esse é o que batiza no Espírito Santo. Eu mesmo vi e dou testemunho de que este é o Filho de Deus.” (Jo 1:32-34)
Aqui, João Batista é taxativo: ELE VIU o Espírito descendo sobre Jesus e, por isso, pode apontá-lo publicamente como o Messias. Não há ambiguidade: o evento foi ao mesmo tempo uma experiência pessoal e uma capacitação divina para a missão de testemunhar.
Implicações:
* A cena em João não contradiz os Sinóticos; ela explicita o impacto transformador do sinal que o próprio Deus havia prometido a João (Jo 1:33).
* O testemunho de João é FUNDAMENTAL para que outros o sigam (Jo 1:35-37).
* Fica claro que João, naquele momento, sabe quem é Jesus.
Em Marcos, o destaque recai sobre a experiência vivida por Jesus, não em João:
“E, logo ao sair da água, viu os céus se abrirem e o Espírito descendo sobre ele como uma pomba.” (Mc 1:10)
Marcos não diz que João não viu. Apenas enfatiza o que Jesus percebe e vivencia. O texto grego é aberto: “ele viu” pode ser tanto Jesus quanto João, há debate exegético, mas tradicionalmente entende-se que ambos presenciaram o fenômeno.
Por que Marcos pode omitir explicitamente João como testemunha visual? O objetivo é demonstrar que a identidade messiânica de Jesus é garantida pela voz e pelo Espírito do Pai, imediatamente reconhecido por Jesus. O papel profético de João já havia sido marcado pelo batismo, mas a ênfase do evangelista recai na Filiação Divina de Cristo.
Lucas 7:20 e a dúvida no cárcere: crise, não contradição
Mais tarde, em Lucas 7:20, já preso, João Batista envia mensageiros a Jesus perguntando:
“És tu aquele que havia de vir, ou devemos esperar outro?”
Alguns veem aqui dúvida ou ignorância quanto à identidade messiânica de Jesus, supostamente contradizendo João 1. Isso na mente perturbada de céticos e sectários. Mas é fundamental compreender o contexto:
João vivia o trauma da prisão, ameaçado de morte por denunciar o pecado de Herodes. O Messias que João tinha anunciado vinha com “fogo e machado” (Lc 3:16-17; Mt 3:10-12), e agora via Jesus agir com mansidão, acolhendo pecadores e não trazendo juízo imediato sobre os corruptos. O pedido dos discípulos de João reflete mais uma CRISE DE EXPECTATIVA do que verdadeiro desconhecimento.
E sobre a reflexão humana. Como Elias em 1Rs 19 (depois de grandes milagres, foge aflito e pede a morte), o próprio João Batista, considerado o maior dos profetas (Lc 7:28), experimenta um tempo de dúvidas, desencanto e angústia, típico de muitos fiéis diante das dificuldades e da aparente demora dos planos de Deus.
Jesus não repreende João por incredulidade, mas reafirma seu ministério e personalidade profética, citando obras messiânicas (Lc 7:22-23), e, inclusive, elogia João diante da multidão (Lc 7:24-28). Será que Romilson fará um vídeo dizendo que Lucas também é um problema, sendo um livro não confiável?
Portanto, João realmente viu e testemunhou o Espírito sobre Jesus: Seu chamado e missão se cumprem com clareza, e ele faz o que Deus o incumbiu de fazer.
Os Sinóticos, ao omitir o detalhe da visão direta de João, não negam sua experiência: Apenas têm outros focos literários e teológicos.
A crise de João no cárcere é natural. Ela não invalida sua experiência anterior. Por vezes, nossas convicções mais profundas podem ser abaladas por sofrimento intenso, mas isso não apaga o que um dia ouvimos ou vimos de Deus.
A fé demonstrada nas Escrituras é realista: Mostra que mesmo grandes homens de Deus podem fraquejar, buscar sinais, vacilar, mas são sustentados e reafirmados por Cristo.
Resumo Final:
Não há contradição entre João ter visto o Espírito (Jo 1), Marcos silenciar sobre isso (Mc 1), e João Batista mais tarde questionar a missão de Jesus (Lc 7). O Novo Testamento pinta um quadro honesto e humano da caminhada de fé: o profeta que viu, anunciou e, em meio à dor, também perguntava. Deus recebe tanto nosso testemunho quanto nossa dúvida, respondendo-nos com graça e verdade.
3. Marcos 1:16 vs. João 1:40-42 — Chamada de Pedro e André
* Alegação: Sinóticos mostram Jesus encontrando Pedro e André enquanto pescavam, João diz que André apresentou Pedro a Jesus.
Resposta:
Vários estudiosos reconhecem que pode haver dois momentos distintos: o chamado inicial (João) e o chamado definitivo (Sinóticos). O texto de Marcos, em si, NÃO explicita que já havia ocorrido um contato prévio entre Jesus, André e Pedro, nem detalha se esta foi a primeira conversa deles com Jesus. Ele narra o chamado formal para segui-lo como discípulos de tempo integral, envolvendo uma mudança radical de vida. Porém, o texto tampouco nega um encontro prévio. Não há frases limitantes como “pela primeira vez” ou “nunca antes haviam visto Jesus”. A concisão marcana prioriza o momento decisivo do chamado, não uma narrativa de toda a jornada relacional prévia.
O Evangelho de João descreve André, discípulo de João Batista, conhecendo Jesus e apresentando Simão (Pedro) a ele. Trata-se de um encontro inicial, caracterizado por busca, diálogo e curiosidade, mas sem chamado explícito para abandonar profissão e família. Depois disso, Jesus se retira ao deserto para ser tentado e só retorna à Galileia algum tempo depois.
Muitos estudiosos notam:
* João narra o “encontro e apresentação” (um chamado informal e exploratório).
* Marcos (e paralelos sinópticos) narra o chamado formal para discipulado integral, tempo depois.
Dessa forma, tanto o texto grego de Marcos quanto o de João permitem perfeitamente que ambos os episódios se complementem, um como encontro inicial (João), outro como vocação definitiva (Marcos/Mateus/Lucas).
Encontros pré-Chamada eram comuns e bem aceitos nos estudos sobre discipulado no judaísmo do primeiro século. O processo de discipulado era caracterizado por aproximações graduais, relacionamento e vários encontros com o mestre antes de um chamado formal e definitivo para seguir um rabino. Isso reflete não só práticas documentadas em textos primários do período, mas também ilumina o contexto dos relatos dos evangelhos sobre os seguidores de Jesus.
No ambiente judaico da era do Segundo Templo, especialmente entre os fariseus, saduceus e outros grupos religiosos, era típico que discípulos procurassem um mestre (rabino) e participassem de discussões, refeições e sabatinas antes de uma decisão formal de adesão. O Talmude documenta esse padrão diversas vezes, destacando, por exemplo:
“Que seu lar seja um local de asilo para os sábios, e que você se cubra com o pó dos seus pés, e beba sedento de suas palavras” (Pirkei Avot 1:4)
Este ensinamento mostra que era normal aspirantes a discípulo se aproximarem repetidamente do mestre, ouvindo seus ensinamentos em público antes de um vínculo formal.
Para citar um exemplo das Escrituras, temos Eliseu e Elias. O chamado de Eliseu por Elias, narrado em 1 Reis 19:19-21, apresenta um modelo antigo, valorizado na tradição judaica, de aproximação gradual. Eliseu é chamado, mas primeiro volta para despedir-se da família. O texto mostra que a decisão definitiva de seguir o mestre pode vir depois do contato inicial, o que era compreendido como legítimo no contexto cultural e religioso.
Voltando a aberração chamada Talmude, especialmente em tratados como Avot e Ta'anit, retrata mestres caminhando de cidade em cidade, acolhendo ouvintes e discípulos eventuais, que podiam ouvir, questionar, observar e, só depois de várias ocasiões, decidir seguir permanentemente:
“Rabban Yochanan ben Zakkai nunca deixou de estar em contato com seus mestres ou de receber alunos em sua sala de estudos…” (Bava Batra 134a)
Flávio Josefo, ao narrar sua adesão à seita dos essênios, ilustra explicitamente essa busca progressiva antes da entrada definitiva:
“Eu desejei experimentar todas as seitas e, após três anos junto a Bannus, voltei para Jerusalém” (Josefo – Vida, §11-12)
Aqui, nota-se um período de aproximação, convivência e experiência, antes do compromisso formal. O evangelista João descreve discípulos que seguiam João Batista e, após observar e ouvir Jesus, gradualmente tomam a decisão de segui-lo (Jo 1:35-39). Isso reflete claramente um costume bem estabelecido: aproximação, prova/observação, e então vocação.
Assim, ao analisarmos o encontro de André e Pedro com Jesus em João 1, e o chamado formal à beira do lago em Marcos 1, vemos que não há choque: encontros prévios e relacionamento antes de um discipulado pleno eram socialmente e religiosamente normais. Esses padrões são consistentes com a tradição judaica do período, demonstrando que alguém podia se aproximar do mestre, ouvir, experimentar a convivência e, só depois, receber o chamado definitivo.
Aproximação inicial e chamado pleno
Nos evangelhos, especialmente nos relatos de João e Lucas, vemos que o relacionamento dos primeiros discípulos com Jesus é descrito como um processo em etapas. O "encontro histórico", como o relatado em João 1:35-42, apresenta André, discípulo de João Batista, direcionando Pedro até Jesus. Esse primeiro contato é marcado por curiosidade, busca espiritual e reconhecimento inicial do Messias, mas não envolve ainda uma ruptura total com a vida anterior.
A narrativa de Lucas 5:1-11 destaca um segundo momento crucial: após algum tempo de convivência e escuta, Jesus faz um chamado decisivo enquanto Simão e seus amigos estão pescando. É nessa ocasião que Jesus realiza um milagre, enche os barcos de peixes e, diante de tal demonstração de poder, Simão reconhece sua própria limitação: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador!” (Lc 5:8). Jesus convida Pedro e seus colegas a uma mudança radical de vida: “Não temas; de agora em diante serás pescador de homens” (Lc 5:10). O texto enfatiza que, a partir daquele momento, eles “deixaram tudo e o seguiram” (Lc 5:11). Trata-se de uma resposta ao chamado pleno, marcada pelo abandono das antigas seguranças (barco, família, profissão) em favor do discipulado integral.
A combinação desses relatos, longe de sugerir contradição, revela uma dinâmica humana e espiritual realista. Podemos separar da seguinte forma:
* Encontro inicial: Sensibilização, busca, escuta e convivência, sem ruptura imediata com o cotidiano.
* Chamado definitivo: Após amadurecimento do relacionamento e compreensão melhor da missão de Jesus, o convite para uma entrega total e irreversível se torna irresistível e faz sentido no coração do discípulo.
Interpretar os evangelhos levando em conta essa dinâmica elimina a necessidade de ver os episódios como versões concorrentes. Em vez de exclusão, há complementaridade: o evangelho de João descreve o início da jornada; Lucas relata o marco decisivo do discipulado. Os dois movimentos juntos fornecem um retrato convincente do desenvolvimento da fé e da vocação, mostrando que o caminho do discípulo de Jesus é feito de etapas, encontros, descobertas e respostas cada vez mais profundas ao chamado divino.
4. João 2:19-21 vs. Marcos 14:57-59, Atos 2:24, Rm 8:11, 1Ts 1:10 — Quem ressuscitou Jesus?
* Alegação: João diz que Jesus ressuscitaria a si mesmo; Paulo (Atos, Romanos, Tessalonicenses) afirma que o Pai O ressuscitou.
Resposta:
Textos como João 2:19 (“Destruí este templo e em três dias o levantarei”) devem ser entendidos como afirmação da autoridade e união íntima entre Jesus e o Pai (“Ninguém tira minha vida, mas eu a dou por mim mesmo... tenho poder para a retomar” — Jo 10:17-18).
No Novo Testamento, atribuir a ressurreição tanto ao Pai quanto ao próprio Jesus não representa contradição, mas reflete a grandeza do mistério divino, bem além das fórmulas fechadas da Trindade e do Unicismo. O Cristo eterno atua em perfeita unidade com o Deus Pai, e toda manifestação do poder da ressurreição, inclusive quando Jesus declara ter autoridade para “dar a vida e retomá-la”, é expressão do mesmo querer e do mesmo ser. Não faz sentido, portanto, fragmentar a obra divina em departamentos ou rivalidades internas. A ressurreição é ação suprema do próprio Cristo encarnado, que delega sua vida ao Pai e, ao mesmo tempo, manifesta no tempo o poder que ele já possuía desde antes de tudo ser criado. Assim, a Escritura não exige que expliquemos o mistério, mas que o abracemos: o Pai levanta o Filho, o Cristo vivifica a Si mesmo, e, nesse ato, vemos a essência do Deus que se revela e se entrega livremente, além das limitações das fórmulas humanas (Adquire e leia meu livro: “Jesus, O Deus Encarnado”).
5. João 6:5-15 vs. Marcos 6:34-38; Lucas 9:13 — Multiplicação dos pães, pergunta a Filipe
* Alegação: João diz que Jesus pergunta a Filipe; nos sinóticos, apenas ordena que deem de comer à multidão. A crítica sustenta que há uma incompatibilidade, pois João destaca Filipe, enquanto os sinóticos não mencionam perguntas individuais, focando a ordem coletiva dada por Jesus aos discípulos.
Resposta:
João 6:5-15: Jesus, ao ver a multidão, dirige uma pergunta especificamente a Filipe: “Onde compraremos pão para lhes dar de comer?” (Jo 6:5). Filipe e André interagem com Jesus antes do milagre.
