terça-feira, 29 de julho de 2025

"𝗬𝗮𝘂" 𝗲́ 𝗲𝘃𝗶𝗱𝗲𝗻𝗰𝗶𝗮𝗱𝗼 𝗲𝗺 𝘂𝗺𝗮 𝘀𝗲́𝗿𝗶𝗲 𝗱𝗲 𝗲𝘃𝗶𝗱𝗲̂𝗻𝗰𝗶𝗮𝘀 𝗲 𝗮𝗿𝗴𝘂𝗺𝗲𝗻𝘁𝗼𝘀 𝗯𝗮𝘀𝗲𝗮𝗱𝗼𝘀 𝗲𝗺 𝗱𝗲𝘀𝗰𝗼𝗯𝗲𝗿𝘁𝗮𝘀 𝗮𝗿𝗾𝘂𝗲𝗼𝗹𝗼́𝗴𝗶𝗰𝗮𝘀, 𝗲𝘀𝘁𝘂𝗱𝗼𝘀 𝗹𝗶𝗻𝗴𝘂𝗶́𝘀𝘁𝗶𝗰𝗼𝘀 𝗲 𝗿𝗲𝗴𝗶𝘀𝘁𝗿𝗼𝘀 𝗵𝗶𝘀𝘁𝗼́𝗿𝗶𝗰𝗼𝘀?

 "𝗬𝗮𝘂" 𝗲́ 𝗲𝘃𝗶𝗱𝗲𝗻𝗰𝗶𝗮𝗱𝗼 𝗲𝗺 𝘂𝗺𝗮 𝘀𝗲́𝗿𝗶𝗲 𝗱𝗲 𝗲𝘃𝗶𝗱𝗲̂𝗻𝗰𝗶𝗮𝘀 𝗲 𝗮𝗿𝗴𝘂𝗺𝗲𝗻𝘁𝗼𝘀 𝗯𝗮𝘀𝗲𝗮𝗱𝗼𝘀 𝗲𝗺 𝗱𝗲𝘀𝗰𝗼𝗯𝗲𝗿𝘁𝗮𝘀 𝗮𝗿𝗾𝘂𝗲𝗼𝗹𝗼́𝗴𝗶𝗰𝗮𝘀, 𝗲𝘀𝘁𝘂𝗱𝗼𝘀 𝗹𝗶𝗻𝗴𝘂𝗶́𝘀𝘁𝗶𝗰𝗼𝘀 𝗲 𝗿𝗲𝗴𝗶𝘀𝘁𝗿𝗼𝘀 𝗵𝗶𝘀𝘁𝗼́𝗿𝗶𝗰𝗼𝘀?





Há tempos um sectário de Yauh demonstrou até que enfim uma referência bibliográfica que encontrava "Yau" em nomes teofóricos, ou seja, um nome que contém elementos que remetem a uma divindade ou deus, e isso seria uma prova de que "Yauh" é o nome correto para Deus. Ele se utilizou do livro O Deus dos semitas, livro por João Evangelista Martins Terra, um jesuíta, bispo católico e bispo auxiliar emérito de Brasília. Na página 110 encontramos a seguinte menção:

"𝘈 𝘥𝘦𝘴𝘤𝘰𝘣𝘦𝘳𝘵𝘢 𝘮𝘢𝘪𝘴 𝘦𝘴𝘱𝘦𝘵𝘢𝘤𝘶𝘭𝘢𝘳, 𝘰𝘶 𝘦𝘯𝘵𝘢̃𝘰 𝘰 𝘮𝘢𝘪𝘰𝘳 𝘦𝘯𝘪𝘨𝘮𝘢 𝘢𝘱𝘳𝘦𝘴𝘦𝘯𝘵𝘢𝘥𝘰 𝘱𝘦𝘭𝘰𝘴 𝘵𝘦𝘹𝘵𝘰𝘴 𝘥𝘦 𝘌𝘣𝘭𝘢, 𝘦́ 𝘢 𝘥𝘦𝘴𝘤𝘰𝘣𝘦𝘳𝘵𝘢 𝘥𝘦 𝘶𝘮 𝘥𝘦𝘶𝘴 𝘠𝘢, 𝘱𝘰𝘴𝘴𝘪́𝘷𝘦𝘭 𝘢𝘣𝘳𝘦𝘷𝘪𝘢𝘤̧𝘢̃𝘰 𝘥𝘦 𝘠𝘢𝘶, 𝘲𝘶𝘦 𝘯𝘰𝘴 𝘵𝘦𝘹𝘵𝘰𝘴 𝘵𝘦𝘰𝘧𝘰́𝘳𝘪𝘤𝘰𝘴 𝘢𝘱𝘢𝘳𝘦𝘤𝘦 𝘳𝘦𝘭𝘢𝘤𝘪𝘰𝘯𝘢𝘥𝘰 𝘤𝘰𝘮 𝘐𝘭. 𝘘𝘶𝘢𝘯𝘥𝘰 𝘠𝘢 𝘰𝘤𝘰𝘳𝘳𝘦 𝘯𝘰 𝘧𝘪𝘮 𝘥𝘰 𝘯𝘰𝘮𝘦, 𝘱𝘰𝘥𝘦𝘳𝘪𝘢 𝘴𝘦𝘳 𝘪𝘯𝘵𝘦𝘳𝘱𝘳𝘦𝘵𝘢𝘥𝘰 𝘤𝘰𝘮𝘰 𝘶𝘮 𝘴𝘪𝘮𝘱𝘭𝘦𝘴 𝘩𝘪𝘱𝘰𝘤𝘰𝘳𝘪́𝘴𝘵𝘪𝘤𝘰. 𝘔𝘢𝘴 𝘗𝘦𝘵𝘵𝘪𝘯𝘢𝘵𝘰 𝘥𝘦𝘮𝘰𝘯𝘴𝘵𝘳𝘰𝘶 𝘲𝘶𝘦 𝘠𝘢 𝘱𝘰𝘥𝘦 𝘰𝘤𝘰𝘳𝘳𝘦𝘳 𝘵𝘢𝘮𝘣𝘦́𝘮 𝘯𝘰 𝘤𝘰𝘮𝘦𝘤̧𝘰. 𝘈𝘭𝘦́𝘮 𝘥𝘪𝘴𝘴𝘰, 𝘢𝘭𝘨𝘶𝘯𝘴 𝘵𝘦𝘹𝘵𝘰𝘴 𝘱𝘢𝘳𝘦𝘤𝘦𝘮 𝘥𝘦𝘮𝘰𝘯𝘴𝘵𝘳𝘢𝘳 𝘲𝘶𝘦 𝘠𝘢 𝘦́ 𝘶𝘮𝘢 𝘢𝘣𝘳𝘦𝘷𝘪𝘢𝘤̧𝘢̃𝘰 𝘥𝘦 𝘠𝘢𝘶, 𝘤𝘰𝘮𝘰 𝘴𝘦 𝘱𝘰𝘥𝘦 𝘤𝘰𝘯𝘴𝘵𝘢𝘵𝘢𝘳 𝘯𝘰 𝘤𝘰𝘯𝘧𝘳𝘰𝘯𝘵𝘰 𝘥𝘰 𝘯𝘰𝘮𝘦 𝘴̌𝘶-𝘮𝘪-𝘢 𝘤𝘰𝘮 𝘴̌𝘶-𝘮𝘪-𝘢𝘪 = 𝘯𝘰𝘮𝘦 𝘥𝘦 𝘠𝘢 (𝘶)¹³.

𝘖𝘶𝘵𝘳𝘢 𝘥𝘦𝘴𝘤𝘰𝘣𝘦𝘳𝘵𝘢 𝘥𝘦 𝘗𝘦𝘵𝘵𝘪𝘯𝘢𝘵𝘰 𝘦́ 𝘲𝘶𝘦, 𝘢𝘵𝘦́ 𝘰 𝘳𝘦𝘪𝘯𝘰 𝘥𝘰 𝘳𝘦𝘪 𝘌𝘣𝘳𝘪𝘶𝘮, 𝘩𝘢́ 𝘮𝘶𝘪𝘵𝘪́𝘴𝘴𝘪𝘮𝘰𝘴 𝘯𝘰𝘮𝘦𝘴 𝘵𝘦𝘰𝘧𝘰́𝘳𝘪𝘤𝘰𝘴 𝘤𝘰𝘮𝘱𝘰𝘴𝘵𝘰𝘴 𝘤𝘰𝘮 𝘐𝘭, 𝘮𝘢𝘴 𝘱𝘳𝘦𝘤𝘪𝘴𝘢𝘮𝘦𝘯𝘵𝘦 𝘤𝘰𝘮 𝘦𝘴𝘴𝘦 𝘳𝘦𝘪 𝘩𝘢́ 𝘶𝘮𝘢 𝘳𝘦𝘷𝘰𝘭𝘶𝘤̧𝘢̃𝘰, 𝘱𝘰𝘳𝘲𝘶𝘦 𝘦𝘮 𝘭𝘶𝘨𝘢𝘳 𝘥𝘦 𝘐𝘭 𝘦𝘯𝘵𝘳𝘢 𝘠𝘢 𝘤𝘰𝘮𝘰 𝘦𝘭𝘦𝘮𝘦𝘯𝘵𝘰 𝘥𝘪𝘷𝘪𝘯𝘰 𝘥𝘰𝘴 𝘯𝘰𝘮𝘦𝘴 𝘵𝘦𝘰𝘧𝘰́𝘳𝘪𝘤𝘰𝘴, 𝘤𝘰𝘮𝘰 𝘴𝘦 𝘱𝘰𝘥𝘦 𝘷𝘦𝘳 𝘯𝘰𝘴 𝘴𝘦𝘨𝘶𝘪𝘯𝘵𝘦𝘴 𝘦𝘹𝘦𝘮𝘱𝘭𝘰𝘴¹⁴:

𝘦𝘯-𝘯𝘢-𝘪𝘭 𝘦𝘯-𝘯𝘢-𝘪𝘢 𝘪𝘴-𝘳𝘢-𝘪𝘭 𝘪𝘴-𝘳𝘢-𝘪𝘢 𝘪𝘴-𝘮𝘢-𝘪𝘭 𝘪𝘴-𝘮𝘢-𝘪𝘢 𝘮𝘪-𝘬𝘢̀-𝘪𝘭 𝘮𝘪-𝘬𝘢̀-𝘪𝘢 𝘩𝘢-𝘳𝘢-𝘪𝘭 𝘩𝘢-𝘳𝘢-𝘪𝘢 𝘵𝘪-𝘳𝘢-𝘪𝘭 𝘵𝘪-𝘳𝘢-𝘪𝘢 𝘵𝘢𝘮-𝘵𝘢́-𝘪𝘭 𝘵𝘢𝘮-𝘵𝘢́-𝘪𝘢 𝘦𝘣-𝘥𝘶-𝘪𝘭 𝘦𝘣-𝘥𝘶-𝘪𝘢

A primeira consideração a se fazer é que o autor aqui diz "possível abreviação", nem ele mesmo afirma que o é. Mas há uma outra confusão que estes sectários fazem, eles não suficientes em demonstrar suas bizarras interpretações dos textos escriturísticos, passam vergonha até em um livro secular. A confusão surge quando tentamos correlacionar abreviações ou formas regionais antigas diretamente com formas não suportadas pela gramática hebraica. O nome "Yauh" é uma construção moderna que não possui base linguística ou arqueológica. O livro, pelo menos nesta página, defende que nos textos de Ebla e outras inscrições antigas, "Yau" é uma forma abreviada do nome divino que está presente em nomes teofóricos. Isso mostra que existia uma prática de abreviar nomes divinos em diferentes culturas semíticas. Ou seja, "Yau" ali é uma abreviação, não está em sua forma completa. O autor menciona que Giovanni Pettinato, um renomado epigrafista, interpretou "Ya" como uma possível abreviação de "Yau" e demonstrou que "Ya" pode aparecer no início e no final dos nomes teofóricos. No entanto, isso não significa que "Yau" é defendido como o nome de Deus no hebraico bíblico. Para Giovanni Pettinato (historiador), "Ya" e "Yau" são formas abreviadas encontradas em textos de Ebla e outros registros antigos, que refletem a religiosidade dessa época e região. Alguns estudiosos argumentam que "Ya" é uma forma abreviada de "Yahweh", enquanto "Yau" pode ter sido uma variação regional.

