segunda-feira, 25 de agosto de 2025

"Um Será Levado e o Outro Deixado": A Evidência Contextual para Interpretação de Julgamento

 "Um Será Levado e o Outro Deixado": A Evidência Contextual para Interpretação de Julgamento



Uma análise exegética rigorosa de Mateus 24:39-41 revela que as evidências contextuais são substancialmente mais fortes para interpretar os "levados" como destinados ao julgamento do que ao arrebatamento. Esta interpretação não apenas responde mais satisfatoriamente aos desafios hermenêuticos do texto, como também se alinha melhor com o padrão consistente das Escrituras.

A Força Esmagadora do Contexto Analógico

Jesus estabelece deliberadamente uma analogia com os dias de Noé (vv. 37-39), e esta analogia é hermeneuticamente determinante. No dilúvio, quem foi "levado"? Os ímpios foram "levados" (arrastados) para a morte. Noé e sua família, os justos, foram deixados para herdar a terra renovada.

A lógica analógica é inescapável: "Como foi nos dias de Noé, assim será na vinda do Filho do Homem" (v. 37). Se Jesus quisesse que compreendêssemos o oposto do padrão noético, certamente teria esclarecido tal inversão, mas não o fez.

A Confirmação Lucana Definitiva

Lucas 17:37 fornece a evidência contextual mais devastadora para a teoria do arrebatamento. Quando os discípulos perguntam "Onde, Senhor?" sobre os que são levados, Jesus responde: "Onde estiver o corpo, ali se ajuntarão os abutres".

Esta resposta inequivocamente aponta para morte e julgamento, não para o céu. Abutres se reúnem em torno de cadáveres, não de pessoas arrebatadas para a glória. O próprio Jesus conecta os "levados" com corpos mortos sendo devorados por aves de rapina.

A Evidência Linguística e Lexical

A análise das palavras gregas usadas por Mateus reforça a interpretação de julgamento.

1. O Verbo do Dilúvio: αἴρω (airō)
No verso 39, ao descrever o dilúvio, o texto diz que "veio o dilúvio, e os levou (ἦρεν - ēren) a todos". A palavra aqui é uma forma do verbo αἴρω (airō). A análise lexical confirma o seu sentido destrutivo neste contexto:

Léxico de Friberg: Define o uso em Mateus 24:39 como "remover à força;... arrastar como por uma inundação".

Léxico de Gingrich: Define como "levar embora, remover... arrastar/varrer em Mt 24:39".

Dicionário EDNT: Conecta o "arrastar" do dilúvio com o clamor pela morte de Jesus ("Fora com ele!"), confirmando o sentido de juízo e destruição.

Portanto, o verbo usado na analogia principal significa inequivocamente "arrastar para a destruição".

2. A Mudança para παραλαμβάνω (paralambanō)
Nos versos 40-41 ("um é levado..."), o verbo muda para παραλαμβάνω (paralambanō). Embora este verbo possa ter um sentido positivo (como em "receber junto a si"), o contexto determina o seu significado.

Uso em Contextos de Julgamento: Contrariamente ao argumento de que paralambanō é sempre positivo, ele é usado em contextos de julgamento ou hostis:

João 19:16: Pilatos "entregou" (paradidōmi, mas a ação seguinte é os soldados o levarem, paralambanō) Jesus para ser crucificado.

Mateus 4:5, 8: O diabo "levou" (paralambanō) Jesus para tentá-lo.

A mudança de verbo pode indicar uma mudança no método da remoção, não no resultado. Airō descreve a remoção passiva por um desastre natural (dilúvio), enquanto paralambanō pode descrever a remoção ativa por agentes do juízo (como anjos ou exércitos).

O Padrão Escriturístico Consistente

O padrão bíblico consistente é que os justos herdam a terra, não são removidos dela:

Salmo 37:9, 11: "Os que esperam no Senhor herdarão a terra... os mansos herdarão a terra".

Mateus 5:5: "Bem-aventurados os mansos, pois herdarão a terra".

Provérbios 2:21-22: "Os retos habitarão a terra... mas os perversos serão eliminados da terra".

Juízo por Remoção dos Ímpios

Repetidamente nas Escrituras, o julgamento divino se manifesta pela remoção dos ímpios, enquanto os justos permanecem:

Dilúvio de Noé: Ímpios removidos, justos preservados na terra.

Sodoma e Gomorra: Ímpios destruídos, Ló e família retirados para segurança, mas não para o céu.

O Contexto Escatológico de Mateus 24

Mateus 24 é primariamente escatológico, tratando dos sinais da vinda de Cristo e do fim desta era. Os eventos descritos culminarão na Grande Tribulação e na Segunda Vinda de Jesus.

"Esta Geração" Como Sinal de Preservação

Jesus afirma que "esta geração não passará até que todas estas coisas se cumpram" (v. 34). A palavra grega genea, traduzida como "geração", pode ser entendida aqui em seu sentido mais amplo de "raça" ou "povo". Portanto, Jesus estaria profetizando que o povo judeu seria preservado como um povo distinto e não seria aniquilado até que todas as profecias se cumprissem.

As Implicações Revolucionárias

Isso representa uma inversão completa da expectativa popular cristã. Ao contrário da cultura dos filmes e livros "Deixados Para Trás", a oração deveria ser: "Senhor, que eu seja deixado para trás!"

Foco Terreno do Reino

Esta interpretação se alinha com uma escatologia terrena onde o Reino de Deus se manifesta na terra renovada, não através de uma fuga para o céu. Os salvos não escapam do mundo, mas herdam o mundo transformado.

Conclusão: O Peso das Evidências Contextuais

A evidência contextual é tão forte que aponta definitivamente para julgamento:

Analogia direta com o dilúvio de Noé, onde os "levados" foram destruídos.

Confirmação explícita em Lucas 17:37 (abutres e cadáveres).

Padrão das Escrituras consistente dos justos herdando a terra e os ímpios sendo removidos.

Análise linguística que mostra como os verbos airō e paralambanō se encaixam perfeitamente em um cenário de julgamento.

A conclusão exegética responsável deve ser que Mateus 24:40-41 descreve o julgamento divino através da remoção dos ímpios, não o arrebatamento dos santos. Os que são "deixados" são os beneficiários da salvação divina, destinados a herdar a terra purificada.

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