Marcos 6:34-38 e Lucas 9:13: Nos evangelhos sinóticos, Jesus primeiro ensina a multidão e depois diz aos discípulos, geralmente em grupo: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Os discípulos, coletivamente, reagirão sobre a impossibilidade logística.
Os evangelhos foram escritos a partir de diferentes perspectivas, comunidades e propósitos espirituais. João apresenta nuances e detalhes de testemunhas oculares que os sinóticos resumem para dar ênfase ao coletivo e ao simbolismo do milagre. O Evangelho de João é o único a identificar explicitamente Filipe como destinatário da pergunta. Isso reflete o estilo joanino de destacar diálogos pessoais (cf. encontro com Natanael, João 1:45-51), fornecendo um cenário mais íntimo ou interno do grupo apostólico.
Não há obrigação de que apenas uma única fala ou interação tenha ocorrido naquela situação. Jesus, em meio a uma multidão, pode muito bem ter dialogado primeiro com Filipe (Jo 6:5-7), depois se dirigido ao grupo todo (Marcos, Lucas). Perguntar individualmente a um discípulo antes de desafiar o grupo era comum entre rabinos, servindo para envolver primeiro um representante e depois extrair uma lição coletiva.
É possível que João registre o início da conversa (o teste a Filipe, com André também entrando em cena), e os sinóticos priorizem a resposta e ação final (“dai-lhes vós mesmos de comer”), omitindo detalhes intermediários para focar no significado coletivo do milagre. Muitas vezes, os evangelhos condensam ou expandem os episódios segundo a ênfase desejada. O fato de João trazer mais detalhes não implica divergência essencial.
Antes de serem escritos, os relatos sobre Jesus circularam oralmente, com adaptações segundo o público-alvo. Certos detalhes poderiam ser enfatizados em algumas tradições e omitidos em outras, sem prejuízo à fidelidade histórica fundamental. Cada evangelista, sob inspiração e conforme sua audiência, escolheu quais aspectos destacar para transmitir o ensino central: a compaixão de Jesus, a insuficiência dos recursos humanos e a fé como resposta.
Razão para destacar Filipe
Filipe era de Betsaida, mesmo local do milagre (Jo 1:44; 12:21). Jesus pode ter perguntado a ele por ser natural da região, tornando a questão ainda mais irônica e pedagógica. A pergunta a Filipe serve para ilustrar o contraste entre a limitação humana (“duzentos denários não bastam”, responde Filipe) e a abundância divina demonstrada no milagre.
Certamente não se trata de contradição, mas sim de complementação: João detalha o início do diálogo com Filipe (e André), revelando o processo pedagógico de Jesus; Marcos e Lucas resumem, enfatizando a ordem direta ao grupo. O episódio revela riqueza na tradição primitiva, estilo variável dos evangelhos e estratégia literária e pastoral diversa. Reconhecer essas nuances torna a narrativa mais verossímil e profunda, mostrando a pedagogia dinâmica de Jesus, alguém que envolve indivíduos e comunidade para ensinar sobre fé e providência divina.
6. João 6:14-15 vs. Marcos 6:45 — Fazer Jesus rei e retirada ao monte
* Alegação: João relata tentativa do povo de fazer Jesus rei e sua retirada; os sinóticos não mencionam isso.
Resposta:
Ênfase espiritual de João
João evidencia repetidamente a expectativa messiânica mal-entendida das multidões, que desejam um libertador político e nacional: “Sabendo, pois, Jesus que estavam para vir com o intuito de fazê-lo rei à força, retirou-se novamente, sozinho, para o monte” (Jo 6:15). O evangelista mostra como Jesus rejeita essa proposta de messianismo terreno e insistente, pois sua missão é de outra ordem: espiritual, redentora e não apenas político-nacional.
O contexto imediato de João 6 também antecipa o “discurso do pão da vida”, no qual Jesus corrige as expectativas materialistas do povo.
A seleção dos sinóticos
Os sinóticos (Marcos, Mateus, Lucas) frequentemente resumem, condensam ou adaptam episódios conforme o propósito teológico de cada autor. Eles não negam a possibilidade de tal movimento popular, apenas optam por não enfatizá-lo.
Marcos 6:45-46 apenas informa que Jesus despede a multidão e se retira ao monte para orar, o que pode ser compreendido como um movimento preventivo diante da excitação popular causada pelo milagre.
Mesma coisa: complementaridade, não contradição
Há evidências claras de que Jesus, percebendo o entusiasmo messiânico após o milagre, procura afastar tanto a multidão quanto, em algum grau, seus próprios discípulos daquele clima de euforia, compelindo-os a irem de barco e se isolando no monte. Nada impede que os eventos narrados em Marcos e João sejam, de fato, perspectivas diferentes da mesma cena. Em Marcos, o foco é na pedagogia com os discípulos, oração e afastamento tático de Jesus. Em João: ênfase na distorção das expectativas populares e a recusa explícita de ser feito rei humano.
Contexto Histórico e Cultural
A expectativa popular de que o Messias fosse um rei terreno era intensa no primeiro século e frequentemente ligada a esperanças de libertação romana. Relatos como o de João demonstram a tensão entre o programa de Jesus e as expectativas humanas, tema recorrente entre os evangelistas, ainda que nem sempre detalhado diretamente.
O estilo narrativo antigo, em que a omissão de um detalhe por um evangelista não indica negação desse detalhe, mas simples foco ou economia literária, é amplamente reconhecido em estudos contemporâneos. Aqui, vou citar diversas fontes. Sendo assim, em qualquer outra suposta contradição que ele levante e que a resposta seja a mesma, resumirei a resposta de modo que não fique maçante para você, leitor.
Provas da seletividade narrativa na Historiografia Antiga: Reconhecimento acadêmico contemporâneo
O estilo narrativo antigo, caracterizado pela omissão de detalhes por parte dos historiadores antigos, não só é amplamente reconhecido nos estudos bíblicos contemporâneos, mas constitui um princípio fundamental da historiografia greco-romana. Esta prática reflete não negligência ou erro, mas sim economia literária e seletividade deliberada baseada em propósitos teológicos e narrativos específicos.
Suetonius e a Seletividade Curatorial
Suetonius, biógrafo romano do século II d.C., demonstra consciência explícita sobre seu processo de seleção narrativa. Em suas Vidas dos Césares, ele declara: "Quod equidem magis ne praetermitterem rettuli, quam quia verum aut veri simile putem" ("Reportei isso mais para não omitir do que porque considero verdadeiro ou próximo da verdade"). Esta declaração programática revela que Suetonius tinha critérios específicos para selecionar material e reconhecia que outros leitores poderiam ter expectativas diferentes quanto aos critérios de inclusão.
Plutarco e a "Sintonia Fina" Biográfica
Plutarco articula explicitamente a diferença entre história e biografia, explicando que "não estou escrevendo história, mas biografia" e que "as ações mais destacadas nem sempre revelam a bondade ou maldade do agente". Em Cimon 2.4-5, ele explica que uma representação deve "reter os elementos indesejáveis do caráter de um homem sem dar-lhes proeminência indevida".
Estudos contemporâneos sobre Plutarco demonstram que suas omissões de episódios bem conhecidos eram propositais e serviam para "afinar o foco nas lições específicas de liderança que cada Vida foi projetada para transmitir". Esta prática reflete não falha histórica, mas economia narrativa sofisticada.
Tucídides e a Metodologia Histórica
Tucídides, considerado o pai da história científica, fornece uma declaração metodológica clássica sobre seletividade narrativa. Em 1.22, ele explica suas dificuldades em registrar discursos e como "não julguei apropriado escrever a narrativa das ações baseado em minha opinião pessoal nem como ouvi de qualquer fonte local aleatória" (https://www.proquest.com/docview/1512596573?pq-origsite=gscholar&fromopenview=true). Significativamente, Tucídides admite que "testemunhas oculares não davam o mesmo relato dos mesmos eventos" e que sua tarefa era investigar cada detalhe "com a maior precisão possível". Esta metodologia necessariamente envolvia seleção e omissão.
Historiografia Greco-Romana: Padrões Estabelecidos
A Oxford Bibliography of Greco-Roman Historiography estabelece que "a prática de escrever história no mundo antigo diferia marcadamente das práticas empregadas pelos historiadores hoje". Os historiadores antigos "concebiam sua tarefa de forma diferente" e "as fronteiras entre história e gêneros como etnografia, geografia e biografia nunca foram claramente definidas".
O Cambridge Companion to Plutarch confirma que "no escrever da história, um processo de seleção é necessariamente operativo, que enfatiza eventos considerados 'importantes', enquanto dá apenas atenção superficial ao que é considerado detalhe insignificante". Esta "mentalidade permite ao historiador 'debruçar-se por dez páginas sobre um dia e passar dez anos em duas linhas'".
Evidência Específica de Omissões Reconhecidas
Plutarco em sua Vida de Sulla mal menciona a legislação extensiva de Sulla após tornar-se ditador. Scholars demonstram que esta omissão estava "ligada ao propósito educacional ético" de Plutarco e ao seu processo de preparação de hypomnema (notas preparatórias).
Estudos acadêmicos sobre Polybius identificam "os pecados de omissão e comissão do historiador". A análise de "omissões específicas" permite "ganhar compreensão sobre o que os historiadores queriam que acreditássemos, como tentaram manipular seus leitores, e como organizaram suas narrativas para alcançar seus objetivos".
Reconhecimento Acadêmico Contemporâneo
Richard Bauckham, em Jesus and the Eyewitnesses, argumenta que "a historiografia antiga valorizava o testemunho ocular em alto grau" e que "o testemunho é uma categoria historiográfica respeitável para ler os Evangelhos como história". Ele demonstra que os padrões da historiografia antiga diferem dos modernos, mas não são menos válidos.
Craig Blomberg, em The Historical Reliability of the Gospels, estabelece que "os Evangelhos são biografias antigas que visam registrar história" e que "critérios de autenticidade - atestação múltipla, similaridade palestina, coerência e plausibilidade - confirmam o material dos Evangelhos".
Craig Keener, em sua monumental obra sobre Atos, argumenta que "Lucas apela ao conhecimento comum de sua audiência, indicando sua intenção de confirmar, em vez de criar, fatos históricos". Ele demonstra que "Atos tem numerosas correspondências com a história externa" e que "a obra de Lucas demonstra um alto grau de confiabilidade histórica quando compreendida no contexto da historiografia antiga".
Princípios Acadêmicos Estabelecidos
A John Marincola's Authority and Tradition in Ancient Historiography estabelece que "escritores antigos visavam tanto dar sentido ao passado quanto produzir obras de mérito literário" e que "as fronteiras entre história e outros gêneros sempre permaneceram fluidas".
Hystory as Text demonstra que "a ausência de determinado evento em um relato não implica negação ou rejeição do fato" e que "historiadores antigos selecionavam eventos segundo propósitos teológicos e públicos-alvo".
A evidência acadêmica contemporânea é unânime em reconhecer que a omissão de detalhes por parte dos evangelistas não deve ser vista como negação, mas como uma economia literária e uma seletividade proposital. Historiadores antigos como Suetônio, Plutarco, Tucídides e Políbio também escolhiam material de acordo com critérios específicos, e as diferenças entre os relatos refletem propósitos teológicos distintos, não erros factuais. Os padrões da historiografia antiga são amplamente reconhecidos por especialistas contemporâneos em estudos bíblicos e clássicos, e o silêncio narrativo deve ser entendido como uma ferramenta historiográfica legítima, não como evidência de fabricação ou contradição.
7. João 12:1-3, 12:16 vs. Marcos 14:1-9 — Unção por Maria: pés ou cabeça?
* Alegação: João diz que Maria unge os pés; Marcos (e Mateus) diz que unge a cabeça.
Resposta:
A alegada contradição entre João 12:1-3 e Marcos 14:1-9 (e Mateus 26:6-13) não é, de fato, uma contradição, mas uma diferença nos detalhes dos relatos. Ambos os evangelhos descrevem a mesma ação de unção por Maria, mas com ênfases diferentes. João 12:1-3 especifica que Maria ungiu os pés de Jesus e os secou com seus cabelos, enquanto Marcos 14:1-9 e Mateus 26:6-13 mencionam que ela ungiu a cabeça de Jesus. Isso pode ser explicado pela tradição oral, onde os evangelistas destacam aspectos distintos do mesmo evento. Uma possível explicação é que Maria tenha ungido tanto a cabeça quanto os pés de Jesus, mas os evangelistas escolheram focar em diferentes partes da ação. A unção da cabeça pode ser associada à preparação para a morte e o reinado, enquanto a unção dos pés reflete humildade e serviço.
Ademais, há a possibilidade de eventos distintos. Lucas 7:36-50 narra um episódio de unção em contexto, local e cronologia diferentes (na casa de Simão, o fariseu). Mesmo que seja o mesmo evento, não são excludentes: o texto pode destacar aspectos diferentes (pés e cabeça), compondo a ação completa de unção. Havia perfume em abundância, e os gestos de humildade eram extraordinários, como o ato de usar o cabelo para enxugar os pés, um gesto raro e marcante. Assim, não há contradição, mas uma variação nos enfoques e possíveis eventos distintos.
8. João 12:1 vs. Marcos 14:1 — Cronologia da unção
* Alegação: João posiciona o evento seis dias antes da Páscoa; Marcos, dois dias antes.
Resposta:
A alegada discrepância entre João 12:1 e Marcos 14:1 sobre a cronologia da unção de Jesus pode ser explicada quando se leva em consideração as diferenças nos detalhes e propósitos narrativos dos evangelhos. A alegação de que João posiciona o evento seis dias antes da Páscoa, enquanto Marcos o coloca dois dias antes, pode parecer uma contradição à primeira vista, mas é importante entender o contexto e a natureza dos relatos.