𝗧𝗲𝘅𝘁𝗼𝘀 𝗱𝗲 𝗘𝗯𝗹𝗮

Os textos de Ebla, que datam de cerca de 2500 a.C., são uma das principais fontes de evidência. Neles, encontramos nomes teofóricos que utilizam "Ya" ou "Yau" como elemento divino. Aqui estão alguns exemplos:

Nomes Teofóricos: Nomes como Yakun ("Ya estabeleceu") e Yadbib ("Ya é pai") demonstram o uso de "Ya" no início dos nomes.

Flexibilidade: A presença de "Ya" ou "Yau" tanto no início quanto no final dos nomes indica a flexibilidade e a importância desse deus na cultura semítica da época.

𝗗𝗲𝘀𝗰𝗼𝗯𝗲𝗿𝘁𝗮𝘀 𝗔𝗿𝗾𝘂𝗲𝗼𝗹𝗼́𝗴𝗶𝗰𝗮𝘀

As descobertas em sítios arqueológicos, como Ebla, Ugarit e Mari, incluem tabletes de argila e inscrições que mencionam divindades e nomes teofóricos com "Ya" ou "Yau". Essas descobertas fornecem evidências concretas do uso desses elementos divinos.

𝗘𝘀𝘁𝘂𝗱𝗼𝘀 𝗟𝗶𝗻𝗴𝘂𝗶́𝘀𝘁𝗶𝗰𝗼𝘀

Estudos linguísticos sobre as línguas semíticas antigas, como o hebraico, o acadiano e o ugarítico, mostram que a prática de abreviar nomes divinos era comum. "Ya" e "Yau" são reconhecidos como formas abreviadas de nomes divinos nesses contextos. Alguns estudiosos argumentam que "Ya" é uma forma abreviada de "Yahweh", enquanto "Yau" pode ter sido uma variação regional.

E mesmo que apresentem estas provas, ela trata de uma abreviação, não um nome completo. Nem o autor como o historiador acredita que deriva de "Yauh" mas sim do Tetragrama YHWH. E porque "Yauh" continua sendo uma farsa? No hebraico bíblico, as combinações de vogais seguem padrões específicos, e "a" seguida por "u" não é uma junção comum. As combinações mais comuns são "a-o", "e-o" e "i-a". Portanto, "Yauh" não segue a estrutura gramatical habitual do hebraico antigo. Embora "Yau" apareça nos textos de Ebla, isso não indica que a forma é válida em hebraico bíblico, mas sim que era uma prática de abreviação usada em outras línguas semíticas daquela época. As abreviações como "Ya" são consistentes com a gramática hebraica, mas "Yauh" não possui respaldo linguístico. Portanto, as formas abreviadas "Ya" e "Yau" encontradas em textos de Ebla pertencem a outras tradições semíticas e não se traduzem diretamente para o hebraico bíblico. Mas Nicolas, os judeus hoje pronunciam "Netanyau" em vez de "Netanyahu", então o nome de Deus é Yauh! Isso já foi explicado em vídeo¹, mas vou escrever sucintamente sobre. Isso se trata de uma pronúncia Moderno-Hebraica. Abaixo irei separar o nome para simplificar.

Netanyahu (נתניהו): Este nome é composto por "Natan" (נתן) que significa "deu" e "Yahu" (יהו), uma forma teofórica que se refere a YHWH, o nome divino.

Netanyau (נתניאו): Algumas variações modernas do nome, especialmente em contextos informais ou coloquiais, podem simplificar a pronúncia para "Netanyau". Esta é apenas uma questão de pronúncia prática e não altera a estrutura ou significado do nome.

𝗨𝘀𝗼 𝗱𝗼 𝗧𝗲𝘁𝗿𝗮𝗴𝗿𝗮𝗺𝗮 𝗲𝗺 𝗡𝗼𝗺𝗲𝘀 𝗧𝗲𝗼𝗳𝗼́𝗿𝗶𝗰𝗼𝘀:

יהו (Yahu): Esta forma teofórica é uma abreviação comum do tetragrama YHWH (יהוה) e aparece em muitos nomes hebraicos, como Yesha'yahu (Isaías) e Eli'yahu (Elias).

יה (Yah): Outra forma abreviada que aparece em nomes como Yeremiyahu (Jeremias) e Yeshayahu (Isaías).

A omissão do "hê" no final, transformando "Yahu" em "Yau" para simplificação, não significa que a forma original se refira a "Yauh". O "hê" (ה) em nomes teofóricos é uma parte importante do tetragrama e omiti-lo para facilidade de pronúncia não altera seu significado original ou estrutura. Se eu tenho um colega que se chama João, posso chamar ele de "Jão", ele vai saber que estou falando com ele e os outros ao meu redor também, nem por isso seu nome vai ser "Jão" ou vou escrever desta forma seu nome, ele continuará sendo João! Antônio, pode ser um nome de um cético de internet com "argumentos" há tempos refutadas, mas posso chamá-lo de Toninho, Nino, ou Tonho. Embora o nome completo seja "Antônio", é comum usar formas abreviadas ou diminutivas no dia a dia, como "Toninho" ou "Nino". Maria para "Mariazinha", Alexandre para "Xandão", Gabriela para "Gabi" ou "Gabizinha", Francisco para "Chico" ou "Chiquinho, e assim por diante. É comum em muitas línguas simplificações coloquiais de pronúncia que não refletem mudanças na forma escrita ou oficial do nome. Portanto, a pronúncia moderna de nomes como "Netanyau" ao invés de "Netanyahu" é uma questão de simplificação linguística e prática, e não oferece suporte à ideia de que o nome de Deus é "Yauh". O máximo que pode-se dizer é que "Yau" é abreviação, mas não é encontrada assim no hebraico. O nome do Eterno é יהוה (YHWH = Yahuwah=Yah), o nome do Messias, o Unigênito do Eterno, é Yehoshua/Yeshua (יהושע / יהושוע), que significa "YHWH/Yah salva". YEHOSHU’A ( יהושוע ) é uma contração do Nome do Eterno (יְהוָה) com o verbo salvar ( ישע / יֶשַׁע ), Yehoshua/Yeshua = “o Eterno é o seu auxílio, socorro, salvação”. Se considerarmos regras antiguíssimas do hebraico, teremos Yahwah, a pronúncia seria "Yahvah", como também foi explicado em outro vídeo. "Yauh" e outras variantes não passam de farsas de sectários ignorantes de internet.

Para mais refutações contra esses sectários, é só ler o meu livro "Refutando completamente as provas do nome Yauh". Que Deus, YHWH/Yahuwah, continue os abençoando.

¹ https://www.facebook.com/nicolas.breno.9421/videos/712881394200627
https://www.youtube.com/watch?v=wtVySETJWug

𝗡𝗶𝗰𝗼𝗹𝗮𝘀 𝗕𝗿𝗲𝗻𝗼

segunda-feira, 28 de julho de 2025

A linha do tempo do fim dos tempos

 A linha do tempo do fim dos tempos


     Na Escritura é profetizado um período chamado de Grande Tribulação, caracterizado por angústia mundial, perseguição severa (especialmente contra Israel e os crentes), e eventos apocalípticos que abalam a humanidade, conforme descrito em Mateus 24 e Apocalipse.

    Ao final desse tempo, ocorre o retorno visível de Jesus Cristo (a Segunda Vinda), um evento que será visto por todos. Neste momento, acontece também o arrebatamento: os mortos em Cristo ressuscitam, os crentes vivos são transformados, e juntos vão ao encontro do Senhor nos ares. Simultaneamente, um juízo de destruição cai sobre a terra, fogo vindo do céu, consumindo os ímpios e toda a ordem antiga, numa purificação semelhante ao dilúvio, mas agora através do fogo (cf. 2 Pedro 3:10-12).

Logo após o retorno de Cristo, ocorre o Juízo das Nações (Mateus 25), onde Jesus separa “ovelhas” (os justos sobreviventes em corpos naturais) dos “bodes” (os ímpios). As ovelhas entram no Reino Milenar, enquanto os bodes são afastados para a condenação.

     Segue-se o Reino Milenar: Jesus estabelece um governo de mil anos (período simbólico ou literal de reinado) sobre a terra restaurada. No Milênio, convivem os santos glorificados (arrebatados e ressuscitados) com os sobreviventes justos ainda em corpos naturais. Satanás está preso no abismo durante esse tempo e não pode enganar as nações.

No final dos mil anos, Satanás é solto por pouco tempo, promovendo uma última rebelião mundial (a batalha de Gogue e Magogue). Deus intervém novamente com fogo do céu, derrotando totalmente os rebeldes. Então, Satanás é lançado definitivamente no lago de fogo.

     Depois disso ocorre a segunda ressurreição: todos os mortos que não participaram da primeira ressurreição são trazidos diante do grande trono branco para o juízo final. Cada um é julgado segundo suas obras; aqueles cujos nomes não estão no Livro da Vida são lançados no lago de fogo, junto com a própria morte e o Hades, o que é chamado de “segunda morte”.

Por fim, Deus cria um novo céu e uma nova terra, inaugurando o estado eterno de perfeita comunhão entre Deus e Seu povo, sem mais dor, morte ou maldição.


Grande Tribulação:

 → Tempo de sofrimento global, perseguição, sinais apocalípticos.