João 12:1 indica que Jesus chegou a Betânia seis dias antes da Páscoa. No entanto, isso não necessariamente marca o momento exato da unção, mas sim a chegada de Jesus à cidade, o que pode ser interpretado como o início do evento. A unção de Maria pode ter ocorrido alguns dias depois, dentro do período que João descreve. É possível que a unção tenha acontecido dois dias antes da Páscoa, como é detalhado por Marcos e Mateus, mas o autor de João escolheu enfatizar a chegada de Jesus a Betânia em um ponto específico do cronograma.
Além disso, é importante considerar que as narrativas antigas muitas vezes não seguiam uma linha do tempo rígida, como esperamos de um diário moderno. Lembrando que os evangelistas selecionavam e organizavam os eventos conforme os objetivos espirituais e literários que tinham em mente, podendo omitir ou rearranjar detalhes temporais sem a intenção de contradizer os relatos. No caso de João e Marcos, ambos os relatos podem ser harmonizados se entendermos que João está destacando a chegada de Jesus a Betânia, enquanto Marcos e Mateus se concentram no momento específico da unção, que ocorreu dois dias antes da Páscoa.
A diferença entre os relatos não deve ser vista como uma contradição, mas sim como uma variação natural na maneira como os eventos foram narrados por diferentes evangelistas. A cronologia pode ser fluida, com ênfases diferentes nos detalhes, sem que isso prejudique a integridade dos relatos.
9. João 3:22-23, 4:2 vs. Marcos 1:14, Lucas 3:20-21; 9:1-6 — Batismo de Jesus e dos discípulos
* Alegação: João diz que Jesus/sua equipe batizava; sinóticos não mencionam; e não poderia haver batismo antes da morte e ressurreição.
Resposta:
A pergunta inicial é: Jesus e os discípulos batizavam?
Em João 3:22–23, lemos:
“Depois disso, foi Jesus com seus discípulos para a terra da Judeia; ali permaneceu com eles e batizava. Ora, João [Batista] também estava batizando em Enom...”
Já em João 4:2, o próprio evangelista corrige possíveis mal-entendidos:
“Embora Jesus mesmo não batizasse, mas os seus discípulos.”
Ou seja, o texto esclarece: Jesus não realizava Ele mesmo o batismo, mas seus discípulos o faziam sob sua orientação.
Silêncio Não é Negação
Os Sinóticos (Marcos, Lucas, Mateus) não mencionam um batismo realizado por Jesus ou pela sua equipe durante seu ministério público, embora falem detalhadamente do batismo recebido por Jesus nas mãos de João Batista.
A ausência de informação, em termos historiográficos antigos, não implica que os eventos não ocorreram. Conforme já demonstrado antes, cada evangelista seleciona aspectos segundo seu propósito e público; Marcos, Lucas e Mateus priorizam outros elementos do discipulado e do ministério.
Qual era o batismo antes da Cruz?
O batismo praticado por João Batista era entendido como “batismo de arrependimento para remissão de pecados” (Marcos 1:4; Lucas 3:3), um ritual de preparação, muito presente nas práticas judaicas do período (mikva’ot – banhos rituais de purificação, cf. Mishná, Mikva’ot).
João Batista e Jesus (por meio dos discípulos) continuaram inicialmente um batismo de arrependimento com o objetivo de preparar o povo para a novidade do Reino de Deus ("Preparem o caminho do Senhor", Lc 3:4). Era um batismo de transição, não ainda a plenitude do batismo em Cristo — o qual só assume seu significado pleno após a morte, ressurreição e envio do Espírito Santo (ver Mt 28:19; At 2:38; Rm 6:3-4).
Diferença Doutrinária:
Batismo pré-Páscoa: Sinal de arrependimento e preparação.
Batismo pós-Páscoa: Mergulho no mistério da morte e ressurreição de Cristo, recepção do Espírito Santo (cf. At 19:1-5).
Prática Batismal no Judaísmo
Batismos de conversão e purificação eram comuns no Judaísmo do período do Segundo Templo:
O Mikvê, sendo um banho ritual usado para purificação antes de festas e ingresso em comunidades religiosas (cf. Mishná, Mikva’ot 1.1).
Qumran: A comunidade dos essênios praticava banhos rituais diários (1QS 3.5–9).
João Batista: A inovação foi exigir arrependimento ativo e preparar um povo para o Messias.
Assim, é historicamente natural que Jesus, no contexto judeu, aproveite e ressignifica esta prática junto de seus seguidores, criando uma ponte entre o batismo de João e o batismo pós-ressurreição.
O Evangelho de João não contradiz os Sinóticos ao afirmar que os discípulos de Jesus batizavam; apenas traz uma janela a um aspecto do ministério público que, por motivos editoriais e doutrinários, os sinóticos não enfatizaram. A prática do batismo já fazia parte do universo religioso judaico, e só depois da cruz ele recebeu seu significado pleno como sinal de morte e ressurreição com Cristo.
Portanto, não há contradição, há crescimento, continuidade e aprofundamento de um costume antigo, reinterpretado à luz da nova aliança inaugurada por Jesus.
10. João 5:18 vs. Mateus 12:12; Filipenses 2:6 — Violação do sábado e igualdade com Deus
* Alegação: João diz que Jesus violava o sábado e se fazia igual ao Pai, o que seria herético segundo Paulo e sinóticos.
Resposta:
Mais um erro grotesco cometido pelo cabeça da seita de Yauh! João apresenta a acusação dos adversários (“por isso os judeus procuravam matá-lo”, Jo 5:18) — não um endosso do próprio Jesus de transgressão sabática. Quando Jesus diz “meu Pai trabalha até agora e eu também trabalho”, está dialogando sobre o sentido mais profundo do sábado, mostrando sua autoridade messiânica. Em Filipenses 2:6, vemos um Cristo eternamente igual a Deus por natureza e origem, não por usurpação ou conquista. A autolimitação voluntária do Cristo eterno ao assumir a condição humana: o "esvaziamento" (kenosis) não diminui o ser divino, mas expressa a liberdade absoluta do Cristo pré-existente, que se encarna sem deixar de ser quem é. A “submissão funcional” do Cristo encarnado não implica menoridade ontológica ou subordinação de essência, mas é apresentação livre e amorosa da própria vontade para cumprir o projeto de redenção; trata-se de uma submissão no plano da missão, não da natureza. O que quero dizer é que Cristo nunca precisou disputar, tomar ou roubar uma igualdade com Deus, pois ela já lhe pertencia pela própria identidade. Seu gesto de assumir a forma de servo foi, paradoxalmente, a demonstração mais profunda de sua divindade autêntica e de sua liberdade de se entregar, sem perder o que Ele sempre foi. Assim, o texto não limita nem nega a divindade de Cristo, mas a revela em máxima expressão, fora das amarras dos sistemas humanos e religiões.
Tentação de Jesus — Ausência em João
* Alegação: João omite a tentação de Jesus no deserto pois apresentaria um “Jesus não-humano”.
Resposta:
Mas que bizarrice é essa, Romilson? João selecionou os sinais e discursos conforme seu propósito de entendimento espiritual (“estes foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus”, Jo 20:31). Além disso, João destaca repetidamente a humanidade de Jesus (Jesus chora, cansa-se, pede água, sofre; Jo 4:6, Jo 11:35, Jo 19:28). A ausência de determinado evento em um relato não implica negação ou rejeição do fato. Quando dizemos isso, estamos afirmando que só porque um escritor não menciona algo, não significa automaticamente que ele está negando que tal coisa aconteceu. Em literatura antiga, especialmente em biografias como os Evangelhos, os autores escolhiam quais detalhes destacar conforme seu propósito, público e foco temático. O silêncio sobre um evento não equivalia a dizer: “isso não existiu”. Para ilustrar isso, imagine que três jornalistas escrevem uma reportagem sobre um evento esportivo:
* O primeiro destaca o gol da vitória.
* O segundo foca na defesa histórica do goleiro.
* O terceiro narra a festa da torcida.
Se o segundo jornalista não menciona o gol, isso NÃO significa que está "negando" que o gol aconteceu! Ele só optou por outro foco.
Considerações Finais da parte 1
Cada passagem mencionada ganha sentido quando interpretada à luz do contexto histórico, literário e espiritual dos evangelhos. Levando em conta a independência e variedade das fontes, estilos, tradições e públicos. E respeitando o método da crítica bíblica moderna, que reconhece as diferenças como expressões da riqueza e diversidade da tradição oral e literária até mesmo cristã primitiva, e não como evidências de falsidade ou heresia.
Continuamos na parte 2!
Referências utilizadas
* Mishná, Pirkei Avot 1:4
* Talmude Babilônico, Bava Batra 134a
* Flávio Josefo, Vida, §§11-12
* 1 Reis 19:19-21
* Sanders, E. P. “Jewish Law from Jesus to the Mishnah”.
* Dunn, James D. G. “Jesus Remembered”.
* D. A. Carson, "The Gospel According to John"
* Craig L. Blomberg, "The Historical Reliability of the Gospels"
* Bauckham, R. Jesus and the Eyewitnesses (Cambridge, 2006)
* Blomberg, C. The Historical Reliability of the Gospels (IVP, 2007)
* Keener, C. Acts: An Exegetical Commentary (Baker, 2012-2015)
* Marincola, J. Authority and Tradition in Ancient Historiography (Cambridge, 1997)
* Pelling, C. Plutarch's Adaptation of His Source-Material (JHS, 1980)
* J. Jeremias, "Jerusalem in the Time of Jesus"
* Mishná, Mikva’ot 1.1; Josephus, Antiguidades Judaicas 18.5.2
Refutação Dissertativa ao Vídeo "Desmascarando o Quarto Evangelho" — Parte 2
Introdução
A segunda parte do vídeo intensifica as críticas ao Evangelho de João, apresentando uma série de alegações sobre contradições cronológicas, doutrinárias e narrativas. Esta análise mantém a estrutura da primeira parte, mas expande significativamente as respostas com análises específicas de cada passagem da Escritura mencionada, demonstrando como as supostas contradições decorrem de interpretações superficiais e desconhecimento dos princípios hermenêuticos adequados.
João 20:22 vs. Atos 1:5 e 2:1-4 — Recebimento do Espírito Santo
Argumento do vídeo: João 20:22 diz que Jesus soprou sobre os discípulos e disse "recebei o Espírito Santo", mas Atos 1:5 mostra Jesus dizendo que eles deveriam esperar em Jerusalém até serem revestidos de poder do alto no Pentecostes.
Refutação:
Em João 20:22, lemos:
"E, havendo dito isso, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo."
Este momento ocorre numa atmosfera de ressurreição recém-completada. Jesus aparece aos discípulos, lhes dá paz e, com um gesto simbólico, sopra sobre eles, concedendo-lhes o Espírito Santo. Mas o que significa esse “sopro” e essa concessão? É importante notar o contexto imediato: logo em seguida, Jesus dá aos discípulos “poder para perdoar pecados” (João 20:23). Isso indica uma capacitação funcional imediata para que exerçam um ministério essencial, ligado ao perdão e à continuidade da missão de Cristo na terra.
Portanto, este ato pode ser entendido como uma censura, uma habilitação inicial do Espírito, um início do processo pelo qual Jesus equipa os seus seguidores para serviço ministerial, sem, contudo, completar ainda a plenitude do derramamento pentecostal.
Por outro lado, no livro de Atos, Jesus instrui os discípulos a permanecerem em Jerusalém e aguardarem a promessa do Pai:
"Porque João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo dentro de poucos dias." (Atos 1:5)
O Pentecostes (Atos 2:1-4) descreve a efusão poderosa do Espírito Santo sobre os discípulos, que passam a falar em línguas, são revestidos de força e começam o testemunho público com sinais e milagres impressionantes.
Este batismo no Espírito representa a plenitude do poder espiritual dado para a missão global, incluindo o impulso missionário, os dons carismáticos e a capacitação para profetizar e batizar.
Precedentes no Antigo Testamento
O Antigo Testamento não apresenta o Espírito Santo como concedido de uma vez só, mas muitas vezes progressiva e para propósitos específicos:
1. Davi recebe o Espírito para reinar com sabedoria (1 Samuel 16:13), o Espírito vem “sobre ele” e permanece, mas em graus e funções.
2. Sansão é revestido do Espírito no momento do chamado (Juízes 14:6), capacitando-o para feitos extraordinários, embora não represente o plenitude do Espírito em toda sua extensão.
3. Outros profetas e líderes recebiam o Espírito para missões específicas (Ezequiel, Isaías, Eliseu).
Isso demonstra que o Espírito pode ser concedido de diversas maneiras e em momentos distintos, sem que haja contradição.
A Progressividade do Espírito
Portanto, o ocorrido em João 20 e em Atos 1-2 não são eventos antagônicos, mas partes complementares do mesmo processo:
A concessão inicial do Espírito prepara a comunidade para o ministério imediato e local (João 20).
O batismo no Espírito em Pentecostes inaugura o ministério público, universal e carismático da Igreja (Atos 2).
Essa progressividade ilustra uma dinâmica espiritual real e espiritualmente coerente: o Espírito Santo age conforme o estágio da revelação e missão, oferecendo diferentes níveis de capacitação para o cumprimento do projeto salvífico.
João 21:25 — Hipérbole sobre os livros que não caberiam no mundo
Argumento do vídeo: João 21:25 afirma que nem no mundo inteiro caberiam os livros sobre os milagres de Jesus, o que seria um absurdo literário.
Refutação:
Vai entender o que ele quis dizer. Mas vou tentar responder. O gênero literário empregado é uma hipérbole semítica clássica, figura de linguagem comum na literatura bíblica e oriental para expressar grandeza (cf. Jz 7:12; 1Rs 4:29; Sl 139:18).
Contexto cultural: A hipérbole era uma forma aceita e esperada de expressão enfática na literatura antiga, não pretendendo literalidade matemática.
Jesus mesmo usou hipérboles constantemente ("é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha", Mt 19:24; "se teu olho te escandalizar, arranca-o", Mt 5:29).
A declaração enfatiza a riqueza inesgotável da obra de Cristo, não uma impossibilidade física.
João 4:46-53 vs. Lucas 7:1-10 — Oficial vs. Centurião, Filho vs. Servo
Argumento do vídeo: João fala de um oficial cujo filho foi curado; Lucas fala de um centurião cujo servo foi curado.
Refutação:
A análise crítica moderna reconhece que são dois milagres diferentes:
João 4:46-53: Oficial real (βασιλικός) em Cafarnaum, filho (υἱός) à beira da morte
Lucas 7:1-10: Centurião romano (ἑκατόνταρχος), servo (δοῦλος) paralítico
O episódio relatado em João 4 apresenta um suplicante descrito de maneira precisa: trata-se do βασιλικός (basilikos), termo grego que designa um “oficial da corte” ou “funcionário real”, alguém ligado à administração de Herodes Antipas. Esse personagem, provavelmente um judeu de alto status, procura Jesus para pedir a cura de seu υἱός (filho biológico), que está gravemente doente em Cafarnaum, enquanto o encontro ocorre em Caná da Galileia.
Por outro lado, em Lucas 7, encontramos um intercessor de perfil muito diferente: o ἑκατόνταρχος (hekatontarchos), ou centurião romano. Trata-se de um comandante gentio, explicitamente não-judeu, que suplica a Jesus pela vida de seu δοῦλος (doulos), ou seja, seu servo, alguém muito estimado por ele (“ênτιμος”, no texto). O centurião, ao contrário do oficial de João, não vai pessoalmente até Jesus. Primeiro envia líderes judeus como representantes e, depois, amigos, demonstrando humildade e respeito extraordinários. O milagre é realizado também à distância, mas surge de uma iniciativa intermediada, com destaque especial para a fé do próprio centurião, que acredita no poder da palavra de Jesus.
Em João, a narrativa mostra o oficial real indo pessoalmente até Jesus, insistindo para que este desça a Cafarnaum. Jesus, porém, permanece em Caná e declara que o filho já está curado. O oficial só descobre o milagre ao regressar para casa, quando compara a hora exata em que Jesus declarou a cura com o momento da recuperação do filho. Já em Lucas, o centurião manifesta sua fé ao dizer que não é digno de receber Jesus em sua casa e pede que apenas uma palavra seja dita. O milagre, novamente, acontece à distância, mas toda a construção narrativa ocorre por meio de intermediários.
A diferenciação entre os termos gregos é decisiva para a compreensão desses relatos: em João, a palavra é υἱός (filho); em Lucas, δοῦλος (servo). Ambos os contextos tornam improvável que tal distinção seja casual ou intercambiável, são papéis sociais e familiares muito específicos dentro da sociedade daquele tempo. Além disso, os detalhes do texto indicam que, enquanto o oficial real de João crê na palavra de Jesus, levando à fé de toda sua casa, o centurião romano é elogiado por possuir uma fé genuína, tal que Jesus não encontra nem mesmo em Israel.
Essas narrativas, portanto, não são mera duplicata ou versões divergentes do mesmo milagre. Em João, a cura do filho do oficial ocorre após o primeiro sinal em Caná (transformação da água em vinho) e aprofunda o tema da fé na palavra de Jesus. Em Lucas, o milagre do servo enfatiza a compaixão de Jesus, a universalidade do alcance messiânico e a surpreendente fé de um gentio. É comum nos evangelhos a repetição de milagres semelhantes, múltiplos cegos, paralíticos e leprosos são curados, em circunstâncias diversas, por personagens de diferentes estratos sociais.
São locais diferentes, circunstâncias diferentes, personagens diferentes com funções sociais distintas. E Jesus realizou múltiplos milagres de cura; não é incomum que casos semelhantes ocorressem com pessoas diferentes.
João 19:17 vs. Lucas 23:26, Marcos 15:21 — Quem carregou a cruz
Argumento do vídeo: João diz que Jesus carregou a cruz até o Calvário; os Sinóticos dizem que foi Simão Cirineu.
Refutação:
Podemos apontar a sequência cronológica. Jesus inicialmente carregou a cruz (João 19:17), mas devido ao seu estado físico debilitado pelos açoites (conforme Isaías 53:5), os soldados requisitaram Simão Cirineu para continuar carregando (Lucas 23:26; Marcos 15:21).
Romilson incorre no mesmo erro apontado em meu primeiro livro, ele descarta completamente o que está sendo dito entre os textos, sendo que esses já citam e respondem a sua objeção à narrativa. João enfatiza a dignidade e determinação de Jesus no início do trajeto; os Sinóticos destacam a necessidade de ajuda humana, mostrando a realidade do sofrimento físico.
Era comum que condenados começassem carregando sua cruz e recebessem ajuda quando necessário, especialmente após tortura severa.
João 19:14 vs. Marcos 15:25 — Cronologia do julgamento e crucificação
Argumento do vídeo: João 19:14 diz que Jesus estava sendo julgado por Pilatos na sexta hora (meio-dia); Marcos 15:25 diz que na terceira hora (9h) Jesus já estava crucificado.
Refutação:
Podemos explicar isso com sistemas horários diferentes. João usa o sistema romano (contagem a partir da meia-noite), enquanto Marcos usa o sistema judaico (contagem a partir das 6h da manhã).
João 19:14: Sexta hora romana = 6h da manhã (final do julgamento)
Marcos 15:25: Terceira hora judaica = 9h da manhã (início da crucificação)
O julgamento terminaria às 6h, seguido pela preparação, caminhada até o Calvário, e crucificação às 9h.
Estudiosos como Harold Hoehner e D.A. Carson documentaram extensivamente essas diferenças cronológicas:
"João usava o horário romano, iniciando à meia-noite, enquanto Marcos usava o horário judeu, começando ao nascer do sol... Essa reconciliação resolve o aparente conflito entre o 'por volta da sexta hora' de João e a 'terceira hora' de Marcos."
(Chronological Aspects of the Life of Christ, p. 143-147)
"Não é incomum sugerir que João usou a contagem do tempo à maneira romana (a partir da meia-noite), enquanto Marcos usou a contagem judaica (a partir das 6h da manhã), de modo que a 'sexta hora' de João corresponde aproximadamente a 6h da manhã e a 'terceira hora' de Marcos equivale a 9h da manhã; nesse caso... os relatos podem ser correlacionados."
(The Gospel According to John, p. 605-606)
João 19:38-39 vs. Lucas 23:56, Marcos 16:1 — Quem ungiu Jesus
Argumento do vídeo: João diz que Nicodemus e José de Arimateia ungiram Jesus; os Sinóticos dizem que as mulheres foram ungir o corpo.
Refutação:
João descreve uma unção inicial e preservativa feita por José e Nicodemus com pressa antes do sábado (João 19:38-42). Eles providenciaram o sepultamento imediato de Jesus, trazendo "cerca de cem libras de uma mistura de mirra e aloés" para envolver o corpo de Jesus juntamente com faixas, "segundo o costume dos judeus de sepultar". O contexto imediato destaca a pressa: “por ser o Dia da Preparação dos judeus, e por estar próximo o túmulo, ali depositaram Jesus”.
As mulheres planejavam completar a unção adequada após o sábado (Marcos 16:1; Lucas 23:56), pois o sepultamento foi apressado. Esses textos mostram as mulheres (Maria Madalena, Maria mãe de Tiago, Salomé e outras) “observando o sepulcro” e depois preparando aromas e perfumes para ungir o corpo “assim que passasse o sábado”.
Era comum múltiplas unções em sepultamentos judaicos, especialmente quando o primeiro processo era incompleto devido a limitações de tempo. Na cultura judaica do primeiro século, caso o sepultamento ocorresse próximo ao início do sábado, o processo poderia ser feito de maneira abreviada, apenas o essencial para cumprir o ritual básico. Não havia nada incomum em voltar ao túmulo após o sábado para completar de maneira mais honrosa os cuidados funerários, sobretudo para pessoas queridas.
João descreve o gesto apressado e preservativo de José e Nicodemos, fornecendo um relato legítimo do que era possível realizar antes do sábado.
Os Sinóticos relatam a intenção das mulheres de retornar depois do sábado para fazer uma unção mais completa e afetiva. Como o sepultamento foi necessariamente apressado, as mulheres retornam logo que possível com especiarias para realizar adequadamente o rito, mas encontram o túmulo vazio (ressurreição).
Portanto, ambas as ações podem ter ocorrido sem exclusão mútua: a primeira unção era provisória, a segunda nunca chegou a ser feita.
Prática histórica
Fontes como Mishná, tractatos funerários judaicos (cf. Mishná, Shabbat 23.5), e comentários acadêmicos sobre costumes judaicos atestam que cuidados funerários podiam ser complementados em etapas devido a restrições sabáticas.
Diversos comentaristas reforçam essa leitura. Leon Morris, em seu comentário sobre João (NICNT): "Era perfeitamente natural que as mulheres desejassem completar os costumes funerários que, por força da pressa, haviam sido deixados incompletos."
Craig Evans (Word Biblical Commentary): "O testemunho conjunto mostra que tanto a unção inicial (apressada) quanto a intenção das mulheres são históricas e complementares."
João 19:25 vs. Lucas 23:49, Marcos 15:40 — Maria no pé da cruz
Argumento do vídeo: João diz que Maria, mãe de Jesus, estava perto da cruz; os Sinóticos dizem que as mulheres observavam de longe e não mencionam Maria.
Refutação:
João, como testemunha ocular próxima (João 19:26-27), descreve quem estava mais perto; os Sinóticos descrevem o grupo geral que observava à distância.
Maria pode ter se aproximado em momentos específicos (especialmente quando Jesus lhe dirigiu palavras) enquanto permanecia à distância em outros momentos.
Marcos e Lucas podem ter omitido Maria por várias razões (proteção, discrição, ou simplesmente seleção editorial). Os relatos se complementam: havia mulheres de longe. E pessoas próximas em momentos específicos.
João 19:26 — Jesus conversa com Maria mas não ora ao Pai
Argumento do vídeo: Jesus tem tempo para conversar com Maria na cruz, mas não faz oração ao Pai como nos Sinóticos.
Refutação:
Cada evangelho escolhe quais palavras da cruz destacar. João enfatiza as palavras relacionais e espirituais; os Sinóticos enfatizam as orações.
João 19:26 registra Jesus dirigindo-se a sua mãe, Maria, na cruz, demonstrando cuidado e a institucionalização de um novo vínculo familiar entre Maria e o discípulo amado. Essa cena destaca a humanidade do Senhor, sua compaixão, preocupação pessoal e a dimensão relacional da sua morte. Ao mesmo tempo, reflete a soberania dele sobre a vida e a morte, já que Jesus, consciente e com autoridade, coordena esses momentos finais.
Os Evangelhos Sinópticos, por sua vez, tendem a enfatizar as orações e clamores de Jesus ao Pai durante seu sofrimento e morte (exemplos: Marcos 15:34 "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?", Lucas 23:46 "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito"). Esses relatos ressaltam tanto a humanidade do Jesus sofredor quanto sua confiança e comunhão com o Pai diante da agonia.
Assim, o fato de João não registrar uma oração explícita na cruz, mas sim uma conversa com Maria, não implica ausência da relação filial com Deus Pai. Na verdade, o Evangelho de João enfatiza ao longo de sua narrativa a unidade íntima entre o Filho e o Pai, bem como o pleno controle de Jesus sobre sua missão (João 10:17-18; 19:30). O foco dele é espiritual e relacional, apontando para Jesus como o Senhor que sabe cumprir seu propósito e cuidar dos seus.
Portanto, cada evangelista escolhe destacar diferentes aspectos da mesma realidade do Jesus na cruz. João privilegia a figura plena, tanto humana quanto divina, demonstrada na autoridade, no cuidado pessoal e na relação próxima com sua mãe e seus discípulos. Os Sinóticos enfatizam mais explicitamente as orações e a confiança filial durante a agonia, ressaltando a dimensão da entrega e do sofrimento. Essas diferenças refletem os propósitos espirituais e de ensinamentos de cada evangelho: enquanto os Sinóticos procuram instruí-los sobre o caminho do seguimento mediante a confiança em Deus em meio à dor, João destaca a glória, o amor e a soberania do Filho, mesmo em meio à cruz.
Assim, a ausência da oração explícita na cruz em João não contradiz os Sinóticos; ela atende à narrativa e o entendimento específico do Evangelho de João, corroborando que Jesus está em plena comunhão com o Pai e exerce domínio consciente até o último instante.
João 18:4-6 vs. Sinóticos — Prisão sem traição de Judas
Argumento do vídeo: João mostra Jesus se identificando aos soldados que caem no chão, enquanto os Sinóticos mostram Judas traindo com um beijo.
Refutação:
João 18:1-12 menciona Judas guiando os soldados (v.2-3), mas enfatiza a majestade de Jesus ao se entregar voluntariamente. O beijo de Judas (Sinóticos) e a auto-identificação de Jesus (João) podem ter ocorrido em momentos diferentes da mesma cena.