Retorno Visível de Jesus + Arrebatamento:

 → Jesus retorna, todo olho vê; mortos em Cristo ressuscitam, crentes vivos são transformados e arrebatados;

→ Fogo do céu destrói os ímpios e purifica a terra.


Juízo das Nações (Ovelhas e Bodes):

 → Jesus julga os sobreviventes das nações;

→ Justos (ovelhas) entram no Milênio, ímpios (bodes) são condenados.


Milênio (Reino Messiânico):

 → Cristo reina sobre a terra restaurada por um período definido (descrito simbolicamente como “mil anos”), com santos glorificados e justos sobreviventes;


   O termo “mil anos” pode ser entendido de forma simbólica, representando um ciclo completo ou período escatológico de restauração e reinado de Cristo na terra, não necessariamente um período literal de 1.000 anos cronológicos.


→ Israel em destaque; Satanás está preso.

Libertação de Satanás e Rebelião Final:

 → Satanás é solto, reúne rebelião global (Gogue e Magogue);

→ Deus derrota a rebelião com fogo do céu;

→ Satanás lançado no lago de fogo.


Juízo Final (Trono Branco):

 → Segunda ressurreição: todos os mortos ímpios julgados segundo suas obras;

→ Os não salvos são lançados no lago de fogo (segunda morte).


Novo Céu e Nova Terra (Estado Eterno):

 → Deus faz novas todas as coisas, comunhão perfeita para sempre.

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Refutando bobices dos ateístas 34

𝗥𝗲𝗳𝘂𝘁𝗮𝗻𝗱𝗼 𝗯𝗼𝗯𝗶𝗰𝗲𝘀 𝗱𝗼𝘀 𝗮𝘁𝗲𝗶́𝘀𝘁𝗮𝘀 𝟯𝟰





A narrativa de Gênesis 19:30-38 relata um episódio desconcertante envolvendo Ló e suas duas filhas após a destruição de Sodoma e Gomorra. Este evento levanta questões éticas e morais profundas, além de consequências históricas e culturais significativas.


“𝘓𝘰́ 𝘱𝘢𝘳𝘵𝘪𝘶 𝘥𝘦 𝘡𝘰𝘢𝘳 𝘤𝘰𝘮 𝘴𝘶𝘢𝘴 𝘥𝘶𝘢𝘴 𝘧𝘪𝘭𝘩𝘢𝘴 𝘦 𝘱𝘢𝘴𝘴𝘰𝘶 𝘢 𝘷𝘪𝘷𝘦𝘳 𝘯𝘢𝘴 𝘮𝘰𝘯𝘵𝘢𝘯𝘩𝘢𝘴, 𝘱𝘰𝘳𝘲𝘶𝘦 𝘵𝘪𝘯𝘩𝘢 𝘮𝘦𝘥𝘰 𝘥𝘦 𝘱𝘦𝘳𝘮𝘢𝘯𝘦𝘤𝘦𝘳 𝘦𝘮 𝘡𝘰𝘢𝘳. 𝘌𝘭𝘦 𝘦 𝘴𝘶𝘢𝘴 𝘥𝘶𝘢𝘴 𝘧𝘪𝘭𝘩𝘢𝘴 𝘧𝘪𝘤𝘢𝘳𝘢𝘮 𝘮𝘰𝘳𝘢𝘯𝘥𝘰 𝘯𝘶𝘮𝘢 𝘤𝘢𝘷𝘦𝘳𝘯𝘢.

𝘜𝘮 𝘥𝘪𝘢, 𝘢 𝘧𝘪𝘭𝘩𝘢 𝘮𝘢𝘪𝘴 𝘷𝘦𝘭𝘩𝘢 𝘥𝘪𝘴𝘴𝘦 𝘢̀ 𝘮𝘢𝘪𝘴 𝘫𝘰𝘷𝘦𝘮: "𝘕𝘰𝘴𝘴𝘰 𝘱𝘢𝘪 𝘫𝘢́ 𝘦𝘴𝘵𝘢́ 𝘷𝘦𝘭𝘩𝘰, 𝘦 𝘯𝘢̃𝘰 𝘩𝘢́ 𝘩𝘰𝘮𝘦𝘯𝘴 𝘯𝘢𝘴 𝘳𝘦𝘥𝘰𝘯𝘥𝘦𝘻𝘢𝘴 𝘲𝘶𝘦 𝘯𝘰𝘴 𝘱𝘰𝘴𝘴𝘶𝘢𝘮, 𝘴𝘦𝘨𝘶𝘯𝘥𝘰 𝘰 𝘤𝘰𝘴𝘵𝘶𝘮𝘦 𝘥𝘦 𝘵𝘰𝘥𝘢 𝘢 𝘵𝘦𝘳𝘳𝘢.

𝘝𝘢𝘮𝘰𝘴 𝘥𝘢𝘳 𝘷𝘪𝘯𝘩𝘰 𝘢 𝘯𝘰𝘴𝘴𝘰 𝘱𝘢𝘪 𝘦 𝘦𝘯𝘵𝘢̃𝘰 𝘯𝘰𝘴 𝘥𝘦𝘪𝘵𝘢𝘳𝘦𝘮𝘰𝘴 𝘤𝘰𝘮 𝘦𝘭𝘦 𝘱𝘢𝘳𝘢 𝘱𝘳𝘦𝘴𝘦𝘳𝘷𝘢𝘳 𝘢 𝘭𝘪𝘯𝘩𝘢𝘨𝘦𝘮 𝘥𝘦 𝘯𝘰𝘴𝘴𝘰 𝘱𝘢𝘪".

𝘕𝘢𝘲𝘶𝘦𝘭𝘢 𝘯𝘰𝘪𝘵𝘦 𝘥𝘦𝘳𝘢𝘮 𝘷𝘪𝘯𝘩𝘰 𝘢𝘰 𝘱𝘢𝘪, 𝘦 𝘢 𝘧𝘪𝘭𝘩𝘢 𝘮𝘢𝘪𝘴 𝘷𝘦𝘭𝘩𝘢 𝘦𝘯𝘵𝘳𝘰𝘶 𝘦 𝘴𝘦 𝘥𝘦𝘪𝘵𝘰𝘶 𝘤𝘰𝘮 𝘦𝘭𝘦. 𝘌 𝘦𝘭𝘦 𝘯𝘢̃𝘰 𝘱𝘦𝘳𝘤𝘦𝘣𝘦𝘶 𝘲𝘶𝘢𝘯𝘥𝘰 𝘦𝘭𝘢 𝘴𝘦 𝘥𝘦𝘪𝘵𝘰𝘶 𝘯𝘦𝘮 𝘲𝘶𝘢𝘯𝘥𝘰 𝘴𝘦 𝘭𝘦𝘷𝘢𝘯𝘵𝘰𝘶.

𝘕𝘰 𝘥𝘪𝘢 𝘴𝘦𝘨𝘶𝘪𝘯𝘵𝘦 𝘢 𝘧𝘪𝘭𝘩𝘢 𝘮𝘢𝘪𝘴 𝘷𝘦𝘭𝘩𝘢 𝘥𝘪𝘴𝘴𝘦 𝘢̀ 𝘮𝘢𝘪𝘴 𝘯𝘰𝘷𝘢: "𝘖𝘯𝘵𝘦𝘮 𝘢̀ 𝘯𝘰𝘪𝘵𝘦 𝘥𝘦𝘪𝘵𝘦𝘪-𝘮𝘦 𝘤𝘰𝘮 𝘮𝘦𝘶 𝘱𝘢𝘪. 𝘝𝘢𝘮𝘰𝘴 𝘥𝘢𝘳-𝘭𝘩𝘦 𝘷𝘪𝘯𝘩𝘰 𝘵𝘢𝘮𝘣𝘦́𝘮 𝘦𝘴𝘵𝘢 𝘯𝘰𝘪𝘵𝘦, 𝘦 𝘷𝘰𝘤𝘦̂ 𝘴𝘦 𝘥𝘦𝘪𝘵𝘢𝘳𝘢́ 𝘤𝘰𝘮 𝘦𝘭𝘦, 𝘱𝘢𝘳𝘢 𝘲𝘶𝘦 𝘱𝘳𝘦𝘴𝘦𝘳𝘷𝘦𝘮𝘰𝘴 𝘢 𝘭𝘪𝘯𝘩𝘢𝘨𝘦𝘮 𝘥𝘦 𝘯𝘰𝘴𝘴𝘰 𝘱𝘢𝘪".

𝘌𝘯𝘵𝘢̃𝘰, 𝘰𝘶𝘵𝘳𝘢 𝘷𝘦𝘻 𝘥𝘦𝘳𝘢𝘮 𝘷𝘪𝘯𝘩𝘰 𝘢𝘰 𝘱𝘢𝘪 𝘯𝘢𝘲𝘶𝘦𝘭𝘢 𝘯𝘰𝘪𝘵𝘦, 𝘦 𝘢 𝘮𝘢𝘪𝘴 𝘯𝘰𝘷𝘢 𝘧𝘰𝘪 𝘦 𝘴𝘦 𝘥𝘦𝘪𝘵𝘰𝘶 𝘤𝘰𝘮 𝘦𝘭𝘦. 𝘌 𝘦𝘭𝘦 𝘯𝘢̃𝘰 𝘱𝘦𝘳𝘤𝘦𝘣𝘦𝘶 𝘲𝘶𝘢𝘯𝘥𝘰 𝘦𝘭𝘢 𝘴𝘦 𝘥𝘦𝘪𝘵𝘰𝘶 𝘯𝘦𝘮 𝘲𝘶𝘢𝘯𝘥𝘰 𝘴𝘦 𝘭𝘦𝘷𝘢𝘯𝘵𝘰𝘶.

𝘈𝘴𝘴𝘪𝘮, 𝘢𝘴 𝘥𝘶𝘢𝘴 𝘧𝘪𝘭𝘩𝘢𝘴 𝘥𝘦 𝘓𝘰́ 𝘦𝘯𝘨𝘳𝘢𝘷𝘪𝘥𝘢𝘳𝘢𝘮 𝘥𝘰 𝘱𝘳𝘰́𝘱𝘳𝘪𝘰 𝘱𝘢𝘪.

𝘈 𝘮𝘢𝘪𝘴 𝘷𝘦𝘭𝘩𝘢 𝘵𝘦𝘷𝘦 𝘶𝘮 𝘧𝘪𝘭𝘩𝘰, 𝘦 𝘥𝘦𝘶-𝘭𝘩𝘦 𝘰 𝘯𝘰𝘮𝘦 𝘥𝘦 𝘔𝘰𝘢𝘣𝘦; 𝘦𝘴𝘵𝘦 𝘦́ 𝘰 𝘱𝘢𝘪 𝘥𝘰𝘴 𝘮𝘰𝘢𝘣𝘪𝘵𝘢𝘴 𝘥𝘦 𝘩𝘰𝘫𝘦.