João enfatiza que Jesus não foi "pego" mas se entregou voluntariamente, cumprindo João 10:18 ("Ninguém tira minha vida; eu a dou por mim mesmo").
Marcos 3:31-35 — Maria e irmãos não andavam com Jesus
Argumento do vídeo: Marcos mostra que Maria e os irmãos de Jesus não o acompanhavam no ministério, contradizendo João.
Refutação:
O argumento de que Marcos 3:31-35 contradiz João ao mostrar que Maria e os irmãos de Jesus não andavam com ele no ministério não se sustenta quando se observa o contexto completo das narrativas e do desenvolvimento da família de Jesus ao longo do Novo Testamento.
No trecho citado em Marcos, vemos um momento específico em que a mãe e os irmãos de Jesus chegam, do lado de fora, procurando por ele. Esse episódio reflete a preocupação e, em certa medida, a incompreensão inicial dos familiares com a missão pública de Jesus. De fato, nos versículos anteriores, fica claro que seus parentes achavam que ele estava “fora de si” e tentaram intervir em sua atuação pública. Jesus, então, aproveita a situação para ensinar que sua verdadeira família são todos aqueles que fazem a vontade de Deus, ampliando a noção de parentesco espiritual para além dos laços sanguíneos.
É importante notar que este comportamento da família não persistiu por toda a vida de Jesus. A dinâmica familiar se transforma ao longo do tempo. No início do livro de Atos dos Apóstolos, já após a ressurreição, vemos Maria e os irmãos de Jesus reunidos com os discípulos em oração, fazendo parte efetiva da comunidade nascente (Atos 1:14). Isso evidencia uma adesão posterior à missão de Jesus, especialmente depois da Páscoa e do testemunho do Cristo ressuscitado.
Além disso, textos como Salmos 69:8, tradicionalmente aplicados a Jesus, ressaltam que tornar-se “estranho aos irmãos” refere-se a um período específico da sua vida pública e rejeição, e não a uma condição definitiva ou à totalidade dos relacionamentos familiares. Trata-se, portanto, de um cumprimento profético momentâneo que se encaixa no contexto do ministério terreno.
Outro ponto relevante é que 1 Coríntios 15:7 destaca a aparição específica de Jesus ressuscitado a Tiago, seu irmão. Essa experiência de encontro culmina na conversão de Tiago, que se torna uma das lideranças das pessoas de Jerusalém e autor da epístola que leva seu nome, confirmando a mudança profunda na postura familiar após a ressurreição.
Por fim, os Evangelhos João e Marcos não se contradizem, mas apresentam perspectivas complementares. João registra episódios de incredulidade dos irmãos de Jesus (João 7:5), mas também evidencia, ao final, a participação deles na comunidade dos discípulos. Marcos focaliza o momento de incompreensão e redefinição dos laços de discipulado, enquanto o restante do Novo Testamento mostra a progressiva integração da família de Jesus à fé e à missão em Cristo. Portanto, o relato de Marcos ilustra uma fase de estranhamento e preocupação por parte da família, mas não deve ser interpretado como oposição permanente ou como ruptura definitiva entre Jesus, sua mãe e seus irmãos. O desenvolvimento posterior das Escrituras demonstra essa mudança e harmonia progressiva entre Jesus e seus familiares.
João 8:30-31 vs. 8:40 — Contradição sobre quem creu
Argumento do vídeo: João 8:30-31 diz que muitos creram em Jesus, mas o versículo 40 diz que os mesmos queriam matá-lo.
Refutação:
Os versículos 30-31 referem-se a "muitos" que creram; o versículo 40 refere-se especificamente aos líderes religiosos que dialogavam com Jesus.
O diálogo mostra Jesus distinguindo entre fé superficial e fé verdadeira (vv.31-32: "Se permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos").
É comum que multidões tenham reações mistas, com alguns crendo e outros se opondo simultaneamente. No que isso anularia o Evangelho de João?
João 3:16, 14:1 vs. Marcos 11:22 — Crer em Jesus vs. crer em Deus
Argumento do vídeo: João manda crer em Jesus; Marcos 11:22 diz para ter fé em Deus.
Refutação:
Jesus como revelação do Pai torna possível crer em ambos (João 14:9: "Quem me vê, vê o Pai"). Romilson demonstra que não lê os livros que ele cita.
Marcos 11:22 trata de fé para milagres; João 3:16 trata de fé para salvação.
Paulo confirma ambos os aspectos (Rm 10:9: confissão de Jesus; 1Ts 1:8: fé em Deus).
A fé em Jesus é fé em Deus porque Jesus é a revelação perfeita do Pai. Ele é a expressão do Pai.
Marcos 8:27-30 — Pedro proibido de revelar identidade messiânica
Argumento do vídeo: Se ninguém sabia quem era Jesus, como ele poderia pedir para crerem nele?
Refutação:
A alegação de que seria contraditório Jesus pedir fé se “ninguém sabia quem ele era” ignora o contexto literário e o desenvolvimento espiritual do Evangelho de Marcos, especialmente a chamada “revelação progressiva” da identidade messiânica de Jesus.
No Evangelho de Marcos, Jesus optou por revelar sua verdadeira identidade de maneira gradual e estratégica. Ao longo dos capítulos, ele permite que certos aspectos de seu ministério, milagres e ensinamentos, gerem perguntas e suscitem fé, sem, contudo, declarar abertamente ao público sua condição messiânica. Esse silêncio deliberado é conhecido entre estudiosos como o “segredo messiânico”. Por várias vezes, Jesus instrui tanto os demônios (que o reconhecem), quanto os curados e até mesmo seus discípulos, a não tornarem pública a sua identidade (cf. Marcos 1:25, 1:44, 5:43, 8:30).
Essa postura não era meramente uma questão de privacidade, mas tinha profunda razão espiritual e prática. O contexto político e religioso da época nutria expectativas de um Messias político ou revolucionário, e uma revelação prematura ou mal compreendida poderia causar tumulto, perseguição ou distorções sobre o verdadeiro significado de sua missão. Assim, Jesus aguardava o momento apropriado para o anúncio aberto de sua messianidade, como ele mesmo indica em João 7:6: "Meu tempo ainda não chegou".
A ordem de silêncio em Marcos 8:30 ocorre logo após a confissão de Pedro (“Tu és o Cristo”), representando um ponto de virada: os discípulos passam a ter, por revelação, a consciência do real papel de Jesus. O “segredo” passa então a ser restrito ao círculo dos discípulos, não sendo uma regra universal para todos os ouvintes ou uma proibição sobre a fé, mas uma precaução para que eles, amadurecendo no entendimento, anunciem sua identidade messiânica no momento adequado.
Além disso, valer-se da “revelação gradual” não significa que ninguém era capaz de crer. Pelo contrário, a própria dinâmica do Evangelho pressupõe que a fé nasce da resposta às palavras e ações de Jesus, que, mesmo sem declaração explícita, apontam para algo maior. O milagre realizado, a autoridade demonstrada, a sabedoria vivida: todos são convites progressivos ao reconhecimento da identidade de Jesus e à fé pessoal, mesmo antes da plena revelação pública. A proibição temporária e direcionada da divulgação messiânica em Marcos 8:27-30 foi uma estratégia pedagógica e missionária de Jesus. Ela não inviabilizava a fé dos que o encontravam, mas ajudava a garantir que o reconhecimento de sua missão acontecesse de modo amadurecido e no tempo apropriado, evitando confusões e reações precipitadas enquanto o quadro de sua obra completa ainda se desenhava.
Marcos 3:11, Lucas 4:41 — Jesus proibiu demônios de revelar identidade
Argumento do vídeo: Jesus proibiu demônios de revelar que era o Filho de Deus, contradizendo as alegações do quarto evangelho.
Refutação:
Considere a autoridade da fonte. Jesus rejeitava testemunho demoníaco, não a verdade da identidade (João 5:34: "Não recebo testemunho de homem").
Jesus queria que a revelação viesse através de suas obras e palavras, não de forças espirituais malignas. A proibição era temporária até que chegasse o momento adequado para revelação plena. Jesus mantinha controle sobre quando e como sua identidade seria revelada.
Questão da Duração do Ministério — Uma vs. Três Páscoas
Argumento do vídeo: Jesus pregou apenas seis meses (uma Páscoa); João erroneamente diz que foram três anos (três Páscoas).
Refutação:
Há evidência textual: João menciona explicitamente múltiplas Páscoas (João 2:13; 6:4; 11:55; 12:1; 13:1).
Em contraste, os Evangelhos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) tendem a focar nos eventos cruciais e nos ensinamentos que antecedem diretamente a Paixão, mencionando apenas uma Páscoa, a última, ligada à morte de Jesus. Todavia, esse enfoque não exclui a possibilidade (e mesmo a probabilidade) de um ministério de maior duração, mas apenas reflete uma seleção narrativa voltada para enfatizar a culminância da missão de Jesus.
Além disso, um ministério de cerca de três anos é coerente com o impacto que Jesus causou em sua época. Construir uma base de seguidores, ensinar com autoridade, realizar milagres e estabelecer uma comunidade de discípulos requer um tempo considerável de convivência e trabalho itinerante. Um ministério de apenas seis meses dificilmente permitiria essa profundidade e influência, dado o contexto histórico e a complexidade da missão.
Também é possível entender os seis meses como referenciais a um período intensivo na Judeia, especialmente perto do final da vida de Jesus, quando ele se concentra na proclamação em Jerusalém e seus arredores, fato que pode levar à impressão de um ministério curto se considerado isoladamente.
A profecia das “setenta semanas” de Daniel 9:24-27, interpretada por diversos eruditos, incluindo aqueles mencionados no material pesquisado, alinha-se com a duração aproximada de três anos e meio para o ministério de Jesus, a partir do seu batismo até a crucificação. Essa visão profética une o aspecto espiritual e histórico, dando consistência à narrativa do evangelho.
Portanto, a evidência textual, histórica e profética aponta para um ministério público de Jesus que durou cerca de três anos, abrangendo várias celebrações da Páscoa, e não se limita a um curto período de seis meses ou apenas uma única Páscoa. Essa compreensão respeita a diversidade dos relatos evangélicos e a necessidade de harmonização das fontes, afastando contradições e reconhecendo múltiplas perspectivas no Novo Testamento.
Considerações Finais
Esta segunda parte do vídeo intensifica as tentativas de desacreditar João através de:
* Interpretações literalistas de figuras de linguagem (hipérbole)
* Falsas dicotomias (eventos que podem ser complementares são apresentados como contraditórios)
* Desconhecimento dos diferentes sistemas cronológicos antigos
* Atomização textual (análise de versículos isolados sem contexto)
* Ignorância dos gêneros literários escriturísticos
A análise demonstra que as alegadas contradições resultam de:
1. Metodologia hermenêutica inadequada
2. Desconhecimento dos contextos histórico-culturais
3. Pressuposto de que diferenças equivalem a contradições
4. Interpretação forçada para sustentar conclusões preconcebidas
O Evangelho de João permanece plenamente consistente com a tradição histórica, oferecendo uma perspectiva espiritual única e complementar aos evangelhos sinóticos, enriquecendo nossa compreensão da pessoa e obra de Jesus Cristo.
Resumo:
Todas as "contradições" apresentadas têm resoluções exegéticas sólidas.
As diferenças entre evangelhos refletem propósitos espirituais distintos, não erros factuais.
A crítica demonstra mais sobre as limitações metodológicas do crítico do que sobre problemas reais no texto joanino.
O Evangelho de João continua sendo um documento histórico e espiritual fundamental para a fé.
Referências utilizadas
The Gospel According to John, New International Commentary on the New Testament, 1971, p. 275)
The Gospel According to John I-XII, Anchor Bible, 1966, p. 191)
CARSON, D. A. The Gospel According to John. Grand Rapids: Eerdmans, 1991.
BLOMBERG, Craig L. Jesus and the Gospels: An Introduction and Survey. 2nd ed. Nashville: B&H Academic, 2009.
MORRIS, Leon. The Gospel According to John. Revised edition. Grand Rapids: Eerdmans, 1971.
BROWN, Raymond E. The Gospel According to John I-XII. Anchor Bible. New York: Doubleday, 1966.
HOEHNER, Harold W. Chronological Aspects of the Life of Christ. Grand Rapids: Zondervan, 1977.
MORRIS, Leon. The Gospel According to John. Rev. ed. Grand Rapids: Eerdmans, 1995. (The New International Commentary on the New Testament – NICNT).
EVANS, Craig A. Mark 8:27–16:20. Dallas: Word Books, 2001. (Word Biblical Commentary, v. 34B).
Refutação Dissertativa ao Vídeo "Desmascarando o Quarto Evangelho" — Parte 3
Introdução
A terceira e última parte do vídeo intensifica ainda mais as críticas ao Evangelho de João, apresentando argumentos (?) sobre profecia, cronologia da Páscoa, detalhes da crucificação e ressurreição, além de questões de tradução bíblica. Esta análise final mantém a estrutura acadêmica das partes anteriores, demonstrando como os argumentos apresentados se baseiam em interpretações errôneas, anacronismos metodológicos e desconhecimento dos princípios hermenêuticos fundamentais.
Isaías 6:9 e Marcos 4:12 vs. João sobre a crença em Jesus
Argumento do vídeo: Romilson cita Isaías 6:9 e Marcos 4:12 para afirmar que Deus cegou o povo para não crer no Messias, contradizendo João que diz que muitos creram em Jesus.
Refutação:
Isaías 6:9-10 é uma profecia sobre o endurecimento judicial de Israel por causa da rejeição contínua à palavra de Deus, não uma predeterminação absoluta contra toda crença.