𝘈 𝘮𝘢𝘪𝘴 𝘯𝘰𝘷𝘢 𝘵𝘢𝘮𝘣𝘦́𝘮 𝘵𝘦𝘷𝘦 𝘶𝘮 𝘧𝘪𝘭𝘩𝘰, 𝘦 𝘥𝘦𝘶-𝘭𝘩𝘦 𝘰 𝘯𝘰𝘮𝘦 𝘥𝘦 𝘉𝘦𝘯-𝘈𝘮𝘪; 𝘦𝘴𝘵𝘦 𝘦́ 𝘰 𝘱𝘢𝘪 𝘥𝘰𝘴 𝘢𝘮𝘰𝘯𝘪𝘵𝘢𝘴 𝘥𝘦 𝘩𝘰𝘫𝘦.” 


𝘾𝙤𝙣𝙩𝙚𝙭𝙩𝙤. Após a destruição de Sodoma e Gomorra, Ló e suas duas filhas se refugiam em uma caverna nas montanhas, temendo permanecer em Zoar (Gênesis 19:30). Nesse contexto de isolamento e medo, as filhas de Ló, temendo não encontrar maridos e garantir a continuidade da linhagem familiar, planejam embriagar seu pai para terem relações sexuais com ele (Gênesis 19:31-32). Consequentemente, ambas ficam grávidas e dão à luz Moabe e Ben-Ami, ancestrais dos moabitas e amonitas, respectivamente (Gênesis 19:36-38).


     A atitude das filhas de Ló não é moralmente correta por várias razões. A ação das filhas de Ló viola princípios fundamentais de moralidade e ética. Elas utilizam a embriaguez de seu pai para realizar atos sexuais incestuosos, o que é moralmente condenável. A manipulação do estado de consciência de Ló torna o ato ainda mais repreensível.

O ato incestuoso não só fere os princípios éticos, mas também traz consequências indiretas. A narrativa estabelece a origem dos moabitas e amonitas, que mais tarde se tornariam inimigos históricos de Israel. Assim, o pecado inicial perpetua um ciclo de inimizade e conflito entre os povos.

As ações das filhas de Ló refletem uma prática cultural da época de preservar a linhagem familiar a qualquer custo. No entanto, a moralidade do ato é questionável, e a Escritura registra a história para mostrar as consequências negativas de tais decisões.


𝘼𝙣𝙖́𝙡𝙞𝙨𝙚 𝙂𝙧𝙖𝙢𝙖𝙩𝙞𝙘𝙖𝙡. A análise gramatical dos textos em hebraico e grego oferece uma compreensão mais profunda das intenções e ações das filhas de Ló. Por exemplo, a expressão hebraica "וְנִשְׁכְּבָה עִמּוֹ" (vamos deitar-nos com ele) utiliza a partícula "וְ" (e) como uma conjunção que liga as ações, enquanto "שׁכב" (deitar-se) no qal imperfeito, 1ª pessoa do plural, forma cohortativa¹, indica a determinação e o desejo das filhas de executar o plano. O uso de eufemismos para relações sexuais reflete a natureza manipuladora do plano das filhas². No grego, a palavra "ἐπότισαν" (deram a beber) enfatiza o ato de embriaguez, que é um meio de controlar Ló³⁴.


𝘾𝙤𝙣𝙘𝙡𝙪𝙨𝙖̃𝙤. A atitude das filhas de Ló em Gênesis 19:30-38 é moralmente errada. A manipulação de seu pai para fins incestuosos é uma violação grave dos princípios éticos e traz consequências indiretas negativas, como a origem de inimigos históricos de Israel. A narrativa serve como um aviso sobre as consequências do pecado e as decisões tomadas em desespero. Além disso, a análise gramatical dos textos hebraicos e gregos revela a natureza manipuladora das ações das filhas, reforçando a condenação moral do ato. 

Claramente a imagem é mais um escárnio ao texto escriturístico, mas ela não retrata o que deve ser seguido, apenas relata fatos que podem ser tanto ruins, quanto positivos.


¹ A forma cohortativa é uma característica específica da gramática hebraica, usada principalmente para expressar um desejo, intenção ou uma exortação, geralmente na primeira pessoa do plural ou singular. No hebraico, a forma cohortativa é frequentemente marcada por sufixos específicos e pelo uso de partículas. No caso de "וְנִשְׁכְּבָה", o sufixo "-ה" e a partícula "וְ" (e) ajudam a identificar a intenção da ação.


² HOLLADAY, William L. A Concise Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament. Leiden: Brill, 1971, p. 638.


³ FRIBERG, Barbara; FRIBERG, Timothy; MILLER, Neva F. Analytical Lexicon of the Greek New Testament. Grand Rapids: Baker Academic, 2000.


⁴ GINGRICH, F. Wilbur; DANKER, Frederick W.; BAUER, Walter. A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature. 2. ed. Chicago: University of Chicago Press, 1979.


𝗡𝗶𝗰𝗼𝗹𝗮𝘀 𝗕𝗿𝗲𝗻𝗼


quarta-feira, 23 de julho de 2025

Resposta ao pastor Matheus Hetti e seus dois argumentos imortalistas

 Resposta ao pastor Matheus Hetti e seus dois argumentos imortalistas



Em um debate sobre o aniquilacionismo, o pastor imortalista Matheus, defensor do castigo eterno, argumenta que, conforme o texto bíblico, os ímpios sofrerão e pagarão proporcionalmente ao que fizeram na Terra, conforme ilustrado na parábola de Jesus. Segundo ele, a mesma lógica, aplicada de forma inversa, serve para o galardão nos céus: cada pessoa receberá conforme o que merece e estará no céu por toda a eternidade.¹ Será que isso procede? O texto está estruturado para refutar esse argumento, que, à primeira vista, parece estar correto.

O erro do argumento é supor que vida eterna e punição eterna são simétricas em essência, quando na verdade não são.
A vida eterna é um dom (Romanos 6:23), não um salário. É a consequência da união com Deus em Cristo. Já a punição é a consequência do pecado e da separação de Deus. A punição proporcional (de acordo com as obras) não implica duração infinita. Jesus ensina em Lucas 12:47-48 que haverá diferentes graus de punição ("a quem muito foi dado, muito será cobrado"), o que implica uma punição justa e proporcional, mas não infinita. Quando digo que os ímpios serão castigados eternamente, não me refiro à duração, mas sim às consequências disso. Por exemplo, se uma ponte for destruída, o evento da explosão dura segundos, mas a consequência – a impossibilidade de atravessar aquele local – dura para sempre. Por acaso a ponte ainda está de pé ou foi destruída para sempre? O caráter justo de Deus exige que a punição seja limitada, proporcional e com propósito redentor ou finalizador, e não um tormento interminável sem função além da dor.

O argumento imortalista ignora o ensino escriturístico sobre destruição final

Na Escritura não consta que os ímpios viverão para sempre em tormento. Ao contrário, fala de "segunda morte" (Apocalipse 20:14), de serem como "palha que o fogo consome" (Mateus 3:12), e de que "perecerão" (João 3:16; Salmos 37:20). A segunda morte é a aniquilação dos ímpios.
Mateus 10:28 é direto: "temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo." Isso nega a ideia de uma alma imortal em sofrimento eterno. E já foi abordado em um vídeo anterior.
O texto usado pelo imortalista (como parábolas de galardão ou juízo) não ensina explicitamente que a punição dos ímpios será infinita, apenas que será justa e conforme as obras (Romanos 2:6-8). Isso é perfeitamente compatível com a aniquilação: alguns sofrerão mais antes da destruição final.
Será que realmente alguém acredita que atos cometidos durante 70 ou 80 anos de vida finita justificam tormento consciente por toda a eternidade? Essa não é uma justiça proporcional, mas sim uma justiça distorcida. O argumento simétrico falha porque os salvos não recebem a vida eterna por merecimento, mas sim pela graça de Deus, conforme Efésios 2:8-9. Já os ímpios, por outro lado, recebem justiça, e a morte eterna é o julgamento justo de Deus, como ensinam Romanos 6:23 e 2 Tessalonicenses 1:9.
Não há equivalência entre o dom imerecido da salvação e o castigo merecido dos ímpios. A salvação é fruto da graça divina, enquanto a condenação representa uma pena proporcional à rejeição da verdade. Misturar essas categorias leva a uma distorção do conceito de justiça divina.

Outro argumento: “assim como há diferentes níveis de recompensa eterna, também deveria haver gradações no sofrimento eterno. A comparação entre dores físicas, como uma dor de dente e uma crise de cálculo renal, sugere que a punição poderia variar em intensidade.”

A comparação entre graus de galardão no céu e graus de sofrimento eterno no inferno parte de uma falsa equivalência. Embora a Escritura toque em galardões variados para os salvos (Lucas 19:17; 1 Coríntios 3:12-15), isso não implica que os perdidos devam sofrer conscientemente para sempre em níveis diferentes.
Na Escritura, o galardão se refere a privilégios ou responsabilidades no reino, não a “mais céu” ou “menos céu”. É qualitativo, não quantitativo. Já o castigo é descrito como morte, destruição, perdição, termos que apontam para aniquilação final, não sofrimento consciente eterno (Romanos 6:23; Mateus 10:28; Apocalipse 20:14). Textos como Lucas 12:47-48 indicam que haverá proporcionalidade no juízo, mas não dizem que isso ocorrerá eternamente. É perfeitamente possível que ímpios recebam pena maior ou menor antes da destruição final, e é isso que o texto nos mostra. A justiça de Deus se realiza de forma proporcional, mas finita, não interminável.
A ideia de sofrer eternamente, mesmo que “apenas com dor de dente”, continua sendo uma punição infinitamente longa por pecados finitos, o que viola o princípio de justiça proporcional, algo inclusive reconhecido em sistemas jurídicos humanos. Punição justa não é sinônimo de sofrimento sem fim, mas de retribuição apropriada ao ato cometido, o que pode culminar na morte eterna (Ap 20:14). Dor física neste mundo é temporária, mensurável, e ocorre num corpo perecível. Falar de “dores eternas” pressupõe que o corpo dos ímpios será preservado eternamente para sofrer, algo que a Bíblia nunca afirma. Ao contrário, Jesus diz que Deus pode “destruir tanto a alma quanto o corpo no inferno” (Mateus 10:28). Isso é aniquilação, não preservação eterna para tortura.

Conclusão

A tentativa de justificar o castigo eterno com base na existência de uma recompensa eterna falha tanto no plano escriturístico quanto no ético. A vida eterna é claramente apresentada nas Escrituras como um dom gratuito de Deus (Romanos 6:23), oferecido àqueles que estão em Cristo, e não como pagamento proporcional por boas obras. Por isso, não faz sentido aplicar a mesma lógica meritocrática ao juízo final. Nem aqui a meritocracia é verdadeira.
O castigo dos ímpios, conforme o ensino, será proporcional às suas obras (Apocalipse 20:12), mas culminará em morte eterna, ou seja, destruição final e irreversível, não em sofrimento consciente sem fim (Apocalipse 20:14; Mateus 10:28). A justiça divina, ao contrário do que propõem os defensores do tormento eterno, não exige punição infinita por pecados finitos. Tal ideia, além de incompatível com a misericórdia e o caráter justo de Deus, distorce o evangelho, tornando-o moralmente insustentável.
Portanto, o argumento que iguala recompensa eterna a punição eterna não encontra respaldo bíblico coerente. A esperança está firmada em um Deus que dá a vida como presente, e aplica a morte como juízo final e definitivo, não o tormento interminável. O galardão eterno não exige, nem justifica, um tormento eterno proporcional. A justiça de Deus se cumpre em um juízo final, não em uma eternidade de dor.


¹ DEBATE: ANIQUILACIONISMO vs TORMENTO ETERNO (Lucas Banzoli x Pr. Matheus Hetti): https://youtu.be/XGhg1VvcW9c?si=sk8XFim0_mgh6BxV&t=3916

segunda-feira, 21 de julho de 2025

Declaração de Fé

 *Declaração de Fé*

Esta declaração resume o fundamento espiritual apresentado nas Escrituras, a qual eu promovo, articulando de forma concisa a compreensão da unidade divina, da pessoa e obra de Cristo, do papel das Escrituras, da experiência de fé e da manifestação do Espírito Santo.
1.Deus Uno e Indivisível
Creio em um só Deus, absoluto e eterno, cuja essência é única e indivisível. Não há em Deus três substâncias nem meros modos de existência, mas uma unidade pura que transcende nossos esquemas racionais e categorias humanas.(Deuteronômio 6:4; 1 Coríntios 8:6)
2.Cristo Pré-existente e Revelador
Creio que o Cristo existia eternamente junto ao Pai, possuindo plena divindade antes da criação. Ele não é um outro ser nem uma pessoa separada, mas a auto-comunicação relacional de Deus: o Verbo (Logos) que estava com Deus e era Deus, manifestando-Se na história como Jesus. (João 1:1; Colossenses 1:15-17)
3.Relação Pai-Filho
Reconheço distinção relacional entre Pai e Filho sem fragmentar a essência divina. O Filho procede eternamente do Pai como expressão vivente de Seu pensamento, assim como a palavra procede da mente. Essa distinção não implica subordinação ontológica, mas uma comunicação plena e voluntária de amor. (João 10:30; João 17:21-22)
4.Encarnação e Kenosis
Creio que, no tempo fixo, o Logos assumiu natureza humana sem abdicar de sua divindade. Seu “esvaziar-Se” (kenosis) é ato supremo de liberdade divina, no qual Cristo renunciou ao exercício irrestrito de prerrogativas divinas para habitar em nosso meio, mostrando que somente Deus pode abdicar sem perder quem Ele é. (Filipenses 2:6-7; Hebreus 2:14-17)
5.Autoridade das Escrituras
Creio na Escritura como fonte normativo-autoridade, inspirada e infalível em seus textos originais. A exegese deve respeitar o grego, o hebraico e o aramaico bíblicos, o contexto histórico-cultural, sempre alinhando hermenêutica rigorosa e reverência à Palavra viva (Cristo). (2 Timóteo 3:16; 2 Pedro 1:21)
6.Salvação em Cristo
Creio que a salvação é oferecida pela mediação plena do Cristo eterno, que inaugura comunhão direta com o Pai. A redenção não resulta de meros ensinamentos morais, mas da entrada do Deus Uno em nossa condição, abrindo-Se para nós e restaurando nossa comunhão original com o Criador. (João 14:6; Efésios 2:8-9)
7.Discipulado e Comunhão
Creio que o crescimento espiritual ocorre em etapas de crise, maturação e revelação progressiva. O discipulado exige fidelidade à Escritura, experiência relacional com Cristo e crítica construtiva de tradições humanas e demoníacas, sempre guiado pelo Espírito que aplica a verdade de Deus ao coração. (Atos 2:42; Gálatas 5:22-23)
8.Mistério e Humildade
Admito que o ser de Deus e a relação interna entre Pai e Filho estão além de todo entendimento finito. A humildade requer reconhecer limites conceituais, celebrando o mistério sem reduzir Deus a construções meramente humanas, como os Trinitários e os Unicistas fazem. (Isaías 55:8-9; 2 João 3:20)
9.Espírito Santo: Vida, Poder e Presença Divina
Creio que o Espírito Santo procede eternamente do Deus uno, não como uma terceira pessoa autônoma nem mero modo de Deus, mas como o sopro vivificador e o poder comunicante dessa única divindade.
- Ele é o Sopro e a Força que gera, santifica e sustenta a criação e os corações regenerados (Gen 1:2; Tito 3:5).
- Revela a verdade de Cristo, confirma nossa adoção como filhos e distribui dons para edificação do corpo de Cristo (João 14:16-17; Atos 2:4; 1 Cor 2:10–12; Rom 8:16; 1 Cor 12).
- Opera inseparavelmente do Pai e do Filho, aplicando a obra redentora do Logos e tornando visível e operante a comunhão interna de Deus.
Analogamente, assim como o Filho é a Palavra que exprime o Pensamento divino, o Espírito é o Sopro que faz presente essa Palavra em nós e no mundo, sem fragmentar a essência de Deus.
Por esta fé e convicção, afirmo a divindade plena do Cristo, a unicidade de Deus, a ação vivificadora do Espírito Santo e a autoridade das Escrituras, convocando todos a uma caminhada de exegese fiel, amor prático e comunhão profunda com o Deus Uno que se revela em Jesus Cristo.

domingo, 13 de julho de 2025

João Calvino - O 8° indivíduo exposto

 João Calvino – O 8º indivíduo exposto 



A Reforma Protestante, após o impulso inicial de Martinho Lutero, teve em João Calvino (1509–1564) um de seus principais líderes. Calvino assumiu a dianteira do movimento reformado na Suíça e na França, sistematizando doutrinas que moldariam o protestantismo por séculos. No entanto, não foi apenas um movimento religioso isolado, há indícios de que correntes místicas e filosóficas influenciaram o calvinismo nascente. Diversas fontes sugerem que o movimento de Calvino manteve vínculos com sociedades secretas e agendas ocultas, havendo até alegações de que o próprio João Calvino teria sido treinado por ordens esotéricas e influenciado por elas¹. Tais teorias apontam que a ruptura protestante teria sido patrocinada nos bastidores por forças ocultas dentro do Vaticano e círculos cabalísticos, com o objetivo de redesenhar o cenário religioso e político europeu². Seriam apenas teorias? Embora pareçam extravagantes, essas hipóteses se alimentam de conectivos históricos reais: a educação, os símbolos e os efeitos culturais associados a Calvino revelam camadas menos óbvias de influência. 


Formação e Possíveis Conexões Ocultas 


Calvino recebeu formação humanista e jurídica, estudando em Paris durante a juventude. Curiosamente, ele frequentou o Collège de Montaigu na mesma época em que Ignácio de Loyola, o futuro fundador da Ordem dos Jesuítas, concluía seus estudos naquele local³. Ainda que não haja registro de contato direto entre eles, essa coincidência histórica alimenta especulações: dois personagens com visões religiosas opostas, formados sob o mesmo teto acadêmico, sugerem a possibilidade de influências cruzadas ou de uma sincronia não acidental. Seria a simultaneidade da formação de Calvino e Loyola um sinal de orquestração oculta, interpretando que a Contrarreforma Católica (via Jesuítas) e a Reforma Calvinista podem ter sido partes de um jogo estratégico comum? Elites iluministas e maçônicas infiltradas no Vaticano “patrocinaram” João Calvino (cujo nome original seria “Jean Cauvin”) para fomentar uma nova cisão religiosa controlada⁴. Assim, o protestantismo calvinista, em vez de ser um levante genuíno contra Roma, seria apresentado como peça de xadrez de uma engenharia secreta cujo objetivo era alterar não apenas a fé, mas também a política e a economia da Europa.

O rito “Mot de Maçon” (ou “Palavra de Maçom”) tem suas raízes claramente no calvinismo escocês. Segundo José Filardo, a Loja de Kilwinning, provavelmente incentivada pelo pastor erudito Robert Baille, entre 1628 e 1637 criou este rito de iniciação específico para fugir do rito anglicano das Antigas Obrigações, que rejeitavam por considerá-lo ligado aos cânones da Igreja Anglicana (e até mudaram a data da recepção ritual) (Bibliot3ca, 15/08/2018). A Kilwinning obtivera reconhecimento relativo dos Estatutos de William Schaw em 1599, mas manteve distância das influências católicas e anglicanas, recusando-se a assinar cartas maçônicas dos Sinclair em 1601 e 1628. A “Palavra de Maçom” foi inserida nesse contexto de resistência religiosa como marco de autonomia e identidade maçônica calvinista (Bibliot3ca, 15/08/2018).

Henry Adamson, em sua Threnodie des muses (1628–1637), relaciona essa prática com a oposição dos presbiterianos escoceses aos “Cinco Artigos de Perth” impostos por Carlos I, que visavam anglicanizar a Escócia. Em 1638, os presbiterianos se rebelaram contra essa imposição, reafirmando sua autonomia no Convento da Igreja Presbiteriana da Escócia. Foi nesse contexto de resistência religiosa que a palavra de recepção anglicana foi substituída pela “Palavra de Maçom” calvinista (Bibliot3ca, 15/08/2018).

Em suma, o texto argumenta que o rito “Mot de Maçon” nasceu da recusa dos maçons presbiterianos escoceses em usar ritos de origem anglicana, como forma de afirmar sua identidade religiosa e autonomia, tendo como origem a Loja de Kilwinning e o ambiente de conflitos entre presbiterianos e anglicanos da década de 1630 (Bibliot3ca, 15/08/2018). (Referência: Sobre o rito “Mot de Maçon” (Palavra de Maçom): A origem Calvinista do Rito, Bibliot3ca, 15/08/2018)

Naturalmente, historiadores acadêmicos encaram tais teorias com ceticismo, claro. Contudo, mesmo descartando exageros, é inegável que Calvino beneficiou-se de redes de proteção e difusão incomuns para um “herege” perseguido: sua fuga da França e acolhida em Genebra contaram com apoio de magistrados e burgueses influentes, e suas ideias propagaram-se rápida e subterraneamente graças a impressoras clandestinas e correspondências cifradas. Esse contexto alimenta a impressão de que mãos invisíveis facilitaram a obra de Calvino. Ademais, a própria adoção do nome latinizado Calvinus no lugar do original Cauvin deu margem a delírios antissemitas: autores como William Carr insinuaram que “Calvino” derivaria de Cohen, alegando que João Calvino teria origem judaica e agiria como agente secreto de uma cabala oculta¹. Embora sem base factual (Calvino era francês de nascimento, filho de um notário da igreja), tal boato foi usado para pintá-lo como um “infiltrado” com agenda anticristã. A persistência desses rumores mostra como o reformador de Genebra ocupou, desde cedo, um lugar dúbio no imaginário: para uns, um santo teólogo; para outros, um instrumento mascarado de poderes sombrios. É claro que é a segunda opção.