Marcos 4:12 cita Isaías no contexto das parábolas, explicando por que Jesus falava em parábolas aos de fora, para revelar verdades aos receptivos e ocultar dos impenitentes.
João registra que "muitos creram" (Jo 2:23; 7:31; 8:30; 11:45; 12:42), mas também documenta extensamente a rejeição (Jo 1:11; 5:18; 6:66; 10:39; 12:37-40).
Paulo cita a mesma passagem de Isaías (Rm 11:7-10) mas explica que o endurecimento foi parcial, não total, permitindo que gentios e um remanescente judeu cressem. Isso, claro, não vai falar no vídeo.
O endurecimento divino é sempre consequência da rejeição humana prévia, não causa primária da incredulidade.
João 18:4-6 vs. Sinóticos — Identificação de Jesus na prisão
Argumento do vídeo: João mostra Jesus se identificando ("Eu sou") em vez de ser traído pelo beijo de Judas como nos Sinóticos.
Refutação:
João 18:2-3 explicitamente menciona que "Judas, que o traía, também conhecia aquele lugar" e "guiou para lá os soldados".
João 18:4-6 pode descrever o momento posterior ao beijo, quando Jesus voluntariamente se identifica após o sinal de Judas.
João enfatiza a soberania de Jesus ("Eu sou") enquanto os Sinóticos destacam o cumprimento das Escrituras sobre traição.
Os relatos não são mutuamente excludentes, o beijo identifica Jesus inicialmente, mas Jesus assume controle da situação.
João 18:5 sugere que os soldados já sabiam quem procurar: "Procuramos Jesus de Nazaré".
Ministério de Jesus — Duração e geografia
Argumento do vídeo: Jesus pregou apenas seis meses ao redor de Jerusalém, não três anos com múltiplas subidas a Jerusalém como João relata.
Refutação:
João registra pelo menos três Páscoas (Jo 2:13; 6:4; 11:55), indicando ministério de aproximadamente três anos.
Os Sinóticos não negam um ministério mais longo, apenas se concentram no período final.
Um ministério de apenas seis meses seria insuficiente para:
* Formar e treinar doze discípulos
* Estabelecer movimento com impacto duradouro
* Gerar a oposição sistemática documentada
* Cumprir as 70 semanas de Daniel (Dn 9:24-27)
Jesus ministrou principalmente na Galileia (Sinóticos) com visitas periódicas à Judeia (João). A região da Palestina tinha dimensões que permitiam viagens frequentes entre Galileia e Judeia.
Entrada triunfal em Jerusalém
Argumento do vídeo: João contradiz os Sinóticos ao mostrar Jesus entrando múltiplas vezes em Jerusalém antes da entrada triunfal.
Refutação:
João registra visitas privadas ou semi-públicas (Jo 5:1; 7:10; 10:22) vs. entrada pública e messiânica (Jo 12:12-15).
Zacarias 9:9: A profecia refere-se especificamente à entrada messiânica, não a qualquer entrada em Jerusalém.
Muitos profetas visitaram Jerusalém múltiplas vezes antes de seus ministérios culminantes. As visitas anteriores intensificam a tensão narrativa e mostram a crescente oposição.
Pelo contexto histórico, vemos que era comum judeus devotos visitarem Jerusalém para as festas anuais (Dt 16:16).
Cronologia da Páscoa e crucificação
Argumento do vídeo: João contradiz os Sinóticos sobre quando Jesus morreu em relação à Páscoa, se comeu a ceia pascal ou morreu antes da Páscoa.
Refutação:
João 19:14: "Dia da preparação da Páscoa" refere-se ao dia de preparação para o sábado dentro da semana da Páscoa.
Sinóticos: Jesus comeu a ceia pascal na quinta-feira à noite (início da sexta-feira judaica) e morreu na sexta-feira.
Harmonização cronológica:
* Quinta-feira ao pôr do sol: Ceia pascal (14 de Nisã)
* Sexta-feira: Crucificação (ainda 14 de Nisã)
* Sábado: Grande sábado da Páscoa (15 de Nisã)
João 18:28 indica que os líderes queriam participar da "Páscoa" (possivelmente referindo-se às ofertas dos dias seguintes, não à ceia inicial).
Jesus morreu como "nossa Páscoa" (1Co 5:7) no momento exato do sacrifício dos cordeiros pascais.
João 19:34 vs. Lucas 24:39 — Ferimento no lado
Argumento do vídeo: João menciona ferimento no lado de Jesus, mas Lucas 24:39 e Salmos 22:16 só mencionam mãos e pés.
Refutação:
Lucas 24:39: Jesus destaca as marcas que identificariam sua identidade (mãos e pés), não necessariamente todas as feridas.
Salmos 22:16: Profecia específica sobre traspassar mãos e pés, não uma lista exaustiva de todos os ferimentos.
Contexto do ferimento: João 19:34 explica que a lançada foi para confirmar a morte, não parte da crucificação inicial.
A morte na cruz normalmente ocorria por sufocação, choque hipovolêmico (perda de sangue/fluídos) e falência de órgãos, processos que podiam levar de horas a dias. Para evitar que o sofrimento se arrastasse muito tempo, soldados podiam quebrar os ossos das pernas (crurifragium) ou infligir ferimentos profundos, como golpes de lança no tórax ou lateral do corpo, comprometendo o coração ou pulmão. Ao impedirem que a vítima sustentasse o corpo para respirar, esses métodos aceleravam a morte por asfixia ou hemorragia.
Durante execuções supervisionadas, era fundamental garantir que a vítima realmente estivesse morta antes da remoção do corpo. O golpe lateral, muitas vezes com lança, visava perfurar órgãos vitais, provocando saída visível de sangue e/ou fluido seroso, atestando o fim das funções vitais, principalmente em casos de condenados de interesse público, como descrito no caso de Jesus.
Registros literários romanos e relatos arqueológicos corroboram essas práticas. Cruzados às análises de ossadas de vítimas encontradas, observam-se feridas traumáticas nos ossos ou ausência destes por retirada dos cravos e violência suplementar no processo de execução. Quebra de pernas e ferimentos torácicos representam métodos também para evitar tentativas de ressurreição simbólica ou fraude no óbito, já que o corpo permanecia exposto.
No contexto da crucificação de Jesus, a lança perfurando seu lado aparece como método para confirmar a morte, já que diferentemente dos ladrões crucificados ao lado (que tiveram as pernas quebradas), Jesus já estava morto, segundo o relato bíblico. Isso reflete um procedimento realista, dado que oficiais romanos eram responsáveis diretos pela conclusão do suplício e atestação do óbito.
João conecta o ferimento às profecias (Jo 19:37; Zc 12:10) e ao simbolismo da água e sangue.
Discípulo amado — Parcialidade divina
Argumento do vídeo: João apresenta Jesus tendo um "discípulo amado", o que contradiz a imparcialidade divina.
Refutação:
Se trata de uma linguagem idiomática. "Discípulo amado" não indica preferência injusta, mas intimidade especial baseada em receptividade. O título “discípulo amado” (em grego, ὃν ἠγάπα ὁ Ἰησοῦς – “aquele a quem Jesus amava”) é um modo idiomático de descrever intimidade pessoal e receptividade ao mestre, não o sinal de exclusão dos demais. Os Evangelhos compreendem que diferentes discípulos tinham interações e profundidades distintas em relação a Jesus, conforme suas personalidades, abertura de coração, disposição ou missões específicas.
Abraão foi chamado "amigo de Deus" (Tg 2:23). Moisés falava com Deus "face a face" (Ex 33:11). Isso quer dizer que eles são melhores que os outros? Que Deus prefere eles do que nós? As experiências de amizade ou afeição especial no contexto dos textos ilustram graus de entrega, missão e receptividade, não favoritismo injusto ou parcialidade no amor divino. Que ciúmes é esse Romilson?
Há diferentes tipos de amor. O grego distingue entre ágape (amor universal) e philos (amor de amizade).
* Ágape (ἀγάπη): Amor incondicional, sacrificial e universal — é o amor de Deus por toda a humanidade, visto em João 3:16 (“Porque Deus amou o mundo de tal maneira...”). Esse amor não faz acepção de pessoas (Atos 10:34; Rm 2:11).
* Philos (φίλος): Amor de amizade, afeição especial, proximidade de relação (Jo 15:13-15; Tiago 2:23). É compartilhado entre amigos verdadeiros, com base em comunhão, lealdade e afinidade recíproca.
* Storge (στοργή): Amor familiar, afeto natural entre pais e filhos.
* Eros (ἔρως): Amor romântico, erótico, não aparece no Novo Testamento.
A relação de Jesus com os discípulos reflete isso: a todos Ele oferece o amor ágape, mas com alguns partilha laços particulares de philos, por causa de abertura, tempo de convivência e missão (veja João 15:15, onde Jesus chama os discípulos de “amigos”).
Jesus desenvolveu relacionamentos únicos com cada discípulo baseados em suas personalidades e respostas. O título "discípulo amado" não excluía o amor de Jesus pelos demais discípulos, nem significava mérito exclusivo, mas apenas descrevia uma profundidade relacional. Esse mesmo princípio se revela quando Jesus chama Pedro, Tiago e João ao monte da transfiguração (Mc 9:2) e ao Getsêmani (Mt 26:37), sem que isso representasse rejeição aos demais, mas sim níveis distintos de intimidade conforme abertura e missão específica.
Eu falo com várias pessoas. Alguns formalmente (culto), e outros no popular. A forma que eu converso não reflete a importância deles para mim. Não há um pedestal de lugar número um, dois ou três.
Lembre-se: “Deus não faz acepção de pessoas” (At 10:34; Rm 2:11).
Jesus amou até Judas, o traidor, e morreu por todos, incluindo aqueles que não responderam ao seu amor (Jo 13:1, Jo 3:16).
O convite à intimidade está disponível a todos. “Chegai-vos a Deus, e Ele se chegará a vós” (Tg 4:8).
Lucas como "evangelho verdadeiro"
Argumento do vídeo: Paulo usa Lucas como referência (1Co 11:23-25; 15:3-5), provando que apenas Lucas é inspirado.
Refutação:
Paulo também reflete tradições encontradas em Mateus (1Co 7:10; 1Ts 4:15) e Marcos (1Co 9:14). Paulo recebeu muitas tradições oralmente (1Co 15:3: "recebi"), não necessariamente de um evangelho escrito.
As cartas paulinas precedem ou são contemporâneas aos evangelhos escritos. O consenso acadêmico mais sólido situa as cartas de Paulo e o Evangelho de Lucas em momentos próximos, mas com as epístolas paulinas antecedendo ou sendo, na melhor hipótese, contemporâneas à composição de Lucas–Atos. As principais evidências primárias e acadêmicas são:
1. Datação de 1 Coríntios
– 1 Coríntios foi escrito por Paulo durante sua estada em Éfeso, c. AD 53–55 (1Cor53–55).
– Isto se baseia no relato de Atos 18:1–17, que coloca Paulo em Éfeso por cerca de três anos, e na inscrição de Gallio (Éfeso, c. AD 51), que fornece o tempo histórico para sua atividade naquela época (1Cor. 53–55).
2. Outras epístolas paulinas
– Gálatas: c. AD 48–50, possivelmente antes de 1Cor (uso de Arístarco em Atos 19:29 sugere estadia em Corinto perto de AD 50)【Gál. 48–50】.
– Romanos: c. AD 57–58, escrito em Corinto antes de Paulo seguir para Jerusalém (Romanos 15:25–26; cf. Atos 20:2–3)【Rom. 57–58】.
3. Datação de Lucas–Atos
– Como Evangelho e Atos formam um único trabalho, compuseram-se provavelmente entre AD 60–62. A indicação mais tardia é o encerramento em Atos 28:16–31, sem mencionar a morte de Paulo, sugerindo redação logo após seu aprisionamento romano (c. AD 60–62)【Lucas Atos 60–62】.
– Muitos estudiosos evangélicos, seguindo Carson e Hoehner, defendem data ainda mais precoce, por volta de AD 60–62, pois Lucas faz uso de Marcos (escrito c. AD 55–60) e termina antes dos eventos da destruição do Templo em 70 d.C. (LukeAct60–62).
4. Conclusão cronológica
– As epístolas paulinas autênticas mais antigas (1Ts, Gál, 1 Cor) foram escritas entre AD 48–55.
– Lucas–Atos foi composto imediatamente após esses escritos, em AD 60–62, ou seja, enquanto as cartas de Paulo já circulavam e eram conhecidas pelas pessoas da época.
Paulo e acesso a múltiplas tradições apostólicas
Paulo não se apoiou em uma única fonte oral ou escrita, mas em diversas tradições apostólicas primitivas que já circulavam nas comunidades em Cristo antes mesmo de suas cartas.
Em 1 Coríntios 15:3–7, ele afirma: “Entreguei-lhes, primeiramente, o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, conforme as Escrituras, foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras, e apareceu a Cefas, depois aos Doze, e depois apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez”. Aqui vemos pelo menos quatro tradutores originais: (1) as tradições das Escrituras sobre a morte e ressurreição do Messias; (2) o testemunho direto de Pedro (Cefas); (3) o círculo mais amplo dos Doze; e (4) uma ampla assembleia de irmãos ainda vivos na época de Paulo.
Além disso, em Gálatas 1:18–19, Paulo relata sua visita a Jerusalém três anos após a sua conversão, onde “foi conhecer Cefas e permaneceu quinze dias com ele” e encontrou Tiago, “irmão do Senhor”, reconhecido pelas pessoas de Jerusalém como líder dos judeus crentes em Jesus. Essa iniciativa mostra que Paulo buscava múltiplos pontos de vista apostólicos, não apenas um único “relato” de base.
Paulo também instrui Timóteo a “entregar fielmente o que lhe foi confiado a homens fiéis, que sejam capazes de ensinar também a outros” (2 Timóteo 2:2), evidenciando a intenção de preservar e multiplicar uma tradição diversa e contínua.
Por fim, em 2 Tessalonicenses 2:15, ele ordena: “Portanto, irmãos, permaneçam firmes e guardem as tradições que lhes foram ensinadas, quer por nossa palavra quer por nossa carta”, confirmando a coexistência e complementaridade entre sua pregação oral e suas cartas.
Dessa forma, o apóstolo Paulo fundamentou-se em um conjunto plural de tradições apostólicas, credos pré-paulinos, testemunhos diretos de Pedro, Tiago e dos Doze, e o ensino contínuo repassado oralmente e por escrito, garantindo uma base robusta e múltipla para seus escritos e prática.
Muitos antigos reconheceram todos os quatro evangelhos como inspirados através de critérios de apostolicidade, catolicidade e ortodoxia.
João 20:14 vs. 1 Coríntios 15:5 — Primeira aparição
Argumento do vídeo: João diz que Jesus apareceu primeiro a Maria Madalena; Paulo diz que foi a Pedro.
Refutação:
João 20:14 afirma que Maria Madalena foi a primeira pessoa a avistar Jesus ressuscitado: “Ela voltou-se e viu Jesus em pé, mas não sabia que era Jesus”. Trata-se de um relato cronológico e singular, que destaca a experiência pessoal e imediata de Maria diante da ressurreição. Já em 1 Coríntios 15:5, Paulo escreve: “Cristo apareceu a Cefas, depois aos Doze”, listando as aparições que fundamentam a fé em testemunhos aceitos na comunidade.
Apesar de parecerem contraditórios, esses textos cumprem finalidades diferentes. João registra a primeira aparição cronológica de Jesus: Maria foi o primeiro humano a vê-Lo, quebrando o tabu judaico de que testemunhos femininos não eram admitidos em tribunal. Como sempre o Evangelho quebrando padrões. O próprio fato de os evangelistas incluírem mulheres como testemunhas mostra seu compromisso com a historicidade, pois não teriam inventado detalhes que enfraquecessem sua causa em um ambiente patriarcal.
Por outro lado, Paulo, em contexto apologético, cita Cefas (Pedro) e os Doze, figuras de autoridade reconhecida, para apresentar testemunhas legais e incontestáveis em disputas doutrinárias. Ele omite o testemunho feminino não por negá-lo, mas por estratégia retórica: enfatizar aqueles cujo depoimento teria peso maior em fóruns judaicos e gentílicos, assegurando credibilidade.
Os Evangelhos Sinóticos confirmam essa harmonia:
Mateus 28:8–10 declara que “as mulheres” (incluindo Maria Madalena) foram as primeiras a ver o túmulo vazio e a ouvir o anjo;
Marcos 16:9–11 afirma: “Jesus apareceu primeiro a Maria Madalena”;
Lucas 24:1–11 diz que as mulheres foram “as primeiras a informar os discípulos” da ressurreição.
Dessa forma, Maria Madalena foi a primeira cronologicamente, enquanto Pedro foi o primeiro entre os apóstolos oficiais, servindo a propósitos distintos: o relato de João, oferecer o testemunho mais precoce e genuíno; o de Paulo, fornecer fundamento jurídico e eclesiástico às crenças das pessoas em Cristo. Essa complementaridade explica por que não há contradição, mas sim diversidade de ênfases espirituais e práticas, refletindo a riqueza e veracidade das tradições do Novo Testamento.
Questões de tradução bíblica
Argumento do vídeo: Apresenta várias supostas traduções erradas que "divinizam" Jesus.
Refutação:
Então o Romilson é um daqueles que não acredita que Jesus é Deus? Interessante. Vamos fundamentar a resposta na gramática grega, hermenêutica e pela exegese.
Romanos 9:5 - Análise Gramatical e Exegética
Texto grego: ὧν οἱ πατέρες καὶ ἐξ ὧν ὁ χριστὸς τὸ κατὰ σάρκα, ὁ ὢν ἐπὶ πάντων θεὸς εὐλογητὸς εἰς τοὺς αἰῶνας. ἀμήν.
Análise gramatical:
A questão central é a pontuação de ὁ ὢν ἐπὶ πάντων θεὸς εὐλογητὸς ("aquele que está sobre todos, Deus bendito")
Há duas possibilidades legítimas:
* Doxologia referente a Cristo: "...Cristo segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para sempre"
* Doxologia separada: "...Cristo segundo a carne. Bendito seja Deus, que está sobre todos, para sempre"
Evidências para a primeira interpretação:
* Sintaxe: O particípio ὁ ὢν ("aquele que é/está") normalmente se refere ao sujeito mais próximo (Cristo)
* Paralelos paulinos: Paulo usa construções similares em Romanos 1:25 (ὁ ὢν εὐλογητὸς) referindo-se a Deus
Ambas as interpretações são gramaticalmente possíveis, mas o contexto de Romanos 9:1-5 (listando privilégios de Israel, culminando com o Messias) favorece a primeira.
Tito 2:13 - A Regra de Granville Sharp
Texto grego: προσδεχόμενοι τὴν μακαρίαν ἐλπίδα καὶ ἐπιφάνειαν τῆς δόξης τοῦ μεγάλου θεοῦ καὶ σωτῆρος ἡμῶν Ἰησοῦ Χριστοῦ
Análise gramatical:
A construção é a seguinte: τοῦ μεγάλου θεοῦ καὶ σωτῆρος ἡμῶν Ἰησοῦ Χριστοῦ
E a regra de Granville Sharp? Quando dois substantivos pessoais singulares são conectados por καὶ ("e") e apenas o primeiro tem artigo, ambos referem-se à mesma pessoa
Aplicação: τοῦ... θεοῦ καὶ σωτῆρος = "do... Deus e Salvador" (uma pessoa)
2 Pedro 1:1: Usa construção idêntica (τοῦ θεοῦ ἡμῶν καὶ σωτῆρος Ἰησοῦ Χριστοῦ)
Encontramos um paralelo na Nova Aliança: João 20:28 (ὁ κύριός μου καὶ ὁ θεός μου)
Todos os manuscritos gregos mantêm a construção unificada.
Hebreus 1:8 - O Vocativo Divino
Texto grego: πρὸς δὲ τὸν υἱὸν· ὁ θρόνος σου, ὁ θεός, εἰς τὸν αἰῶνα τοῦ αἰῶνος.
Aqui, o autor de Hebreus cita o Salmo 45:6 (LXX) para descrever a exaltação do Filho. O versículo começa com uma direção ao Filho, afirmando que "teu trono é o de Deus, para todo o sempre". A palavra chave aqui é ὁ θεός, que é interpretada por muitos estudiosos como um vocativo, ou seja, uma chamada direta a Deus, "ó Deus", dirigida ao Filho.
A tradução alternativa proposta por alguns intérpretes, como a interpretação possessiva ("teu trono é o de Deus"), tenta entender a frase em termos de um atributo possessivo ou uma declaração de que o trono do Filho pertence a Deus. No entanto, essa interpretação não é tão forte quando analisamos o uso do vocativo no grego.
1. Vocativo em Grego:
O uso do vocativo é claro no grego, onde a forma ὁ θεός pode ser entendida como um chamado direto. O vocativo é uma forma de se dirigir diretamente a uma pessoa ou entidade, geralmente destacada por seu título ou autoridade. Neste caso, a construção ὁ θεός (ó Deus) não é um predicado possessivo, mas sim um endereçamento direto, o que destaca a divindade do Filho, que é simultaneamente reconhecido como Deus.
2. Contexto do Salmo 45:6 (LXX):
A citação de Salmos 45:6 na versão da Septuaginta (LXX) já aponta para um entendimento tradicional da realeza divina. O Salmo 45 é uma obra de exaltação ao rei, que é descrito com atributos divinos. A frase do Salmo, "ὁ θρόνος σου ὁ θεὸς" (teu trono, ó Deus), é uma expressão de louvor ao rei davídico, que, no contexto hebraico, é uma referência indireta à representação de Deus na terra através da monarquia. No entanto, em Hebreus, essa citação se aplica diretamente ao Filho, indicando que Ele não é apenas o Rei messiânico, mas também o próprio Deus.
3. Reforço do Vocativo:
O uso do vocativo aqui também é reforçado pelo contraste com os anjos, que são descritos em Hebreus 1:7 como "servos" e "espíritos" (πνεύματα), enquanto o Filho é diretamente adorado e reconhecido como Deus, com Seu trono estabelecido "para o sempre". A diferença entre a função dos anjos e a do Filho é uma clara distinção de autoridade e natureza.
A argumentação em torno de Hebreus 1:8 e Salmos 45:6 aponta para uma afirmação clara da divindade de Cristo, com o vocativo ὁ θεός funcionando como uma chamada direta ao Filho, reconhecendo-O não apenas como o Messias, mas como Deus em toda a Sua plenitude. Essa interpretação é apoiada tanto pelo contexto histórico e patrístico quanto pelo próprio uso gramatical do grego.
Atos 20:28 - O Sangue de Deus
Texto grego: τὴν ἐκκλησίαν τοῦ θεοῦ ἣν περιεποιήσατο διὰ τοῦ αἵματος τοῦ ἰδίου
Análise crítica textual:
* Variantes textuais: τοῦ θεοῦ (Deus) vs. τοῦ κυρίου (Senhor)
* Manuscritos principais: A variante "τοῦ θεοῦ" (Deus) é apoiada pelos manuscritos principais, como P74, א, A, B, e essa leitura é amplamente defendida pela maioria dos estudiosos. Isso sugere que, no contexto lucano e paulino, a igreja é descrita como sendo "de Deus", enfatizando a origem divina e a autoridade suprema de Deus sobre a igreja. Por outro lado, "τοῦ κυρίου" (Senhor), que aparece em alguns manuscritos, pode ser uma variante mais tardia, possivelmente visando enfatizar a relação direta de Jesus com a igreja, tratando-a como a "igreja do Senhor" (Jesus). Essa variante não diminui a cristologia, mas desloca o foco de Deus Pai para Jesus Cristo.
* Interpretação: "Τοῦ ἰδίου" pode ser interpretado de duas maneiras:
Substantivada: Refere-se ao "seu próprio [Filho]" (Jesus), indicando que a igreja foi comprada pelo sacrifício de Cristo, com seu próprio sangue.
Adjetival: Refere-se ao "seu próprio [sangue]", onde o foco seria o sangue de Cristo, enfatizando o sacrifício físico de Jesus para a redenção da igreja.
Ambas as interpretações são viáveis, mas o contexto cristológico antigo favorece a ideia de que "seu próprio [Filho]" seja a interpretação predominante, ligando diretamente a ação de Deus Pai ao sacrifício do Filho. Isso reforça a unidade entre o Pai e o Filho na salvação da humanidade.
* Na cristologia antiga, especialmente nos escritos de João, como em João 1:14 ("O Verbo se fez carne"), vemos a união hipostática, ou seja, a união plena da divindade e humanidade em Cristo. A referência ao "sangue" de Cristo em Atos 20:28, portanto, não é apenas uma referência à humanidade de Jesus, mas também à sua divindade, uma vez que, no contexto da fé, o sacrifício do Filho de Deus é visto como a ação redentora de Deus em Seu Filho. Além disso, o uso do termo "Deus" em vez de "Senhor" pode ser entendido dentro dessa cristologia, onde o sacrifício de Cristo é visto não apenas como um ato do Filho, mas também como um ato de Deus em Cristo, reforçando a divindade de Jesus.
O contexto lucano é consistente em aplicar títulos divinos a Jesus. Lucas frequentemente enfatiza a divindade de Cristo, reconhecendo-o como Senhor e Deus, especialmente em passagens que revelam a sua missão redentora e salvífica. Ao dizer que a igreja foi comprada "pelo sangue de Deus", Lucas está, sem dúvida, afirmando a divindade de Jesus e a redenção que vem através de Seu sacrifício.
A variante "τοῦ θεοῦ" (Deus) é mais provável, dada a evidência textual e a cristologia antiga que afirma a divindade de Cristo e sua ação redentora. A expressão "τοῦ ἰδίου" pode ser interpretada tanto de forma substantivada (referindo-se ao Filho de Deus) quanto adjetival (referindo-se ao sangue de Cristo), sendo que ambas as interpretações apontam para a centralidade do sacrifício de Cristo na salvação da igreja. Em qualquer caso, a ideia de que a igreja foi comprada pelo sangue de Deus destaca a união hipostática entre a divindade e humanidade de Cristo, um tema central, especialmente conforme visto na cristologia de Lucas e João.
Isaías 9:6 - Análise Hebraica
Texto hebraico: וַיִּקְרָא שְׁמוֹ פֶּלֶא יוֹעֵץ אֵל גִּבּוֹר אֲבִי־עַד שַׂר־שָׁלוֹם
Análise gramatical: A Construção da frase é uma série de nomes compostos sem conectivos A Interpretação tradicional é: "Conselheiro Maravilhoso, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz"
Evidências para a interpretação tradicional:
* Estrutura hebraica: Nomes compostos (smichut) são comuns em títulos reais
* Paralelos: Isaías 10:21 (אֵל גִּבּוֹר) refere-se claramente a YHWH
* Contexto messiânico: Isaías 7:14 (עמנו אל - "Deus conosco") estabelece precedente
Conclusão Exegética
As alegações de "traduções erradas" não se sustentam sob análise rigorosa porque:
1. Ignoram regras gramaticais estabelecidas (como a regra de Granville Sharp)
2. Desconsideram evidências manuscritas majoritárias
3. Aplicam hermenêutica seletiva ignorando contextos mais amplos
4. Contradizem o consenso patrístico dos primeiros séculos
A diversidade de traduções reflete complexidade textual legítima, não conspiração teológica. As interpretações tradicionais permanecem exegética e gramaticalmente superiores às alternativas propostas.