Simbologia no Calvinismo: Iconografia e Misticismo 


Outra dimensão reveladora são os símbolos associados à figura e à doutrina de Calvino. Enquanto Lutero possuía a famosa “Rosa de Lutero”, Calvino adotou como emblema pessoal uma imagem distinta porém igualmente carregada de significado: uma mão erguendo um coração a Deus, acompanhada do lema em latim “Cor meum tibi offero Domine, prompte et sincere” (“Meu coração te ofereço, ó Senhor, pronta e sinceramente”). Esse símbolo Calvino usava em selos de cartas nos anos 1540⁵. Porém, seu desenvolvimento posterior incorporou elementos notavelmente esotéricos. Em 1566, um retrato póstumo inseriu o lema junto à imagem, e no século XVII cunhou-se em Genebra uma medalha comemorativa onde uma mão sai de uma nuvem nos céus e oferece um coração brilhante em direção a um sol radiante⁵. Nessa representação, raios de luz solar recaem sobre o coração oferecido, evocando a iconografia tradicional pré-Reforma (São Agostinho frequentemente é retratado com um coração flamejante elevado aos céus). A medalha de Calvino sintetiza assim uma visão “triunfante e visionária” do reformador: uma mão forte emergindo das nuvens apresenta um coração purificado à luz divina do Sol⁵. O simbolismo é explícito – o coração de Calvino, redimido por Cristo, é elevado confiantemente à majestade de Deus (o que diz o oficial) mas o uso da luz solar e da mão que surge de nuvens também lembram representações alquímicas do “coração iluminado” ou do Sacratíssimo Coração envolto em glória. “Sol” e “coração” são elementos místicos recorrentes (sol como fonte de iluminação espiritual; coração como receptáculo da centelha divina), muito explorados em ordens esotéricas. Essa iconografia calvinista, portanto, aproxima-se de concepções herméticas sobre iluminação do coração, ainda que expressa com a máscara de cristão. 

Outro símbolo marcante relacionado ao calvinismo é a Cruz Huguenote, adotada posteriormente pelos protestantes franceses (huguenotes) como insígnia de sua fé reformada. A cruz huguenote possui forma semelhante a uma cruz de Malta, com quatro braços em ponta e fleur-de-lis (flor de lis) entre eles, e traz pendente uma pomba descendente representando o Espírito Santo⁶. Historicamente, reconhece-se que esse desenho foi modelado a partir da insígnia da Ordem do Espírito Santo, uma ordem de cavalaria católica fundada pelo rei francês Henrique III em 1578⁶. Ou seja, o símbolo por excelência dos calvinistas franceses deriva diretamente de uma ordem cavaleiresca real, católica e revestida de simbolismo hermético: na Cruz do Espírito Santo original, os oito pontos arredondados representavam as Beatitudes, as quatro fleur-de-lis simbolizavam os Evangelhos, as doze pétalas aludiam aos Apóstolos, e a pomba central significava o Espírito Santo. A adoção protestante desse emblema, trocando-se apenas alguns detalhes, é no mínimo intrigante. Seria coincidência que os calvinistas tenham tomado emprestado um símbolo repleto de numerologia sagrada e associações místico-cavalheirescas? Para alguns intérpretes, isso reforça a tese de uma continuidade secreta: como se a própria teologia calvinista, apesar do verniz “puritano” contrário a imagens e relíquias, acabasse por preservar certos códigos simbólicos do esoterismo medieval. Vale lembrar que Calvino pregava veementemente contra o uso de imagens de santos e qualquer traço de idolatria; porém, seus seguidores empunhavam uma cruz cujo design tinha origem numa ordem monárquica católica (a Ordem do Espírito Santo) conhecida por cerimônias pomposas e banquetes lendários, aliás, foi dos jantares dessa Ordem, servidos aos cordons bleus, que surgiu a expressão “cordon bleu”. Com o tempo, o termo passou a ser usado para se referir a alguém altamente qualificado, especialmente em culinária. Assim, a iconografia calvinista carrega uma ironia simbólica: renega os ícones católicos oficialmente, mas absorve discretamente uma simbologia derivada da própria tradição católica e mística que dizia repudiar.

Ao examinar a versão inglesa das Institutas de João Calvino, é possível notar uma expressão curiosa: "substituting nature as the architect of the universe", ou seja, "substituindo a natureza como arquiteta do universo". Esse tipo de construção linguística, especialmente a ideia do "arquiteto do universo", ressoa com os títulos simbólicos usados na maçonaria para se referir a uma divindade, o chamado G.A.D.U., o Grande Arquiteto do Universo. Para não me acusarem de tirar a frase do contexto, digo que a frase expressa uma crítica a quem, mesmo não atribuindo tudo ao acaso, ainda assim nega a ação direta de Deus ao colocar a natureza como causa suprema da criação. É uma observação sobre como a razão humana, ao tentar explicar o universo sem Deus, acaba trocando o Criador pela criação, o que, para Calvino, é um erro teológico e espiritual grave. A tradução completa da frase é: 

"Ele não dirá que o acaso o fez diferente dos brutos que perecem; mas, ao substituir a natureza como a arquiteta do universo, ele suprime o nome de Deus."

(CALVIN, 2025, p. 60)

Já a tradução para o português, por Waldyr Carvalho Luz, suaviza esse trecho, omitindo a referência direta ao arquiteto e substituindo por um discurso menos simbólico: “sobreposto o véu da natureza, a qual lhes é o artífice de todas as coisas, alijam a Deus.” (CALVINO, 2006, p. 64).

A alteração, embora sutil, levanta questões: estaria o tradutor protegendo o público leitor de uma terminologia suspeita ou apenas adaptando para um contexto mais acessível?
          A recorrência de expressões como “Arquiteto do Universo”, “Supremo Arquiteto” ou até mesmo “Artífice do Universo” em outras passagens da obra de Calvino e em seus comentários sobre os Salmos alimenta especulações sobre uma possível afinidade com o vocabulário maçônico. Afinal, por que um teólogo reformado recorreria a nomenclaturas tão características de um ambiente esotérico que, historicamente, busca estabelecer uma religiosidade universalista, frequentemente dissociada do Deus bíblico revelado como “o Deus de Abraão, Isaque e Jacó”? Esse padrão linguístico levanta uma dúvida legítima: Calvino usou essas expressões como fruto de criatividade literária e teológica, ou estava alinhado com um pensamento que busca sincretizar a fé cristã com elementos externos à revelação escriturística? Mesmo que ele não tenha sido diretamente ligado à maçonaria (não pelo o que pesquisei até agora), o uso repetido de terminologias tão carregadas simbolicamente convida à reflexão, especialmente porque essas expressões não encontram respaldo direto nas Escrituras, que, ao falar de Deus, são claras quanto ao Seu nome: "Eu sou o Senhor" (Êx 6:2-3), "Este é o meu nome eternamente" (Êx 3:15).

Dessa forma, ao invés de glorificar a clareza encontrada nas Escrituras, Calvino parece, ao menos estilisticamente, flertar com expressões ambíguas. Isso levanta questionamentos legítimos: por que não utilizar os nomes que Deus mesmo revelou nas Escrituras? Por que recorrer a títulos enigmáticos que se prestam à confusão ou, no mínimo, à apropriação simbólica por grupos secretos? Admitir tais desvios como mera estilização seria simplificar demais. A linguagem molda a teologia, e os termos escolhidos não são neutros. Portanto, diante da insistência em expressões como "Arquiteto do Universo", seria desonesto ignorar que tais termos possam revelar algo mais profundo sobre a visão de mundo ou mesmo sobre a cosmovisão teológica de Calvino, que, paradoxalmente, é considerado por muitos um defensor da ortodoxia reformada.


Influências Culturais e Alianças Secretas 


“Sua mente legalista exigia um sistema fechado e coerente — mesmo que isso implicasse contradições éticas ou sofrimento humano.” 

SMELLEY, Hutson. Desconstruindo o Calvinismo. Cap. 3.


O pensamento de João Calvino deixou um impacto cultural e filosófico imenso, ultrapassando o campo estritamente religioso. Sua doutrina da predestinação absoluta, aliada a uma ética rigorosa de trabalho e austeridade moral, transformou a mentalidade de comunidades inteiras. Calvino ensinava que o sucesso terreno poderia ser um sinal indireto de bênção divina (embora não uma garantia de salvação), e pregava que a vocação profissional, exercida com diligência e honestidade, glorificava a Deus. Essa visão sacralizou o trabalho e dignificou o lucro honesto, em contraste com a condenação medieval à usura e à acumulação de riqueza. Consequentemente, burgueses e comerciantes viram no calvinismo uma legitimação religiosa do espírito capitalista nascente⁷.  De Genebra à Holanda, da Escócia à Nova Inglaterra, as sociedades influenciadas por Calvino prosperaram economicamente, fortalecendo uma classe média industriosa. Sociólogos como Max Weber notaram essa conexão e argumentaram que a ética ascética protestante (especialmente a calvinista) foi um fator decisivo no surgimento do capitalismo moderno (um de nossos inimigos) ao incentivar o reinvestimento dos lucros, a frugalidade e o trabalho árduo como dever espiritual⁸. Assim, ideias teológicas acabaram por moldar estruturas de poder econômico e social. Famílias burguesas calvinistas acumularam capital e influência, financiando governos locais e universidades, e em alguns casos patrocinando redes discretas de sociabilidade que iam além da instituição. Por isso, ao redor do mundo, verá que professores e outros profissionais estarão sempre do lado dos ricos e protegendo o capitalismo. 