Cristologia joanina vs. sinótica
Argumento do vídeo: O "Jesus" de João é diferente do "Jesus" dos Sinóticos — mais "atrevido" e "divino".
Refutação:
Romilson ignora o propósito do livro. João declara seu objetivo: mostrar que "Jesus é o Cristo, o Filho de Deus" (Jo 20:31).
João enfatiza aspectos da identidade de Jesus que os Sinóticos abordam mais sutilmente.
João escreve mais tarde, com maior tempo para reflexão espiritual. Para justamente não haver confusão, mas parece que deveria ter escrito mais tarde visto que é notório a aberração da interpretação de Romilson.
João escreve para gentios e judeus helenísticos, requerendo explicações mais explícitas.
O Jesus de João realiza os mesmos tipos de milagres, ensina sobre o Reino, e morre na cruz pelos pecados. O único “Jesus” diferente é o de Romilson. Um salvador que se preocupa como seu nome é pronunciado, e que deixou que o Evangelho de João estivesse perto das consideradas Escrituras, como pode? Que espírito é esse?
Análise do comportamento de Jesus
Argumento do vídeo: O Jesus de João é "atrevido" e "agressivo" (limpeza do templo), diferente do "cordeiro manso" dos Sinóticos.
Refutação:
Sinóticos também: Mateus 21:12-13; Marcos 11:15-17; Lucas 19:45-46 narram limpeza do templo. Vemos que sequer ele lê o que considera Escrituras. Isso fica explícito na sua forma analfabeta de falar, e nesse vídeo.
João pode relatar limpeza inicial do ministério; Sinóticos, a final.
João 2:17 conecta a ação ao Salmo 69:9, mostrando zelo profético, não agressão.
"E seus discípulos se lembraram de que está escrito: O zelo da tua casa me consome." (João 2:17)
"O zelo da tua casa me consome, e as afrontas daqueles que te afrontam caem sobre mim." (Salmo 69:9 LXX)
João 2:13-17 descreve a cena em que Jesus vai a Jerusalém durante a Páscoa e, ao ver os mercadores e cambistas no Templo, fica irado e os expulsa, dizendo: "Não façais da casa de meu Pai uma casa de mercado".
Salmo 69 é um salmo de lamento, atribuído a Davi, que expressa profunda angústia e aflição diante das perseguições que ele sofre. No entanto, o versículo 9 (69:9) é particularmente significativo porque fala de um zelo intenso pela casa de Deus, um zelo que consome o salmista. Esse zelo, embora no contexto de Davi, é posteriormente entendido, no Novo Testamento, como uma prefiguração da ação de Jesus pelas pessoas.
Profetas frequentemente usavam ações dramáticas para comunicar mensagens divinas. O que claro, ele ignora.
Considerações Finais
Esta terceira parte do vídeo intensifica as tentativas de desacreditar João através de:
* Falsas dicotomias entre textos que são complementares
* Interpretações literalistas de linguagem idiomática e figuras de estilo
* Anacronismos metodológicos (aplicar padrões modernos a textos antigos)
* Seleção tendenciosa de evidências que parecem apoiar conclusões preconcebidas
* Desconhecimento dos princípios básicos da crítica textual e hermenêutica
Síntese das Três Partes
A análise completa das três partes do vídeo demonstra que:
1. Metodologia deficiente: O sectário Romilson Ferreira utiliza métodos hermenêuticos inadequados, interpretando diferenças como contradições.
2. Desconhecimento histórico: Ignora contextos culturais, cronológicos e literários do primeiro século.
3. Pressupostos teológicos: Parte de conclusões preconcebidas sobre cristologia e busca evidências que as sustentem. Acaba fazendo eisegese (interpretar o texto com sua ideia no momento).
4. Atomização textual: Analisa versículos isolados sem considerar contextos mais amplos. Típico de religiosos e céticos. Quem Romilson diz ser contra e apresentar aquilo que o Sistema Religioso não apresenta, faz a mesma coisa.
5. Falsa oposição: Cria dicotomias artificiais entre evangelhos que são complementares.
Evidências Históricas, Arqueológicas e Manuscritológicas da Autenticidade do Evangelho de João
1. Evidências de Manuscritos Antigos
Papiro 52 (P52) - c. 125-150 d.C.
* Conteúdo: João 18:31-33, 37-38
* Importância: Manuscrito mais antigo do NT, datado apenas 25-50 anos após a composição
* Localização: Biblioteca John Rylands, Manchester
* Significado: Confirma circulação precoce do Evangelho de João no Egito
Papiro 66 (P66) - c. 200 d.C.
* Conteúdo: João 1:1-6:11; 6:35-14:26
* Características: Manuscrito substancial em estado excelente
* Importância: Demonstra estabilidade textual primitiva
Papiro 75 (P75) - c. 175-225 d.C.
* Conteúdo: Lucas e João quase completos
* Significado: Confirma tradição textual que sustenta manuscritos posteriores
2. Códice Muratoriano (c. 170-200 d.C.)
Texto original sobre João:
"Quartum evangeliorum Iohannis ex discipulis. Cohortantibus condiscipulis et episcopis suis dixit: 'Conieiunate mihi hodie triduo, et quid cuique fuerit revelatum, alterutrum nobis enarremus.' Eadem nocte revelatum Andreae ex apostolis ut recognoscentibus cunctis Iohannes suo nomine cuncta describeret."
Tradução:
"O quarto dos evangelhos é de João, um dos discípulos. Quando seus condiscípulos e bispos o encorajaram, disse: 'Jejuem comigo por três dias, e o que for revelado a cada um, contemos uns aos outros.' Na mesma noite foi revelado a André, um dos apóstolos, que João deveria escrever tudo em seu próprio nome, com todos reconhecendo."
Importância: Confirma autoria joanina e aceitação canônica no século II.
3. Evidências Arqueológicas
Piscina de Betesda (João 5:2)
* Descoberta: Escavações de 1888 e 1957-1962
* Confirmação: Estrutura com cinco pórticos exatamente como descrito
* Localização: Próxima à Porta das Ovelhas, como indicado
* Significado: Detalhe que somente alguém familiarizado com Jerusalém pré-70 d.C. conheceria
Litóstrotos - Pavimento (João 19:13)
* Descoberta: Arqueólogos identificaram pavimento romano sob o Convento das Irmãs de Sião
* Descrição: Pedras com jogos gravados pelos soldados romanos
* Confirmação: Corresponde ao local onde Pilatos julgou Jesus
* Importância: Valida detalhes específicos da narrativa da Paixão
Piscina de Siloé (João 9:7)
* Descoberta: 2004-2005, arqueólogos israelenses descobriram a piscina original
* Características: Período do Segundo Templo, com degraus de pedra
* Confirmação: Exatamente onde João localiza o milagre do cego de nascença
4. Testemunhos Patrísticos Primitivos
Irineu de Lyon (c. 180 d.C.)
"João, o discípulo do Senhor, que também se recostou sobre seu peito, ele mesmo publicou um evangelho durante sua residência em Éfeso, na Ásia." (Adversus Haereses 3.1.1)
Clemente de Alexandria (c. 200 d.C.)
"João, último [a escrever], percebendo que as coisas corporais haviam sido expostas nos evangelhos, sendo encorajado por seus amigos e inspirado pelo Espírito, compôs um evangelho espiritual." (Eusébio, História Eclesiástica 6.14.7)
Tertuliano (c. 207 d.C.)
"Dos apóstolos, portanto, João e Mateus primeiro instilam fé em nós." (Adversus Marcionem 4.2)
5. Evidências Geográficas e Culturais Precisas
Detalhes Topográficos
* Caná da Galileia: Localização específica e correta
* Betânia além do Jordão: Distingue de Betânia próxima a Jerusalém
* Enon perto de Salim: Local específico para batismo de João Batista
* Efraim: Cidade próxima ao deserto (João 11:54)
Conhecimento de Costumes Judaicos
* Purificação com água: Detalhes precisos sobre mikvot (banhos rituais)
* Festas judaicas: Descrições detalhadas da Páscoa, Festa dos Tabernáculos
* Procedimentos legais: Conhecimento do sistema judiciário do período
6. Evidências Linguísticas
Aramaísmos
* Cefas: Tradução explicada (1:42)
* Tomé: "chamado Dídimo" (11:16)
* Messias: "que se traduz Cristo" (1:41)
* Raboni: "que quer dizer Mestre" (20:16)
Semitismos
* Construções paralelas típicas da poesia hebraica
* Uso de "amém, amém" (duplo) - característica única
7. Crítica Textual Moderna
Consenso Acadêmico
* Bruce Metzger: "A evidência externa para João é excepcionalmente forte"
* F.F. Bruce: "As evidências arqueológicas confirmam a precisão topográfica joanina"
* Craig Blomberg: "João demonstra conhecimento íntimo da Palestina pré-70 d.C."
Descobertas de Qumran
* Manuscritos do Mar Morto: Confirmam ambiente sectário descrito em João
* Linguagem dualística: Luz/trevas, verdade/mentira correspondem aos textos essênios
Messianismo: Expectativas messiânicas paralelas
8. Evidências Cronológicas
Datação Consensual
* Composição: 80-100 d.C.
* Circulação: Egito (P52) até 150 d.C.
* Aceitação: Canônica até 200 d.C.
Conhecimento Pré-70 d.C.
* Templo: Descrito no presente (2:20)
* Jurisdição: Detalhes sobre autoridade romana e judaica
* Geografia: Jerusalém antes da destruição
9. Conclusão das Evidências
O Evangelho de João possui suporte acadêmico excepcional:
1. Manuscritológico: Mais de 124 papiros e códices antigos
2. Arqueológico: Confirmação de detalhes específicos impossíveis de inventar
3. Patrístico: Testemunho unânime da chamada Igreja primitiva
4. Geográfico: Precisão topográfica demonstrável
5. Cultural: Conhecimento íntimo dos costumes judaicos do século I
Essas evidências convergem para demonstrar que o Evangelho de João é historicamente confiável, arqueologicamente verificável e manuscritologicamente bem atestado.
Conclusão Acadêmica
O Evangelho de João permanece:
Historicamente confiável: Apoiado por evidências arqueológicas, contexto cultural e crítica textual
Espiritualmente consistente: Harmonioso com a tradição apostólica e dos nossos irmãos antigos
Canonicamente legítimo: Reconhecido universalmente pelas pessoas antigas através de critérios rigorosos
Espiritualmente edificante: Fonte de inspiração e crescimento para milhões de pessoas ao longo dos séculos
Resumo final:
As críticas apresentadas nas três partes do vídeo resultam mais de limitações metodológicas e pressupostos teológicos do crítico do que de problemas reais no texto joanino. O Evangelho de João continua sendo um documento fundamental para a compreensão da pessoa e obra de Jesus Cristo, oferecendo perspectiva única e valiosa que complementa e enriquece os evangelhos sinóticos.
Romilson, assim como seus seguidores, são todos ignorantes, alguns idosos que sequer têm acesso ao português, e acham que entendem de hebraico. São anti-evangelho, seguidores de falsos mestres, gurus de internet, rejeitam a encarnação de Deus em Cristo, usam as mesmas metodologias de céticos, ocultistas e religiosos. Creem em ideias vindas de enganadores, são viciados em errar e acertam em encontrar alguém do seu nível para os ensinar mentiras. Eu, mais uma vez, desafio esses religiosos a debater ao vivo ou tentar refutar qualquer coisa aqui escrita. São apenas cheios de (des)conhecimentos em seus canais, enquanto fogem da Verdade.
Referências
https://aventurasnahistoria.com.br/noticias/reportagem/historia-da-crucificacao-punicao-mais-brutal-da-roma-antiga.phtml
1 Corinthians was written… in the spring of AD 53, 54, or 55” (ESV Global Study Bible: Introduction to 1 Corinthians)[1Cor53–55].
HOEHNER, Harold W. Chronological Aspects of the Life of Christ. Grand Rapids: Zondervan, 1977, p. 143–147.
GOTQUESTIONS. “Who wrote the book of 1 Corinthians?” (c. AD 55)【Gál48–50】.
ZONDERVAN ACADEMIC. “When Was Acts Written?” (AD 60–62)【LukeAct60–62】.
João 20:14 – Bíblia de Jerusalém.
1 Coríntios 15:5 – ESV.
Josephus, Antiquities 4.8.15; apud Catholic Answers Magazine.
Gill’s Exposition of the Bible on 1 Coríntios 15:5.
Blomberg, C. L. Jesus and the Gospels, p. 239.
WALLACE, Daniel B. Greek Grammar Beyond the Basics
METZGER, Bruce M. A Textual Commentary on the Greek New Testament
HARRIS, Murray J. Jesus as God: The New Testament Use of Theos
SHARP, Granville. Remarks on the Uses of the Definitive Article
ROBINSON, John A.T. Redating the New Testament
BAUCKHAM, Richard. Jesus and the Eyewitnesses
BLOMBERG, Craig. The Historical Reliability of John's Gospel
HENGEL, Martin. The Johannine Question
KÖSTENBERGER, Andreas. John (Baker Exegetical Commentary)
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