É nesse contexto que emergem convergências entre o calvinismo e a Maçonaria e outras fraternidades. No século XVII, por exemplo, a Escócia, fortemente calvinista (presbiteriana), foi palco de um fenômeno notável: lojas de “maçons aceitos”, originalmente corporações de pedreiros operativos, começaram a admitir nobres e intelectuais, muitos deles simpatizantes do presbiterianismo. Documentos escoceses indicam que, por volta de 1637, maçons de fé calvinista na Loja de Kilwinning instituíram um novo rito de admissão, chamado Mason Word (Palavra de Maçom), de caráter especificamente calvinista, em oposição ao rito anglicano tradicional⁹. Esse rito secreto teria surgido durante as lutas dos presbiterianos escoceses contra a imposição forçada do anglicanismo pelo rei Charles I. O poeta Henry Adamson, em sua obra “Threnodie of the Muses” (c.1638), chegou a relacionar o rito da Palavra de Maçom, então defendido pelos chamados “luteranos rosacruzes”, com previsões proféticas sobre os conflitos políticos da época⁹. Ou seja, já nos primórdios da Maçonaria especulativa havia interseções entre calvinistas, rosacruzes e videntes políticos. Esse dado surpreendente sugere que adeptos da Reforma (tidos como “luteranos” ou calvinistas) e adeptos do esoterismo rosacruciano colaboravam nos mesmos círculos iniciáticos, talvez unidos contra um inimigo comum (o absolutismo religioso e monárquico). O resultado foi que a Maçonaria escocesa incorporou elementos bíblicos e pietistas adequados à sensibilidade presbiteriana, ao mesmo tempo em que servia de refúgio secreto para discussões proibidas. 

Na França do século XVIII, encontra-se um fenômeno semelhante: protestantes huguenotes perseguidos aproveitavam as lojas maçônicas, que proliferavam, para se reunir sem despertar suspeitas. Conforme registrado pelo Musée Protestant de Paris, “durante as perseguições religiosas do século XVIII, os protestantes puderam se encontrar dentro do movimento maçônico”, pois as lojas – comprometidas com a tolerância – ocultavam a identidade religiosa de seus membros, dando-lhes proteção¹⁰. Muitos calvinistas franceses (huguenotes) se filiaram à Maçonaria como forma de preservar sua comunidade e princípios em sigilo. Jean Théophile Desaguliers, por exemplo, pastor descendente de huguenotes exilados, tornou-se figura-chave na fundação da moderna Maçonaria inglesa: foi ele um dos responsáveis por compilar as Constituições de Anderson de 1723 e chegou a servir como Grão-Mestre da Primeira Grande Loja. Não é exagero dizer que sem a influência de Desaguliers, um protestante reformado, a Maçonaria não teria se organizado como o fez. Além dele, diversos nobres e pensadores reformados abraçaram a fraternidade. A recíproca também ocorria: na jovem República Holandesa, calvinistas devotos como Johan de Witt integravam sociedades discretas que combinavam estudos bíblicos, ciência e filosofia hermética, dissolvendo as fronteiras entre fé reformada e investigação esotérica. E na América colonial, colonizada em parte por puritanos calvinistas, a Maçonaria e o protestantismo caminhavam lado a lado entre as elites revolucionárias (George Washington, lembrado como maçom, foi educado em valores puritanos). Esses fatos concretos evidenciam que o legado de Calvino entrelaçou-se com estruturas de poder ocultas: ora por necessidade (refúgio contra perseguição), ora por afinidade eletiva (valores comuns de liberdade de consciência e providencialismo). 

O calvinismo não tolerava divergências. O espírito reformador de Calvino se baseava em unidade doutrinária absoluta. A mínima dissidência podia levar à excomunhão ou à perseguição civil. Não se pode ignorar, ademais, que Calvino governou Genebra quase como um teocrata absoluto. Entre 1541 e 1564, a chamada “Roma Protestante” foi modelada segundo sua interpretação rígida das Escrituras. A cidade impunha disciplina religiosa férrea: missas católicas foram banidas; bailes, jogos e diversões mundanas, proibidos; a frequência aos cultos e a conduta moral de cada cidadão, fiscalizadas pelos anciãos. Crimes contra a doutrina – como idolatria, blasfêmia, adultério ou heresia – podiam levar a prisões e até execuções. O caso mais infame é o de Miguel Serveto, médico e teólogo humanista que negara a Trindade: fugido da Inquisição católica, Serveto cometeu imprudência de passar por Genebra, onde foi reconhecido. Calvino fez questão de que fosse julgado e condenado por heresia. Apesar de apelar por uma morte menos cruel (preferia decapitá-lo), Calvino viu Serveto ser queimado vivo em 1553 por decisão do Conselho genebrino – pena que ele próprio havia requisitado¹¹. Esse episódio terrível desencadeou críticas severas de outros protestantes (Sebastião Castellio, outrora aliado de Calvino, acusou-o de assassino e intolerante). Não obstante, Calvino defendeu até o fim a justiça de eliminar “os blasfemos” para preservar a pureza da fé. Genebra tornou-se um Estado policial teológico, e o próprio reformador agia como inquisidor implacável. Esse é o sonho da bancada evangélica de nosso país: transformar tudo em uma teocracia sem precedentes. Calvino não era movido por Cristo, e sim por um espírito de anticristo. De fato, Jesus ensinara a amar os inimigos e a liberdade da graça, ao passo que Calvino erigiu uma sociedade do medo e da coerção “em nome de Deus”.Por esse contraste, vemos que a Reforma é uma árvore envenenada: nenhum movimento verdadeiramente divino se consolidaria por meios tão violentos. Calvino é apenas mais um instrumento das trevas, usando a religião reformada como fachada para semear perseguição, discórdia e morte tal como os poderes anticristos sempre fizeram. 


A mentira da dupla predestinação


“Chamamos predestinação ao eterno decreto de Deus pelo qual Ele determinou consigo mesmo aquilo que Ele quis que ocorresse a cada homem. [...] a vida eterna é preordenada para alguns, e a perdição eterna para outros. [...] Falamos deles como predestinados para a vida ou para a morte.”

(Calvino, Institutas da Religião Cristã, Livro III, Capítulo 21, §5)


“Portanto, aqueles a quem Deus pretere, os reprova; não por outra causa, mas porque os quer excluir da herança para a qual predestina a seus filhos.”

(Calvino, Institutas da Religião Cristã, Livro III, Capítulo 23, §1)


A doutrina da dupla predestinação, segundo a qual Deus decreta positivamente a salvação de alguns e a condenação de outros desde a eternidade, cria grandes contradições teológicas e morais.

Na Escritura encontramos: “O Senhor [...] não quer que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento” (2Pe 3:9)

A lógica calvinista transforma o Criador em autor da perdição, o que contradiz frontalmente a santidade e misericórdia divina. Se Deus decreta previamente quem será salvo ou condenado, de que serve o arrependimento, a fé e a evangelização? Eles se tornam apenas atos mecânicos. A própria culpa humana perde sentido, pois o homem não pode evitar o que Deus decretou irrevogavelmente. Isso fere a liberdade moral presente em toda a Escritura.

 Jesus declarou:

“Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mt 11:28)

Esse convite é incompatível com a ideia de que muitos estão condenados desde o ventre, sem qualquer chance de responder ao chamado divino. A boa nova se tornaria, segundo a dupla predestinação, uma má notícia para a maioria. Anunciar o evangelho, nesse sistema, não é ofertar salvação a todos, mas apenas declarar algo que já foi decidido nos bastidores. A cruz, nesse sentido, não é suficiente, pois não morre por todos, apenas pelos eleitos.


Contra a predestinação incondicional


A doutrina calvinista da predestinação incondicional tem sido, há séculos, motivo de acalorado debate teológico. Em sua formulação clássica, defende que antes da fundação do mundo, Deus teria determinado incondicionalmente quais indivíduos seriam salvos (os eleitos) e quais estariam irrevogavelmente condenados (os réprobos), não com base em qualquer previsão de fé ou obras, mas por um decreto soberano absoluto. A esta doutrina se somam outras: a irresistibilidade da graça, segundo a qual os eleitos não podem resistir ao chamado de Deus; e a negação de um livre-arbítrio efetivo, que entende a vontade humana como totalmente escrava do pecado, incapaz de responder voluntariamente ao Evangelho sem a regeneração prévia unilateral operada por Deus.
          Tais ideias, embora articuladas com rigor lógico dentro da tradição reformada, apresentam sérias divergências com a totalidade das Escrituras. Ela, de Gênesis a Apocalipse, revela um Deus que chama, adverte, convida, persuade, lamenta, e espera uma resposta autêntica e livre da criatura racional. Um Deus que, embora soberano, escolhe dialogar com o ser humano e condicionar certas bênçãos à obediência e à fé (Dt 28; Ez 18; Mt 23). Isso não nega Sua onisciência, mas valoriza a Sua justiça, misericórdia e coerência moral com Sua própria natureza revelada.

A doutrina calvinista da predestinação incondicional ensina que o ser humano não tem liberdade real para escolher seu destino eterno, pois Deus já decidiu, desde a eternidade, quem será salvo e quem será condenado. No entanto, a própria Torá, base da revelação divina, afirma o contrário: Deus coloca a vida e a morte como opções reais diante do homem e o chama a escolher.

 Deuteronômio 30:19:

הַעִידֹתִי בָכֶם הַיּוֹם... הַחַיִּים וְהַמָּוֶת נָתַתִּי לְפָנֶיךָ... וּבָחַרְתָּ בַּחַיִּים לְמַעַן תִּחְיֶה אַתָּה וְזַרְעֶךָ׃

Tradução: “Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, que te propus a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência.”

O verbo וּבָחַרְתָּ (uvacharta) está no qal perfeito 2ª pessoa masculina singular, indicando ação voluntária atribuída ao ouvinte: “tu escolherás” ou “escolhe tu”.
          A expressão נָתַתִּי לְפָנֶיךָ (natatti lefanekha) — “coloquei diante de ti” — reforça que as opções são apresentadas ao indivíduo de forma objetiva, cabendo a ele decidir.

לְמַעַן תִּחְיֶה (lema'an tichyeh) – “para que vivas” – indica que o resultado da escolha é condicionado à resposta humana.

O texto deixa claro que Deus não impõe unilateralmente a vida ou a morte, mas apresenta ambas como caminhos reais. Isso contradiz a doutrina de uma eleição fixada antes de qualquer resposta humana.

Ezequiel 18:23 e 18:32:

הֶחָפֹץ אֶחְפֹּץ מוֹת רָשָׁע... הֲלֹא בְּשׁוּבוֹ מִדְּרָכָיו וְחָיָה׃

Tradução: “Acaso tenho eu prazer na morte do ímpio? diz o Senhor Deus. Não desejo Eu, antes, que ele se converta dos seus caminhos e viva?”

כִּי לֹא אֶחְפֹּץ בְּמוֹת הַמֵּת... וְהָשִׁיבוּ וִחְיוּ׃

Tradução: “Porque não tenho prazer na morte de ninguém, diz o Senhor Deus. Convertei-vos, pois, e vivei.”

O verbo אֶחְפֹּץ (echpotz) – “tenho prazer” – é forma qal imperfeito 1ª pessoa, e usado duas vezes para negar o prazer divino na morte do ímpio.

 A forma הָשִׁיבוּ (hashivu) é imperativo piel plural: “convertei-vos”. Não é uma ação que Deus faz sozinho, mas uma ordem direta ao povo.

וִחְיוּ (vichyu) – também imperativo plural: “e vivei” – condiciona a vida à conversão humana.

Deus deixa claro que não deseja a morte do ímpio, mas espera uma conversão real da parte dele. A ideia de que réprobos estão eternamente destinados à perdição é frontalmente contrária a essa revelação divina. Se Deus determinasse, incondicionalmente, que certos homens fossem réprobos, seria incoerente Ele dizer que deseja que se convertam e vivam.


Refutação à irresistibilidade da graça com base no Novo Testamento grego


A doutrina calvinista da graça irresistível sustenta que, ao chamar eficazmente um dos eleitos, Deus transforma irresistivelmente sua vontade, de modo que este responderá à salvação infalivelmente. No entanto, os textos do Novo Testamento revelam algo diferente: a graça de Deus se estende a todos, mas pode ser rejeitada. A revelação não retrata a salvação como um ato unilateral imposto por decreto, mas como um convite que requer acolhimento voluntário.

João 1:9:

ἦν τὸ φῶς τὸ ἀληθινόν, ὃ φωτίζει πάντα ἄνθρωπον ἐρχόμενον εἰς τὸν κόσμον.

Tradução: “Ali estava a luz verdadeira, que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem.”

O verbo φωτίζει (phōtízei) é presente indicativo ativo, significando “ilumina” de forma contínua e universal.

O objeto πάντα ἄνθρωπον (pánta ánthrōpon) — “todo homem” — é acusatívo singular masculino com artigo indefinido, indicando abrangência total, sem restrição aos eleitos.

A luz de Cristo é oferecida a todos. Isso desfaz a ideia de que a graça é aplicada apenas a um grupo predeterminado. A iluminação é real, mas não necessariamente eficaz, pois dependerá da resposta de cada um à luz recebida.

Atos 7:51:

σκληροτράχηλοι... ὑμεῖς ἀεὶ τῷ Πνεύματι τῷ Ἁγίῳ ἀντιπίπτετε.

Tradução: “Homens de dura cerviz... vós sempre resistis ao Espírito Santo.”

O verbo ἀντιπίπτετε (antipípete) é presente indicativo ativo, da raiz ἀντιπίπτω, que significa "opor-se", "resistir" com hostilidade.
          O advérbio ἀεὶ (“sempre”) reforça a constância da resistência, ou seja, um padrão de rejeição repetida ao Espírito.

A resistência ao Espírito Santo é real e recorrente. Se a graça fosse irresistível, não seria possível resisti-la. Este versículo é uma refutação direta à doutrina da graça irresistível, demonstrando que o Espírito age mesmo sobre aqueles que o rejeitam.

Mateus 23:37:

ποσάκις ἠθέλησα... καὶ οὐκ ἠθελήσατε.

Tradução: “Quantas vezes quis eu reunir teus filhos... e vós não o quisestes.”

O verbo ἠθέλησα (ēthelēsa) – “eu quis” – é aoristo indicativo ativo de θέλω, expressando a vontade real de Jesus.
          O contraste com οὐκ ἠθελήσατε (ouk ēthelēsate) – “vós não quisestes” – também aoristo, mostra que a vontade do povo foi oposta à de Cristo.

A vontade de Jesus (o próprio Deus encarnado) de reunir e proteger Jerusalém foi frustrada pela rejeição humana. A graça foi oferecida, mas recusada. Este versículo mostra de forma incontestável que a vontade divina pode ser rejeitada pela escolha humana, desmentindo a tese da graça irresistível.


Livre-Arbítrio e a Graça


Entre os textos mais diretos contra a doutrina da predestinação incondicional e da graça irresistível está a confissão paulina em 1 Timóteo 2:3-4, onde o apóstolo afirma que Deus deseja que todos sejam salvos. Esse texto é profundamente relevante porque expressa a vontade salvífica universal de Deus, revelando tanto sua intenção quanto o convite aberto à humanidade.

1 Timóteo 2:3–4

τοῦτο γὰρ καλὸν καὶ ἀπόδεκτον ἐνώπιον τοῦ σωτῆρος ἡμῶν Θεοῦ, ὃς πάντας ἀνθρώπους θέλει σωθῆναι καὶ εἰς ἐπίγνωσιν ἀληθείας ἐλθεῖν.

          Tradução: “Pois isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade.”

πάντας ἀνθρώπους (pántas anthrōpous) – Acusativo plural masculino, traduzido literalmente como “todos os homens”.

—> O termo πᾶς (pas) é usado sem restrição qualificadora; não há limitação contextual que o restrinja aos "eleitos".

—> Em grego, se Paulo quisesse dizer "todos os tipos de homens" ou "todos os eleitos", haveria construções específicas com τοὺς ἐκλεκτούς ou adjetivos limitantes, o que não ocorre aqui.

θέλει σωθῆναι (thélei sōthênai) – “deseja que sejam salvos”

—> O verbo θέλει (thélei) é presente indicativo ativo de θέλω, que significa desejar com intenção real, e não mera permissão passiva.

—> σωθῆναι é um infinitivo aoristo passivo de σῴζω (“salvar”), indicando que a salvação é algo que Deus deseja realizar em favor dos homens.

O texto mostra que a vontade salvífica de Deus é universal, não limitada por eleição arbitrária.
          O uso do grego é inequívoco: todos os homens, não apenas um grupo pré-selecionado. Se a graça fosse irresistível e a salvação dependesse apenas da vontade de Deus, então todos seriam salvos, pois é isso que Deus deseja. O fato de nem todos serem salvos implica que existe uma condição humana envolvida: a resposta livre à oferta da salvação.


Conclusão


A influência de correntes místicas, filosóficas e secretas no pensamento e na atuação de João Calvino torna-se evidente quando se unem os pontos: sua educação cruzando caminhos com a de um mestre jesuíta, sua linguagem teológica abraçando termos que seriam pilares da Maçonaria, seus símbolos adotados partilhando iconografias esotéricas, e os desdobramentos históricos de seu movimento entrelaçando-se com sociedades discretas e projetos políticos revolucionários. Longe de ser uma figura “puramente bíblica” isolada, Calvino emerge, nessa análise, como alguém cujas ideias foram catalisadas e depois utilizadas por forças ocultas maiores que ele. Não é de se admirar que os protestantes reverenciem João Calvino assim como os maçons reverenciam Albert Pike. O calvinismo, e o protestantismo em geral, acabaram infiltrados e orientados pela Maçonaria, guardiã moderna das antigas sabedorias mistéricas herdadas dos Cavaleiros Templários e das escolas herméticas. Na realidade, sempre foi assim. A maçonaria controla o protestantismo. Ambos, por sua vez, estiveram subordinados, em última instância, aos desígnios da maligna Ordem Jesuíta, que desde o século XVI manobra eventos religiosos e políticos nos bastidores. 

Em síntese, João Calvino é exposto aqui como mais um agente do espírito anticristo camuflado na história. Sua imagem de reformador santo dissipa-se diante das evidências de ligações com o ocultismo e a violência sectária. Além disso, suas doutrinas, profundamente diabólicas, formulam a ideia de um deus pior do que Satanás. Calvino figura, ao lado de Lutero, como um ídolo herético venerado pelos evangélicos modernos para ocultar suas verdadeiras origens. Atrás da máscara piedosa de teólogo, identifica-se um Anticristo, um falso guia cuja obra serviu a propósitos contrários ao Evangelho. Seu legado, aparentemente seguidor de Cristo, está imbricado com a Babilônia espiritual com sociedades secretas, ambições de poder temporal e enganos diabólicos. Nada disso poderia permanecer oculto para sempre: a realidade está aqui. João Calvino, o 8º indivíduo exposto, é desvelado como um rosacruciano oculto, tirano predestinado, um homem que atuou como marionete de Satanás no grande teatro esotérico-religioso do mundo.


Fontes


¹ William Guy Carr. Pawns in the Game. Willowdale: Federation of Christian Laymen, 1958. (p.9, cap.2) 


² Homuth, Norbert. Die Verschwörung des Antichristus (A Conspiração do Anticristo). Berlim: 1987.


³ MUSÉE PROTESTANT. Calvin’s Paris. Disponível em: https://museeprotestant.org/en/notice/paris-de-calvin. Acesso em: 11 jun. 2025.


⁴ DISCERNING THE WORLD. Huguenots, John Calvin and Freemasonry. 27 nov. 2014. Disponível em: https://www.discerningtheworld.com/2014/11/27/huguenots-john-calvin-freemasonry. Acesso em: 11 jun. 2025.


⁵ CALVIN UNIVERSITY. The Calvin Seal. Disponível em: https://calvin.edu/about/history/calvin-seal.html. Acesso em: 11 jun. 2025.


⁶ IDENTIFY MEDALS. The Order of the Holy Spirit. Disponível em: https://www.identifymedals.com/database/medals-by-period/pre-ww1-medals/the-order-of-the-holy-spirit/. Acesso em: 11 jun. 2025.


⁷ WIKIPEDIA. Great Architect of the Universe. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Great_Architect_of_the_Universe. Acesso em: 11 jun. 2025.


⁸ WIKIPEDIA. La ética protestante y el espíritu del capitalismo. Disponível em: https://es.wikipedia.org/wiki/La_%C3%A9tica_protestante_y_el_esp%C3%ADritu_del_capitalismo. Acesso em: 11 jun. 2025.


⁹ BIBLIOT3CA. Sobre o rito ‘Mot de Maçon’ – Palavra de Maçom: a origem calvinista do rito. Publicado em: 15 ago. 2018. Disponível em: https://bibliot3ca.com/2018/08/15/sobre-o-rito-mot-de-macon-palavra-de-macom-a-origem-calvinista-do-rito/. Acesso em: 11 jun. 2025.


¹⁰ MUSÉE PROTESTANT. French Protestants and the Freemasons. Disponível em: https://museeprotestant.org/en/notice/french-protestants-and-the-freemasons/. Acesso em: 11 jun. 2025.


¹¹ ENCYCLOPÆDIA BRITANNICA. Michael Servetus. Disponível em: https://www.britannica.com/biography/Michael-Servetus. Acesso em: 11 jun. 2025.


Leituras complementares e ou usadas no texto


CALVIN, John. The Institutes of the Christian Religion. Translated by Henry Beveridge. Grand Rapids, MI: Christian Classics Ethereal Library. Available at: https://www.ccel.org/ccel/c/calvin/institutes/cache/institutes.pdf. Accessed on: 13 June 2025. p. 60.

CALVINO, João. As Institutas ou Tratado da Religião Cristã. Vol. 1. Tradução de Waldyr Carvalho Luz. Edição clássica (latim). São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2006. Disponível em: https://www.poramoraosalvador.com.br/livros/joao_calvino_institutas1.pdf. Acesso em: 13 jun. 2025.

MARTINEZ, João Flávio. Calvinismo Recalcitrante.

VANCE, Laurence M. O outro lado do calvinismo.